quinta-feira, 26 de novembro de 2015

“Anarquistas expropriadores”

Cesar Maia
              
1. Da enorme quantidade de artigos sobre a ação terrorista do ‘Estado Islâmico’ contra Paris, um tema tem despertado a atenção de analistas. Não há nenhuma base religiosa efetiva dos terroristas. O Islã é usado apenas para justificar o terror e ganhar simpatia entre os 1,6 bilhões de muçulmanos. Suas fontes de financiamento, tipo sequestro, assaltos e operações no mercado clandestino de petróleo e armas ajudam a entender sua dinâmica.
              
2. Três fatos lastreiam essas análises. a) Ao contrário do mundo árabe, não há quaisquer atos e nem mesmo retórica sistemática que se dirijam contra Israel, ali ao lado. b) As Mesquitas não surgem como cenário nas imagens divulgadas nas redes pelo EI. c) Apesar de ocupar um território do tamanho da Bélgica, as ações do EI, mesmo no território da Síria ou do Iraque, não são realizadas por exército, mas por milícias.
               
3. As razões que explicam a dinâmica do EI, como a ocupação de território, desde a origem como terror individual clássico tipo Al Qaeda, devem ser buscadas com muita atenção. O fato de não ter base religiosa efetiva e não ter como objetivo organizar um Estado com suas estruturas institucionais, nos remete à história do anarquismo radical.
              
4. Os anarquistas – em nome da liberdade- orientavam as suas ações contra a propriedade e contra as estruturas de poder. Mas nunca para a tomada do poder, construindo instituições alternativas como os socialistas e comunistas. Suas ações eram efetivadas individualmente ou por pequenas milícias espalhadas, social ou sindicalmente.
              
5. Nos anos 1920 cresce um segmento anarquista radical: os “Anarquistas Expropriadores”, que adotavam métodos violentos em relação a seu fortalecimento financeiro através de assaltos, especialmente a bancos e pagadorias, e a execuções dos que consideravam os inimigos dos trabalhadores, em geral autoridades políticas e policiais. Os recursos conquistados através de “expropriações” tinham três objetivos: fazer assistência social principalmente às famílias dos seus militantes e simpatizantes, pagar advogados e financiar a sobrevivência dos milicianos em clandestinidade.

6. A pesquisa realizada por Oswaldo Bayer, jornalista e historiador argentino, “Anarquistas Expropriadores” originalmente publicado na Argentina e Uruguai e depois publicado no Brasil, conta com detalhes a dinâmica desse grupo. E destaca o anarquista espanhol Buenaventura DURRUTI, que com um pequeno grupo veio para a América Latina realizar expropriações para ter uma fase financeira. Realizaram ações desse tipo no México, em Cuba, Chile, Uruguai e Argentina.
               
7. Finalmente, Durruti migrou, no início de 1936, para participar da Guerra Civil Espanhola e se tornou o líder maior de todos os anarquistas do mundo que foram combater na Espanha. Sua ação mais destacada foi quando saiu de Aragón com 3 mil milicianos mal vestidos e expulsou um exército franquista de Madrid. Morto em novembro de 1936 por um franco-atirador, teve um funeral multitudinário em Barcelona, como herói.
               
8. Num momento como esse, de terror internacional, com um enorme desemprego juvenil no Brasil (Folha de SP, 22: a faixa etária mais afetada é a de jovens de 18 a 24 anos, entre os quais o desemprego saltou de 11,8% para 19,5% em apenas 12 meses), com grupos depredadores de violência urbana, tipo black blocs; com o narcotráfico que em vários momentos realiza ações de terror fechando lojas, incendiando veículos e executando policiais; com fronteiras flexibilizadas; com o crescimento de milícias; e com justificativas “intelectuais” para o terror tipo EI, nunca será demais ficar atento para que se evite a germinação de “anarquistas expropriadores” por aqui. 
 Título e Texto: Cesar Maia, 26-11-2015

Um comentário:

  1. Também sou da opinião de que o terrorismo muçulmano não tem base religiosa... O Alcorão é apenas uma fachada para justificar o terrorismo, ou seja: guerra aos infiéis...
    Valdemar

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