domingo, 25 de novembro de 2018

[Foco no fosso] Liberdade de expressão

Haroldo P. Barboza

"Política e religião não merecem discussão". Esta "máxima" deve ter sido elaborada de comum acordo entre políticos e religiosos. Se tal conceito ficar inserido na mente da população por longo tempo, eles poderão editar as normas que bem entenderem sem o receio de serem contestados. Criarão mecanismos que preservem seus interesses corporativos e o rebanho não ousará contestar tais atos com receio de serem castigados pelo "pecado" de questionar os condutores de seus destinos. Ninguém deseja ficar fora do “paraíso” depois de mudar de plano.

Efetivamente, devemos investir não só nestes assuntos como em todos os demais que influenciam nosso cotidiano e que afetam a formação de nossos herdeiros, que desejamos ver moldados no sentido de desfrutar de uma vida equilibrada e com pequenos riscos que afetem as suas felicidades. A forma de orientar os jovens dentro deste cenário cruel está cada vez mais difícil e as ideias lançadas aqui devem produzir não uma cartilha genérica, mas alguns balizadores flexíveis que darão orientação a cada família.

Como o espaço virtual é mais voltado para os versos e prosas, nada impede que os mesmos sejam calcados em temas políticos, sociais, protestos, elogios e agregados. Não perderão beleza por isto. Elogios ao céu, aos rios, às matas, aos pássaros e a outras belezas da Natureza estão perto do esgotamento. No ramo da contestação existe um deserto a ser explorado com inteligência e beleza. Dentro deste contexto editei o poema “palha no pulha” premiado em concurso literário em 2013!

Estamos numa época de pesquisa (não uma contestação gratuita) de dogmas. É um direito natural que um jovem ao receber uma mensagem de um familiar ou amigo mais idoso, pergunte "por quê?" tem de ser assim e até onde existe flexibilidade para ultrapassar a "linha" da fronteira que delimita o direito de terceiros. E temos de ter bases lógicas para tentar explicar o fato anunciado como "lei" incontestável. Não adianta gritar com a criança para ficar longe do fogão.

Ela vai ficar curiosa e um dia vai se queimar. Então, é preciso fazer uma demonstração do porquê da orientação. Aqueça seu forno por trinta segundos, coloque o braço da criança lá dentro e quando ele fizer menção de se afastar, explique porque é perigoso estar perto do equipamento. Ao invés de gritar para a criança largar a caixa de fósforos, coloque álcool dentro de uma xícara de café, risque um fósforo e mostre as consequências e como é possível eliminar um foco de incêndio usando artefatos existentes no lar. Estas são orientações que deveriam existir dentro da escola, ao invés de perderem tempo obrigando os alunos a decorarem os nomes de parentes (ainda bem que não pedem CPFs dos mesmos) do rei do Egito 800 A.C. ou dos 245 afluentes dos 25 principais rios do Brasil.

Qualquer assunto deve deixar de ser discutido quando um dos participantes começa a tender para ofensas e grosserias (normalmente por estar perdendo argumentos para sustentar sua opinião). Política e religião devem ser debatidas sim, pois são elementos que influenciam nossa vida com alto peso. Assim como educação, uso de drogas, higiene básica, alimentação, trânsito, moralidade. Tal prática traria maior experiência às comunidades (condomínios, favelas, bairros, etc.) afetadas. Mas esta prática não interessa aos detentores do podre poder para que os pagadores de impostos elevados não abram mentes e descubram por quantas dezenas de anos estão sendo enganados. 

Gostaria de ver um religioso vir a público (ou mesmo numa lista do face) se oferecer a responder algumas perguntas que sempre martelam nossas mentes (pelo menos a minha).

Por que padres não podem casar? Se a Igreja prega a união da família, o exemplo deveria vir dos que dizem isto no altar. Como o pregador pode dizer que a vida a dois é excelente se ele não pode experimentá-la? Talvez assim ele percebesse a dor de um pai que perde um filho chacinado e diminuísse sua ênfase em defender os "direitos humanos" dos bandidos presos. Nunca vi um padre ou uma ONG defender os direitos das famílias dos policiais covardemente eliminados pelos facínoras das armas de fogo. Quanto mais das famílias levadas à miséria pelos facínoras das canetas mortíferas.

Por que uma mulher não pode ser Papisa? Bispa? Logo ela, a gestora da vida e com a sensibilidade mais apurada do que a do homem, tradicionalmente bruto pelos preconceitos seculares que inibem seu desejo (quando em grupo) de chorar, regar flores, cozinhar, cuidar das unhas, etc.

Por que políticos possuem imunidades que lhes dão liberdade para cometerem irregularidades diárias? Se um empresário pode mandar um empregado embora um mês depois de contratá-lo, por que temos de esperar 4 anos para evitar que um legislador continue prejudicando a sociedade?

Plebiscito de sucesso será o que permitir expurgo no Congresso.

E finalmente, os jovens são os que mais devem participar destes questionamentos por uma razão muito simples: estão no início da jornada de vida e devem preparar a trilha de forma que sua caminhada tenha o mínimo de armadilhas. Além do mais, as regras que atenderam aos desejos de seus pais e avós, podem estar obsoletas aos seus anseios, pois sua visão de vida não tem de ser necessariamente a mesma de seus orientadores familiares que devem apenas servir de balizadores para que seus herdeiros não tropecem depois da próxima esquina da vida e saibam cuidar do cenário onde montarão suas famílias.

Nossa sociedade é um colosso. Sobrevive no fundo do poço.


Título, Ilustração e Texto (e Marcações): Haroldo P. Barboza, Rio de Janeiro, 25-11-2018

Anteriores:

10 comentários:

  1. Haroldo, adorei o primeiro parágrafo! Revolucionário!
    Por que não discutir, no sentido de trocar argumentos/debater política/religião e futebol? Só porque um bocó, que se acha engraçadinho, em vez de debater uma opinião, sai ridicularizando-a, quando não o próprio familiar/amigo...?
    Vamos trocar ideias!

    ResponderExcluir
  2. Porque se diz que estes assuntos não dá para discutir?
    Porque em todos predomina a paixão, não seguem a lógica! E qualquer tentativa de discutir , peca pela tentativa de convencimeto ao outro de que ele esta errado, de acordo com nossa opinião e o nosso entendimento. Assim, o cristão não consegue debater com o muçulmano , o esquerdista não consegue com o direitista, nem o gremista com o colorado.
    A única possibilidade de discutir estes assuntos é aceitar que o outro pode estar certo, e nós errados e aí expor nossos argumentos. Quando a paixão predomina a razão sai prejudicada. E politica, religião e futebol é antes de tudo paixão!
    Julgamos o outro pela nossa visão do assunto como se esta fosse definitiva! Tive um exemplo aqui recentemente ,quando, acordo análise pessoal, decidi não votar em ninguém , um colega teve dificuldade de debater , pois movido por paixões, via este gesto como absurdo. A razão só existirá quando for possivel provar- e eu admitirei,se isto ocorrer- que eu estava errado!
    Nestes três assuntos , nos parece tão óbvio o que é o certo , que temos dificuldade em analisar hipótese diferente. Pode e deve-se falar sobre estes assuntos , mas sempre partindo da premissa de que jamais haverá unanimidade.
    Até porque ,acordo Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra!
    Tentem começar uma discussão com um comunista , ou com um não cristão partindo da premissa que gostaria de entender - entender ,não concordar!- seu ponto de vista ! Duvido! A nossa paixão não permite!

    Paizote

    ResponderExcluir
  3. NÓS DISCUTIMOS E VIVENCIAMOS POLÍTICA TODOS OS DIAS E NOITES DE NOSSA VIDA.
    Mesmo que não queiram, fazemos-la com esposa, filhos, vizinhos, colegas de trabalho, com chatos petistas, com religiosos, com o vizinho que torce para time diferente, com os frequentadores do blogue, com os colunistas, com o gerente, faço até política para dormir no horário que gosto, na hora de fazer o almoço, com a renda familiar, com o consumo mensal.
    Fazemos nossa LDO em todos finais de ano.
    Estamos fazendo política ao discutir se devemos discutir política.
    fui...

    ResponderExcluir
  4. Meus caros,
    Eu concordaria se tivesse sido o enfoque da política como, ” filosofia de relacionamento interpessoal" o sugerido na crônica postada!
    O sentido proposto é a o da política como ciência da governança de um Estado ou Nação !
    Vide primeiro parágrafo ;. ""Política e religião não merecem discussão". Esta "máxima" deve ter sido elaborada de comum acordo entre POLÍTICOS e religiosos..." E mais adiante ;“..."pecado" de questionar os condutores de seus destinos .”
    A mim quer parecer que o termo que rege as relações sociais interdependentes ,mais adequado seria sociologia ,e não política!
    Embora ambos esbarrem , por vezes , em definições muito parecidas !
    Principalmente quando tratam do direito , da ética ou da vontade individual que pretendemos exercer em nossas relações.
    A sociológica não é do interesse apenas de sociólogos(as).
    Adequa-se à todas as áreas do convívio — “desde as relações na família até a organização das grandes empresas, e ao papel da política na sociedade e o do comportamento religioso.”
    Enquanto ao tratamos de política partidária , a restrição ao termo é o
    óbvia!
    Ao iniciarmos um debate sobre um dos três temas propostos, sem admitir antecipadamente a possibilidade de estarmos equivocados, torna-se desnecessário e inútil o debate!
    Já temos nossa posição definitiva , e tudo torna-se apenas uma tentativa de convencimento ao outro que pensa diferente !
    Debate inútil , e fora da definição primária do termo, que sería , apresentar e ouvir argumentos pesando quais são os mais consistentes para mantermos o nosso, ou mudarmos de opinião!
    Porquanto ao não admitimos uma mudança de opinião , não estaremos debatendo!
    Em religião , política ( do grego pólis) , e futebol não existem estas hipóteses!
    Costumamos resolver o impasse com uma forma, supostamente magnânima, e afirmamos que apesar das divergências respeitamos a posição do oponente, encerrando o “debate”.
    Porém nesses casos nenhum dos lados muda uma vírgula sequer, em sua opinião consolidada.
    Apenas gostaria de acrescentar que, ao invés da máxima de que não se discute política, religião ou futebol, melhor seria dizer que, nestes temas não há possibilidade de acordo .
    Sem possibilidade de acordo ,para que discutir?
    Um debate sobre os mesmos leva invariavelmente à discussão, no sentido possível ,de altercação.
    O bom senso recomenda evitar!
    E discutir religião é discutir com a fé do outro. Totalmente impossìvel!
    Futebol é a paixão , especialmente no Brasil ,que rege nossa identidade no grupo insano desta esfera.
    Enfim são todos três temas ,“paixões” , adquiridas ao longa da vida, ou da educação ,forjadas pelo meio social , das quais não pretendemos abrir mão!
    Portanto é possível discutir, (nos sentidos de brigar, altercar, desentender-se, desavir-se, indispor-se.) , e jamais visando um debate ,buscando um e outro lado a melhor opção de escolha, e pronto a mudarmos de posição se os argumentos contrários forem predominantes.

    Paizote

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Se for para definir o sentido da palavra "POLÍTICA" VAMOS À ORIGEM DA PALAVRA.
      É O CIDADÃO OU O HOMEM DA CIDADE.
      A arte de negociação para compatibilizar interesses.
      É O FAMOSO FECHAR A MÃO e o que sai por entre os dedos.
      Quanto a paixão, tenho time e não sou fanático. Quanto a partidos e políticos não aceito nada que fuja a ética e a moral.
      Quanto a religião não aceito ideologias, mas cada um que vá para o céu que imagine.
      Se deus atendesse a todos, não atenderia meus desejos, não teria tempo.
      Tempo é do que unicamente preciso.


      Excluir
  5. Rochinha, belíssimo Comentário! Comungo com Vc em 99% do Comentário. Abs.

    ResponderExcluir
  6. Podem me caracterizar como quiserem, faz parte da tal decantada democracia.
    Aliás a dita cuja inicia com " DEMO".
    Ando irritado nos últimos tempos de minha vida.
    As políticas do "CORRETO" SÃO DANOSAS.
    A MÍDIA NOTICIA:
    - 8 Bilhões de toneladas de plástico nos oceanos
    - Milhares de famintos no mundo
    - Crianças morrendo na África
    - latinos querem asilo na América
    - Muçulmanos invadem a Europa
    - Venezuelanos fogem da ditadura
    - Animais domésticos maltratados
    - Luta mundial por melhores aposentadorias e salários
    - A corrupção grassa no terceiro mundo
    - Aquecimento global
    - ETC...ETC...ETC...
    Onde se esconde o problema?
    O EGOÍSMO HUMANO É SURPREENDENTE.
    O problema somos nós.
    Nós destruímos "GAIA".
    E bilhões de pessoas querem o famoso "DEUS ME AJUDE".
    Nos proliferamos feito ratos de esgoto à procura de espaço entre baratas.
    Homens incultos fazem filhos mesmo sem poderem sustentá-los.
    Mulheres sentimentais abrem suas entranhas para qualquer amor remanescente.
    O ditadura do consumo marginaliza a juventude.
    Os ídolos fazem apologia às drogas.
    A mídia nos coloca como "Judas" traidores de da caridade.
    Dividem os povos em castas.
    Falam de "hinduísmo" sem saber como eles vivem.
    Morrem em eventos naturais aos borbotões.
    Assoreiam rios sem planejamento, sem saber que os matam.
    Usam às aguas tratadas para lavarem carros e calçadas.
    Ainda há os idiotas do saudável.
    Anos atrás comentei que os esportes, as olimpíadas são lutas de raças, lutas de gueto que o mundo sobeja em paixões para os estúpidos.
    Roma construiu um "COLISEU" para as turbas ignorantes.
    Vivemos um coliseu moderno, basta ver as notícias e os vídeofilmes destilados nas TVs e jornais.
    Saturam-nos com enterros comoventes e parentes em comoção emocionados.
    Que executivo, legislativo ou judiciário no mundo preocupa-se?
    A violência dos filmes hoje é real no cotidiano.
    O mundo sempre foi violento.
    O símbolo da paz é um animal que produz mais pragas que os ratos.
    Os anéis olímpicos nunca foram unidos.
    Nós nunca nos preocupamos com os problemas dos outros.
    Eles que se explodam no bom conceito.
    Enquanto os humanos fazem sexo sem responsabilidade é a natureza que se fode.
    A lei do retorno funciona, então calem-se.
    fui...



    ResponderExcluir
  7. Tomando como exemplo o futebol.
    Um debate não deve ser aberto para definirmos se o time AA é o melhor de todos ou se o time BB é o pior. Ou se o jogador XX é mais habilidoso que YY.
    As questões a serem elencadas em busca de aprovação por mais de 85% dos interessados numa competição atraente são as demandas que cada grupo de torcedores coloca como prioridade e a que o faz enfrentar um dia chuvoso para ver seu time dentro do estádio. São centenas de itens que em sendo mal observados, espantam os torcedores adultos, que por sua vez deixam de levar seus herdeiros aos campos. Estádios desconfortáveis (para torcedores, jornalistas, atletas, juízes), preços inadequados, regulamentos embrulhados, transportes deficitários, violência não combatida de forma séria, horários impróprios, normas cheias de brechas (no que tange a disciplina dos jogadores). E outras dezenas menos letais.
    Fui diretor de futebol num clube social durante 3 anos. Quase 100 atletas que apreciavam jogar no melhor campo a partir das 8:00 horas (no verão, jogar a partir das 10:00 é muito desgastante). Alguns chegavam antes da abertura dos portões do clube, às 7:00 horas. Criei um mecanismo de seleção aprovado por 93 participantes. Um atleta chegando até 7:45 horas poderia jogar antes de outro que havia chegado às 7:15 horas. Três desafetos abandonaram o clube. Eram partidários do caos.
    Quem gerencia futebol amador, se quiser, mando-lhe o modelo por e-mail.

    ResponderExcluir
  8. Um penúltimo comentário:
    - "Por mais que queiramos salvar todo mundo, chega uma hora em que precisamos abandonar os feridos para sobreviver".(Rochinha)
    fui...

    ResponderExcluir

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-