Humberto Pinho
da Silva
Tinha chegado a São Paulo em véspera de Natal. A
tia Helena, convidara-me para passar a consoada, com ela e com a família. Cheguei
a Alto de Pinheiros, moído por longa e maçadora viagem, às primeiras horas do
dia 24. Era uma manhã inundada de Sol doirado e ameno. A pauliceia acabara de
acordar. Levava, entre as prendas natalícias, majestoso Bolo-Rei.
Eu sabia que o avô Alberto, que abalara para o
Brasil, em meados do século passado, havia de gostar de ver, na mesa, o
tradicional bolo português.
Ao lado do panetone, que já se encontrava sobre a
toalha adamascada, que cobria a mesa, coloquei o Bolo-Rei, repleto de
apetitosas frutas cristalizadas.
Impaciente, aguardei a chegada do avô; e foi com
entusiástica expectativa, que esperei a reação. Entrou ligeiramente curvado, na
sala medianamente iluminada. O sol matinal, velado pela espessa cortina de
algodão que cobria a janela, que dava para o jardim, mal conseguia penetrar. Ao
ver o Bolo-Rei, perguntou-me atónito:
“Foi você que o trouxe?!”
Respondi-lhe que sim. Queria fazer-lhe uma
surpresa…
Em breve, soube, que nunca vira tal bolo na casa
de sua mãe, em Vila Nova de Gaia. Admirei-me. Desde que me conheço, sempre meus
pais adquiriram-no, dizendo-me ser bolo tradicional.
Mais tarde, para satisfazer a curiosidade,
investiguei a origem do “nosso” bolo-rei, e perante minha
desilusão, averiguei o seguinte:
O proprietário da Confeitaria Nacional, de Lisboa,
após viagem a França, nos últimos anos do século XIX, conheceu, em Paris, bolo
de vistoso aspecto, confeccionado na Festa dos Reis. Trouxe a receita. Seguindo
a tradição francesa. Confeccionou-o na véspera do Dia dos Reis, para ser comido
ainda quente.
O saboroso bolo rapidamente foi adquirido pelos
lisboetas, e chegou a ser quase imprescindível na mesa dos portugueses.
Entretanto, foi implantada a República. O nome de
“Rei” não foi aceite pelos republicanos…
Os pasteleiros não tiveram outro remédio, senão
mudar-lhe o nome. Passou a ser: “Bolo de Natal” ou “Bolo do Ano Novo”.
Com o correr dos anos, os ânimos acalmaram-se e
tornou ao seu primitivo nome.
O primeiro Bolo-rei apareceu em França,
confeccionado pelos cozinheiros do Rei Luís XVI, durante o almoço do Dia dos
Reis.
Dizem que ao apresentá-lo, na corte, pretendiam
lembrar as ofertas dos Reis Magos, ao Menino Jesus: ouro, era a côdea
brilhante; a mirra, os frutos; e o incenso, o aprazível perfume que irradiava.
Precisei que o avô Alberto ficasse espantado ao
vê-lo, para vir a saber que o tradicional bolo natalício, de português, só tem
o nome… traduzido.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, novembro de 2018
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