Valdemar Habitzreuter
Um ser espiritual
caracteriza-se pela inteligência, vontade e liberdade. O ser humano tem essas
características; dizemos, dessa maneira, que é uma pessoa. Ao longo da História
da civilização humana, a cultura é o legado espiritual dos seres humanos; daí a
política, as artes, as religiões, etc., etc., etc... Nenhum outro ser vivente
produz cultura...
Ontologicamente falando, o
mundo objetivo é contingente: tudo o que existe poderia não existir; e isso
extensivo também ao ser humano. Mas cá estamos nós belos e formosos
destacando-nos de outros entes pela inteligência.
A quê ou a quem atribuir essa
inteligência? Desde os primórdios da Filosofia racional com os gregos,
procurou-se decifrar este enigma. Aristóteles foi um deles ao averiguar que o
ser humano tem que retroceder ao infinito para encontrar a causa de sua origem
e de todas as coisas, e como isso é impossível teve que estabelecer um stop e
dizer: deve haver um “Último Motor” que é a causa dos movimentos da criação do
universo. Esse “Último Motor”, segundo o filósofo, é autocontemplação
ininterrupta e pura de si mesmo, e diz-se, portanto, que é Inteligência pura.
Quer dizer, Aristóteles partiu da inteligência humana para estabelecer uma
Inteligência Primeira e Absoluta donde provem nossa inteligência e tudo o mais.
Tomás de Aquino, o filósofo
cristão que sistematizou e alicerçou filosoficamente, por assim, dizer a
teologia católica, aproveitou-se do argumento de Aristóteles e estabeleceu as
suas famosas cinco vias (não as reproduzirei aqui) para provar a existência de
Deus; também nos moldes da observação dos fenômenos naturais que a inteligência
percebe. Tomás, também como Aristóteles, encontra Deus de baixo para cima: deve
haver uma Causa Primeira ou Última para nossa existência e para estas coisas que
nos circundam.
Mas... e se quisermos partir
de cima para baixo? Primeiro provar que Deus existe sem o intermédio das coisas
existentes que percebemos e que exigem uma remontagem infinita de causas para
logo perceber que é preciso decretar um limite através de uma Causa primeira?
Pois é, essa alternativa
podemos tentar estabelecer... Sabemos que tudo o que existe está inserido num
Todo Absoluto, na dimensão absoluta do Ser; o Ser abarca tudo o que existe. O
Ser aqui é considerado como Ser em si e em seu todo; isto é, do Ser em si já
temos uma pré-compreensão, que intuitivamente - a priori - já nos vem em
pensamento e que é coextensivo ao todo objetivo do Universo.
Temos de admitir, portanto,
que esta dimensão absoluta do Ser faz-se necessária para que o mundo exista.
Não temos a inteligibilidade de perceber tão somente o Ser em si, é no seu todo
que ele se torna inteligível. Quando se diz: ‘o Ser em si e em seu todo’,
admite-se uma bidimensionalidade do Ser; isto é: há a dimensão necessária do
Ser Absoluto, e há a dimensão contingente do Ser Absoluto. A dimensão
necessária do Ser Absoluto é o seio onde acontece o movimento criador, ou seja,
a dimensão contingente do Ser Absoluto, que é a criação e perpetuação do
Universo.
No entanto, o ser humano, como
possui inteligibilidade concernente ao Ser Absoluto necessário que o cria,
parece estar acima ao seu criador se a este não se atribuísse também
inteligência, vontade e liberdade. Daí poder-se introduzir então o Deus do
cristianismo como Pessoa e o Criador do Universo...
Bom Domingo a todos - dies
domini!
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 8-10-2017
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Não vou contestar nem desaprovar apenas pensar.
ResponderExcluirSempre pensamos na teoria do todo ou do tudo.
Jamais pensamos que o todo ou o tudo pode ter sido criado do nada.
Depois descobrimos que o nada não existe.
Por isso colocamos alguém que conseguiu fazer o todo e o tudo do nada.
Porque não aceitar que o Universo é auto suficiente?
Que não é um ser inteligente, mas autoconsistente, o motocontínuo da natureza é cósmico, seria autopreservável sem a intervenção humana.
O Universo independe do tempo são ciclos.
Tempo é uma variável humana.
Massa e velocidade são outros parâmetros humanos.
O universo é autoreciclável.
O homem tenta descobrir que ser fez o primeiro buraco negro, imagina dimensões, e acha que pode voltar ao passado e nunca imagina as destruições futuras que faz a si mesmo.
No final a natureza tenta curar-se, esta cura é apocalíptica.
Jamais destruiremos o planeta, já está programada sua destruição, será engolido pelo sol, a terra é apenas alimento estelar.
Nós procuramos outro planeta para sobreviver.
Poderíamos fazer isso sem destruir o que vivemos.
A palavra DEUS é muito complexa, cada um acredita no seu, ser o verdadeiro.
Enquanto tentamos destruir o verdadeiro, a natureza.
Se houvesse outras civilizações nas cercanias, estaríamos tentando destruí-la ou viceversa.
O homem não vive sem ser o estabelecimento do status quo de líder.
Subjuga mas não quer ser subjugado.
Realmente em termos universais não existe o FIM, apenas a reciclagem, ou o recomeço de tudo pelo nada.
Nossas mentes não existem em almas e espíritos, se não escrevermos o que pensamos, se outros seres humanos não reproduzirem o que pensamos, se tornará vazio.
O vazio não pode ser reproduzido, mas será preenchido por outras mentes pensantes.
Somos humanos e parte intrínseca desse processo.
Somos universo...
fui...
Vanderlei, sempre é gostoso ler seus comentários, há sempre algo a aprender...
ExcluirObrigado!
Valdemar