domingo, 8 de outubro de 2017

[Para que servem as borboletas?] Ser espiritual e pessoal...

Valdemar Habitzreuter

Um ser espiritual caracteriza-se pela inteligência, vontade e liberdade. O ser humano tem essas características; dizemos, dessa maneira, que é uma pessoa. Ao longo da História da civilização humana, a cultura é o legado espiritual dos seres humanos; daí a política, as artes, as religiões, etc., etc., etc... Nenhum outro ser vivente produz cultura...

Ontologicamente falando, o mundo objetivo é contingente: tudo o que existe poderia não existir; e isso extensivo também ao ser humano. Mas cá estamos nós belos e formosos destacando-nos de outros entes pela inteligência.

A quê ou a quem atribuir essa inteligência? Desde os primórdios da Filosofia racional com os gregos, procurou-se decifrar este enigma. Aristóteles foi um deles ao averiguar que o ser humano tem que retroceder ao infinito para encontrar a causa de sua origem e de todas as coisas, e como isso é impossível teve que estabelecer um stop e dizer: deve haver um “Último Motor” que é a causa dos movimentos da criação do universo. Esse “Último Motor”, segundo o filósofo, é autocontemplação ininterrupta e pura de si mesmo, e diz-se, portanto, que é Inteligência pura. Quer dizer, Aristóteles partiu da inteligência humana para estabelecer uma Inteligência Primeira e Absoluta donde provem nossa inteligência e tudo o mais.

Tomás de Aquino, o filósofo cristão que sistematizou e alicerçou filosoficamente, por assim, dizer a teologia católica, aproveitou-se do argumento de Aristóteles e estabeleceu as suas famosas cinco vias (não as reproduzirei aqui) para provar a existência de Deus; também nos moldes da observação dos fenômenos naturais que a inteligência percebe. Tomás, também como Aristóteles, encontra Deus de baixo para cima: deve haver uma Causa Primeira ou Última para nossa existência e para estas coisas que nos circundam.

Mas... e se quisermos partir de cima para baixo? Primeiro provar que Deus existe sem o intermédio das coisas existentes que percebemos e que exigem uma remontagem infinita de causas para logo perceber que é preciso decretar um limite através de uma Causa primeira?

Pois é, essa alternativa podemos tentar estabelecer... Sabemos que tudo o que existe está inserido num Todo Absoluto, na dimensão absoluta do Ser; o Ser abarca tudo o que existe. O Ser aqui é considerado como Ser em si e em seu todo; isto é, do Ser em si já temos uma pré-compreensão, que intuitivamente - a priori - já nos vem em pensamento e que é coextensivo ao todo objetivo do Universo.

Temos de admitir, portanto, que esta dimensão absoluta do Ser faz-se necessária para que o mundo exista. Não temos a inteligibilidade de perceber tão somente o Ser em si, é no seu todo que ele se torna inteligível. Quando se diz: ‘o Ser em si e em seu todo’, admite-se uma bidimensionalidade do Ser; isto é: há a dimensão necessária do Ser Absoluto, e há a dimensão contingente do Ser Absoluto. A dimensão necessária do Ser Absoluto é o seio onde acontece o movimento criador, ou seja, a dimensão contingente do Ser Absoluto, que é a criação e perpetuação do Universo.

No entanto, o ser humano, como possui inteligibilidade concernente ao Ser Absoluto necessário que o cria, parece estar acima ao seu criador se a este não se atribuísse também inteligência, vontade e liberdade. Daí poder-se introduzir então o Deus do cristianismo como Pessoa e o Criador do Universo...
Bom Domingo a todos - dies domini!
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 8-10-2017

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2 comentários:

  1. Não vou contestar nem desaprovar apenas pensar.
    Sempre pensamos na teoria do todo ou do tudo.
    Jamais pensamos que o todo ou o tudo pode ter sido criado do nada.
    Depois descobrimos que o nada não existe.
    Por isso colocamos alguém que conseguiu fazer o todo e o tudo do nada.
    Porque não aceitar que o Universo é auto suficiente?
    Que não é um ser inteligente, mas autoconsistente, o motocontínuo da natureza é cósmico, seria autopreservável sem a intervenção humana.
    O Universo independe do tempo são ciclos.
    Tempo é uma variável humana.
    Massa e velocidade são outros parâmetros humanos.
    O universo é autoreciclável.
    O homem tenta descobrir que ser fez o primeiro buraco negro, imagina dimensões, e acha que pode voltar ao passado e nunca imagina as destruições futuras que faz a si mesmo.
    No final a natureza tenta curar-se, esta cura é apocalíptica.
    Jamais destruiremos o planeta, já está programada sua destruição, será engolido pelo sol, a terra é apenas alimento estelar.
    Nós procuramos outro planeta para sobreviver.
    Poderíamos fazer isso sem destruir o que vivemos.
    A palavra DEUS é muito complexa, cada um acredita no seu, ser o verdadeiro.
    Enquanto tentamos destruir o verdadeiro, a natureza.
    Se houvesse outras civilizações nas cercanias, estaríamos tentando destruí-la ou viceversa.
    O homem não vive sem ser o estabelecimento do status quo de líder.
    Subjuga mas não quer ser subjugado.
    Realmente em termos universais não existe o FIM, apenas a reciclagem, ou o recomeço de tudo pelo nada.
    Nossas mentes não existem em almas e espíritos, se não escrevermos o que pensamos, se outros seres humanos não reproduzirem o que pensamos, se tornará vazio.
    O vazio não pode ser reproduzido, mas será preenchido por outras mentes pensantes.
    Somos humanos e parte intrínseca desse processo.
    Somos universo...
    fui...


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    Respostas
    1. Vanderlei, sempre é gostoso ler seus comentários, há sempre algo a aprender...
      Obrigado!
      Valdemar

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