Rui Verde
Por estes dias, o MPLA
recuperou a voz do seu fundador e primeiro presidente da República de Angola,
Agostinho Neto, que causticava os seus compatriotas por estarem permanentemente dependentes de Portugal.
Alertava o Dr. Neto:
“Há muitos dos nossos compatriotas que estão sempre a sonhar com umas feriazinhas em Portugal. E quando não têm direito a férias, querem ir comprar isto ou aquilo.
Para passar férias (…), temos boas terras no Huambo, na Huíla, em Moçâmedes, em Malanje.
Temos, no nosso país, um clima admirável.
E em Moçâmedes também há uvas, também há azeitonas, também há maçãs.
Não é preciso ir a Portugal para comer maçãs!
Aqui, em Angola, temos de tudo!”
“Há muitos dos nossos compatriotas que estão sempre a sonhar com umas feriazinhas em Portugal. E quando não têm direito a férias, querem ir comprar isto ou aquilo.
Para passar férias (…), temos boas terras no Huambo, na Huíla, em Moçâmedes, em Malanje.
Temos, no nosso país, um clima admirável.
E em Moçâmedes também há uvas, também há azeitonas, também há maçãs.
Não é preciso ir a Portugal para comer maçãs!
Aqui, em Angola, temos de tudo!”
Dizia bem o líder máximo do
MPLA: em Angola há de tudo. Não há é nada para os cidadãos angolanos, graças ao
excelente trabalho dos herdeiros políticos de Neto.
Não se percebe por que o MPLA
está agora a recuperar as palavras do seu falecido líder, tanto mais que — com
é bem notório — os atuais dirigentes do partido não as têm em consideração.
Hoje, as elites dirigentes angolanas são luso-dependentes.
Quantas casas compraram, em
Portugal, Manuel Vicente, Kopelipa, Pitra Neto? Que altos quadros angolanos não
têm uma segunda casa em Portugal, onde vão passar férias, ou (benditos sejam!)
usufruir de longos e tórridos fins-de-semana com as amantes?
De Isabel dos Santos todos
sabemos: ela comprou edifícios, casas e empresas em Portugal. E tornou a
Sonangol uma coutada dos gestores portugueses, que ali vão aplicar as receitas
que falharam em Portugal.
E quanto ao sucessor do
presidente Neto, o camarada José Eduardo dos Santos?
Em 38 anos de poder, já alguém
ouviu falar das férias que o presidente da República passou numa província de
Angola? Usufruiu ele dos bons ares do Huambo? Apreciou as vistas de Lubango,
uma das belas cidades de Angola? Banhou-se nas águas cálidas do Namibe
(ex-Moçâmedes), ou descansou nas margens do rio Kwanza? Pois é, nada. Na
realidade, até o gerador do presidente é mantido por um técnico português…
Nesse aspecto, a independência
conduzida pelo MPLA travestiu-se num complexo colonial inultrapassado. O
partido continua a necessitar da antiga potência colonial para tudo: para fazer
leis, para reestruturar empresas, para tratar da saúde, para descobrir modelos
de negócio. Passados todos estes anos, apenas mudaram umas quantas caras — as
dos governadores portugueses — pelas dos governantes angolanos, mas a
dependência aumentou.
E é isso que explica o barulho
que se ouve em Angola quando algo corre mal em Portugal. A elite dirigente
começa a ver a “vida a andar para trás”, com medo de perder as suas casas, os
seus carros de luxo, os seus depósitos bancários. A elite angolana depende
totalmente de Portugal.
E as uvas, as azeitonas e as
maçãs do Namibe, estão à venda em Luanda? Abundam no Candando de Isabel dos
Santos? Pois é, fizeram aquele foguetão [Mausoléu] estranho para o camarada
Agostinho Neto, mas levaram-no tão alto, que deixaram de lhe ouvir as palavras.
Infelizmente, as maçãs que se
encontram em Luanda são as maçãs importadas e as podres das lixeiras no meio
das ruas, e não as saborosas maçãs do Namibe.
Título, Imagem e Texto: Rui Verde, Maka Angola, 4-3-2017
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