Maria Lucia Victor Barbosa
O oportunismo partidário e a
descrença popular com relação aos políticos, não constituem novidade. Apenas se
acentuaram e ampliaram atualmente. Porém, nada mudou em essência, como analisei
em meu livro O Voto da Pobreza e a
Pobreza do Voto – A Ética da Malandragem.
Prova disso foi a pesquisa de
opinião pública, realizada entre 17 de junho a 16 de julho de 1985, feita pela
Toledo & Associados. O relatório da pesquisa concluiu que: “a imagem do
político estava desacreditada e vinculada à corrupção, empreguismo, promessas
não cumpridas, falta de seriedade e incompetência”. Entre os vários resultados
obtidos apareciam os seguintes: 42% dos entrevistados afirmaram não acreditar
em políticos e 57% desprezaram o discurso político, seja em palanques, seja na
mídia.
Se o desencanto com os
políticos vem de longe, os partidos nunca foram levados em conta pelo povo, que
voto mesmo é no candidato. Mesmo porque, especialmente de 1986 para cá, o
oportunismo partidário, a ausência de qualquer ideologia, princípio ou disciplina
por parte dos partidos políticos, só fez aumentar. E se nossos partidos não
podem deixar de guardar as características brasileiras como o predomínio do
jeitinho tão conhecido, esses clubes de interesses fazem lembrar o tipo catch-all-parties ou partidos
agarra-tudo, surgidos na Europa na década de sessenta. Essas agremiações tinham
como objetivo captar o máximo de votos, atraindo eleitores diversos ou até
contraditórios, não assumiam uma ideologia precisa e eram dirigidos por grupos
que não saíam das bases.
Tal evolução, que transformou
os partidos de massa europeus em partidos agarra-tudo, na Inglaterra atingiu,
inclusive, o Labour Party. Para enfrentar os conservadores, este partido
originalmente operário penetrou nos meios sociais mais diversos e hoje sua
clientela eleitoral apresenta caráter heterogêneo, com defecção de parte dos
trabalhadores, apoio das classes médias e adesão crescente de quadros
intelectuais. Traços que lembram o PT, exceto pelo nível de corrupção e
oportunismo em que mergulhou esse partido, apresentado no passado como
ideológico e representante da pureza das massas operárias, mas que na realidade
é um misto de máfia e seita.
O impeachment de Dilma
Rousseff, preposta de Lula na presidência da República, foi obra de milhões de
brasileiros que foram às ruas gritar: “fora Dilma”, “fora Lula”, fora PT”. De
lá para cá, o enfraquecimento do PT se tornou evidente em vários momentos,
inclusive, nas eleições municipais quando os petistas perderam mais de 60% de
suas prefeituras. E esse enfraquecimento atingiu seu auge com a prisão do chefe
e puxador de votos, Lula da Silva. Algo impensável há pouco tempo atrás e que
se deu graças a coragem e a competência do juiz Sérgio Moro, o qual foi seguido
por alguns magistrados honrados e eficientes, de outras instâncias judiciais.
Perdidos e aturdidos, os
petistas buscam soluções mirabolantes e um tanto ridículas. Achincalham e
ameaçam a Justiça, enquanto os advogados de Lula da Silva fazem infindáveis
apelações ao Poder Judiciário.
Frustrados em suas tentativas
de libertar o chefe, o PT humilha-se diante de Ciro Gomes, tido como de
esquerda, porque no Brasil é chique ser de esquerda. Nem o PDT nem Ciro Gomes
são de esquerda. Aliás, o próprio PT, na definição do cientista político
Leôncio Martins Rodrigues, “é uma joint venture marxista-cristã, resultante de
várias correntes ideológicas, delas a católica e a marxista as mais
importantes”.
Quanto a Ciro Gomes, usa
palavreado contundentes, tem atitudes grosseiras, cita dados inconsistentes,
faz agrados à dita esquerda requentada e ao mercado, quer um vice magnata.
Nesses aspectos, o populista Gomes veste a fantasia modelo Lula e por isso foi
procurado pelo PT, não por ser de esquerda, mas por fazer tipo que lembra o
encarcerado.
Diversificando, petistas e
artistas dos mais devotos, incluindo o irmão leigo, Frei Betto, assinaram
manifesto de apoio à candidatura de Guilherme Boulos e sua vice Sônia
Guajajara, algo que aparentemente contraria a afirmação transmitida pelo
encarcerado e inelegível Lula, de que o candidato é ele.
Boulos, ao que tudo indica até
agora, apresenta como plataforma eleitoral para resolver os complexos problemas
brasileiros a invasão de imóveis, algo bastante rendoso para os espertos que
lideram também esse negócio, como se viu quando recentemente desabou um prédio
em São Paulo onde viviam os chamados sem-teto sob a férrea disciplina de um
mandante. De qualquer modo, se o povo
descrê dos partidos e dos políticos, existe uma crença que é a mais forte: a
esperança. Quem conseguir transmiti-la, vencerá.
Título e Texto: Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
26-5-2018
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