Pedro Bazaliza
Por vezes vou-me questionando
sobre as razões porque nestes tempos os nossos políticos de serviço insistem na
ilusão e no vício como forma de condução dos assuntos sérios. Vejo pessoas com
cabelos brancos, engravatados, uns com ares distintos e outros a acharem-se,
professores universitários, semblantes graves, engenheiros sociais, resolutos,
ministros, doutores, especialistas, vendedores de banha da cobra,
sindicalistas, etc., a passarem sinais de que o crescimento económico é função
da dimensão do coração de quem tem poder para decretar amanhãs que cantam a
partir de um qualquer ministério. Olho para toda esta mole humana viciada,
espessa e inerte, qual pedregulho intransponível, e não consigo entender como tantos
que já deviam ter mais do que idade para ter juízo ainda aprovam e convivem com
mentiras, esquemas, infantilidades, patranhas, malícias, e outras velhacarias
ao serviço de uma quimera que não tem pernas para andar. Porquê?
Por não existir racionalidade
que explique a inconsciência que nos querem vender, creio bem que é na ilusão
que reside a explicação para o charco onde estes inúmeros batráquios chafurdam
e brincam. Na impossibilidade de conviverem com a realidade sob pena de
atraiçoarem os seus credos que falharam, os intérpretes de serviço servem-se de
qualquer margem de manobra deixada pela sensatez para tentarem salvar o seu ego
e acautelarem o tempo que lhes resta, numa clara atitude egoísta para com as
gerações futuras.
Um caso revela bem a infantilidade
de termos vendedores de ilusões como principais atores políticos. A
inconsciência com que se aceita a diminuição do investimento e a subida
acelerada dos juros com que nos financiamos por troca de benefícios imediatos
sem garantias de continuidade, bem como a abdicação em empreender uma qualquer
reforma, por mais urgente que ela seja, é prova que a tolice marca o ritmo.
Este princípio, a que usualmente na vida privada associamos a pessoas mais
vulneráveis e sem capacidade de discernimento, está em vigor na intelligentsia que
se julga.
Outro caso, o da CGD, é
revelador do mundo em que vivem os representantes de serviço. O amadorismo com
que o assunto foi conduzido e o argumentário do chefe da banda para justificar
todas as trapalhadas subsequentes diz bem sobre a impunidade reinante, aspecto
típico de quem se sente livre como um passarinho para a prática de ilusionismo
sem limites.
Temos ainda a gabarolice
patética com que o distribuidor de amendoins cantou vitória sobre o crescimento
de 1,4% para 2016 quando para um mesmo nível de crescimento em 2015 desdenhou o
número. Mais uma vez praticou “poucochinho”, o que aliás vai sendo um clássico
e bem revelador da falta de vergonha da peça. Estes contorcionismos com que se
baba permitem-lhe achar-se um príncipe da política, e o silêncio cúmplice e
agachado do resto da banda e o interesse vindo de além-fronteiras só lhe
consolida o vício. Nada que não sirva de grande inspiração aos chicos espertos
espalhados por aí.
E por fim, como aliás não
poderia deixar de ser, temos o fatal consumo interno. Num país com uma escassez
dramática de capital, endividado até ao pescoço, seja o Estado, Empresas ou
Famílias, falar em consumo interno como fator dinamizador de crescimento
económico num mercado de 10 milhões quando a taxa de poupança sobre o
rendimento disponível é de cerca de 3,5% raia a loucura. Só uma grande dose de
inconsciência não permite desafiar esta ilusão do consumo interno. Mas como é
aqui que moram os votos até na direita isto não é ainda muito bem compreendido.
Assim vai o Portugal em 2017.
Mas para que o Portugal de 2018 e seguintes dê continuidade a estas e outras
ilusões há que começar a preparar o afastamento daqueles que podem atrapalhar a
brincadeira. Não é por acaso que os órgãos institucionais menos receptivos a
entrar no jardim-de-infância como os tutelados por Teodora Cardoso e Carlos
Costa estão agora sobre escrutínio dos mais radicais da seita. Nem que para
isso se tenha de atropelar a democracia, o que receio venhamos a testemunhar.
No turbilhão natural dos
acontecimentos, a que a falta de rumo e o excesso de ilusões tratam complicar,
não vão faltar ocasiões para que se revele com mais detalhe a matéria de que é
feita esta tribo impreparada que nos pastoreia. Tudo isto é evidentemente perigoso
senão mesmo meio amalucado, e temo mais uma vez não ser com argumentos que se
altere o caminho para o precipício.
Julgava eu que pessoas
experimentadas e em lugares de responsabilidade não se exporiam a reincidir no
erro e aprenderiam com a experiência. Senão com a deles, pelo menos com a dos
outros. E nem era difícil. Bastava para isso não trazer de volta os
ilusionistas para o palco. Mas não é assim. Há qualquer coisa de psicótico em
vigor neste Portugal que impede que se aprenda com os erros e que por oposição
teima em dar constantemente luz verde ao vício.
Desde o início da década de 90
do século passado que Portugal vive no mundo de ilusão, mas parece que o
sobressalto de 2011 não foi suficiente para pôr as almas em sintonia com a
realidade. Na primeira oportunidade isso revelou-se.
Título, Imagem e Texto: Pedro Bazaliza, Convidado
Especial, Corta-fitas, 8-3-2017
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