domingo, 20 de janeiro de 2019

[Daqui e Dali] Isaura Correia Santos

Uma grande senhora do Alentejo

Humberto Pinho da Silva


Certo dia, Isaura Correia Santos, indignada com certa articulista, que escrevera: “As mães portuguesas oferecem os filhos para defenderem a Pátria”, resolveu publicar crônica, afirmando que era mãe e portuguesa, e não “oferecia” o filho para ir para a guerra.

Mal sabia a ilustre escritora que o desabafo iria desencadear enxurrada de impropérios.

Foi enxovalhada, e houve até quem rebuscasse a sua vida particular, descobrindo, no passado, motivo para a insultar, como mulher e cidadã.

Isaura Correia Santos nasceu a 1914, em Alegrete, em plena planície alentejana. Ainda menina (17 anos,) casou com o pintor Abel Santos. Cedo se dedicou às letras, tornando-se conhecida como autora de livros para a infância.


Suas crônicas, sempre interessantes e incisivas, apareciam, principalmente, em “O Comércio do Porto” e  “República”.

Foi colaboradora da BBC. Notável conferencista. O Governador do Texas (EUA), concedeu-lhe o honroso título de cidadã honorária desse Estado Americano.

Nas tardes de sábado reunia na sua casa, na Praça da Galiza, no Porto, intelectuais e amigos.

O chá, que servia em xícaras de fina porcelana, todas diferentes, mas todas de grande beleza, ficou famoso no meio artístico portuense.

Uma manhã, ao regressar de Soutelinho (Póvoa do Varzim,) sofreu grave acidente.

Visitei-a na Ordem da Trindade. Recebeu-me a Filó - empregada e amiga, que nunca a abandonou.

Isaura Correia Santos falou-me do acidente e da forma carinhosa como as irmãs (freiras) a tratavam.

Disse-me, então, à puridade: “Os olhos, agora, começam a ver o interior. Compreendo melhor a Vida e Seus mistérios…”

Admirava o Padre Cruz, e confiava em Deus, apesar da pouca fé que possuía.

Noutra ocasião, afirmou:
“Este acidente fez-me compreender o que nunca havia conseguido alcançar. Tenho rezado muito…”

A escritora, que se notabilizou com a obra: “O Senhor Sabe Tudo Contou”, recebeu o prêmio ‘Maria Amália Vaz de Carvalho’.


Numa manhã fria de fevereiro do ano de 1989, fui visitar Frei Martinho Manta. Logo que me viu, disse-me, compungido:
“Sabe quem morreu?! … Uma grande Senhora do meu Alentejo: a escritora Isaura Correia Santos! …”

Antes de falecer, confidenciou, na Ordem do Carmo (onde estava hospitalizada,) a amiga que não receava morrer – até desejava, – visto agora acreditar numa outra vida, e principalmente na misericórdia divina.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, março de 2014

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