quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Cá vamos, com a graça do Senhor

Vitor Cunha
Não tem havido dia sem uma ou outra notícia do acordo, o tal que não só não é acordo como nem sequer existe além do desejo humano de explicar o desconhecido sem recorrer ao paranormal. Temos discorrido centenas de páginas sobre um assunto meramente burocrático: a forma para-legal para que uma insalubre vara de zuretas chegue ao poder, poder que considera seu por declaração de zelo pelo que é belo e justo, quer a plebe o queira – e não quer, houve eleições –, quer não queira – que não quer, houve eleições.

Leio explicações sobre o brilhantismo deste ou daquele indivíduo ligado à “esquerda”, a perpétua meretriz puérpera de todos os abusos e sagradas autocracias, e, entre os elogios às resplandecências de méritos académicos e vastos conhecimentos demonstrados na endógena máquina de afago em libertina sincronização do movimento das carruagens do comboio, percebo que, pouca-terra, pouca-terra, a ilusão vai penetrando na penumbra do túnel ávido por ritmada zoeira que lenta e continuadamente o escacha por anuência num combate perdido contra o entorpecimento.

Não há protagonistas bons na novela. Triste sina a de uma mãe que, após anos de dedicação, provimento e agasalho, encontra o filho a “unir as esquerdas”. Avancem lá com isso mas não aborreçam mais a plebe: já há muito que percebemos que os fins justificam os meios. Temos uma vidinha para viver. Saqueiem lá o que têm que saquear, só, por piedade, não nos aborreçam mais com esforços desnecessários de desconexas justificações. 
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 5-11-2015

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