segunda-feira, 6 de março de 2017

[Aparecido rasga o verbo] Ponto de partida da força centrífuga

Aparecido Raimundo de Souza

Meus carnavais (ou nossos) são sempre iguais. Só mudam os Estados da Federação onde eu e minha secretária, Carina, passamos os quatro dias dessa tresloucada agitação. Ano passado, por exemplo, fomos parar em São Paulo, terra da eterna garoa, dos engarrafamentos quilométricos, do Estádio do Pacaembu, da Avenida Paulista e dos metrôs superlotados.

No retrasado, baixamos de malas e cuias em Belo Horizonte, terra dos queijos saborosos, da Paula Fernandes, do Mercado, Central, da Rua do Amendoim, e, claro, dos fanáticos pelo Atlético Mineiro e Cruzeiro.

Este ano, a convite de amigos da redação, aportamos em Belém do Pará, famosa pelo Mangal das Graças, Estação das Docas, Círio de Nazaré, Teatro da Paz, e como não podia deixar passar em brancas nuvens, berço esplêndido da inimitável Fafá, e da esfuziante Joelma e Chimbinha (ex-Banda Calypso). Carina adorou. No primeiro dia caiu na folia, com todo o fogo da juventude que lhe corria nas veias, amontoada de flores como uma sepultura recente.


Pulou tanto, a jovem, e com tamanha disposição que, no terceiro dia, torceu o sapato e o pezinho esquerdo dela, tadinho, magoou. Em decorrência, desse inesperado incidente, precisou se recolher, repousando, no hotel, vendo as coisas da sacada da varanda, com os dedinhos enfaixados.

Com certeza esse incidente, praga jogada ao vento pela dona senhora Rouboussett, depois de ter levado um chute no meio da bunda do Michel Jackson Temer, numa entrevista que nos concedeu em seu apartamento funcional. Carina adotou a fantasia galhofeira da Dilma Lula lá, lá e nós, como sempre, macacos velhos, passamos o ferro na velha e, uma vez mais, saímos pelas ruas e becos de Belém travestidos de palhaços.

Já nos acostumamos a ser bufões. Nos sentimos assim, um bocadinho povo. No fundo, senhoras e senhores, nos vemos como essa gentalha. Sem eira nem beira, a mendigar, de pires nas mãos, nas sinaleiras e esquinas dessas metrópoles repletas de sinagogas, igrejas, bispos, padres, pastores e pontos de encontros mundanos.

E, como tais, apessoados em perfeitos caricatos, com narizes vermelhos, rostos pintados de verde, amarelo, azul e branco, camisas remendadas nas costas, com os dizeres positivistas dessa massa de desvalidos, “desordem e retrocesso”, lá fomos nós, sorridentes, calças largas, à moda Carequinha -, sapatos furados -, de pobretões de favelas de periferias. Representamos, com graça, zelo e leveza, os jocosos “Manés” de todos os dias.

Somos mais: igualmente escapamos do formal. Pulamos com alegria nos blocos de rua, travestido nos “Zés Com Fome”; nos “Assalariados”; nos “Infelizes” das noites infindáveis do SUS; Sistema Único Sucateado; nos coitados dos “Barnabés”; nos “Aposentados” tomando um suador tremendo nas filas dos bancos em busca das suas aposentadorias minguadas. Cada dia nos depravamos num carecido criado pela vida omissa; apagada; órfã da sorte. 

São nesses momentos do reinado de Momo, atrelado ao hilário da coroa da promiscuidade que ele carrega na cabeça, que nos sentimos realmente os bobos da corte bem desgraçado que somos. Os “Excluídos” dessa recreação de parasitas, de vândalos, de hipócritas e bandidos da pior espécie.

E, como o travesso Waldemar Seyssel o saudoso Arrelia, somos felizes.  Mostramos, com nossos trejeitos, avenidas afora, ora de Bozo, ou de Espirro, ora de Torresmo ou Atchim, sem medos e receios, sem patatís e patatás, nossos queixumes, lamúrias, desejos e indignações, respingadas ao molho em forma do suor apimentado pela falta de vergonha dos que estão no poder. 


Levamos, pois, com nosso carnaval, às “Marias sem lar e as Pedintes de todo o sempre”, em meio aos festejos, guindadas aos retratos vivos e sem retoques, das tantas e quantas torres de babel e suas balburdias, legados pelos nossos melhores representantes, ao tempo que fazemos mil traquinagens, para agradar os bens nascidos, usando, claro, o gigantesco picadeiro desse circo enorme que batizamos com o pomposo nome de Brasil.
                                                          
                                                          ***

Pois bem. Último dia em Belém saímos para as ruas sozinhos. Quando retornamos da algazarra, tarde da noite, topamos com a Carina, os pés para cima, olhos sem piscar, na televisão, camaliosa e assobrerjética. Nessas horas, ela enfatiza que “somos dois loucos varridos”.  Sorrimos a essas palavras, que tanto para ela, como para nós, caem, em meio à fuça, como tapinhas dados com luvas de pelica. Oxe!

Mais alienado e demente que nós, mais mentecapto e sem juízo, deve ter sido aquele baiano nascido em Ilhéus, Jorge Amado, pai da Gabriela e Dona Flor, que ficou famoso quando ainda nem éramos nada nas barrigas de nossas respectivas mamães.

Foi dele, Jorge, a ideia estapafúrdica de fazer dessa nação sem fronteiras, ou melhor, de transformar essa terra de pangarés, jumentos e espertalhões da pior espécie, no verdadeiro “País do Carnaval”.

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Título e texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista, Belém do Pará, 5-3-2017

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