O lamentável acidente da
queda de base do viaduto da rodovia Marginal Pinheiros (SP – 2018), nada mais retrata do que o
“acordo” das autoridades (?) com as entidades (que patrocinam suas campanhas
eleitorais) que manipulam as vidas das populações em todos os estados deste
país. Obras que foram erguidas antes de 1970 (e as recentes também) fora das
especificações, sem a manutenção adequada (devido aos impostos desviados),
pressa da inauguração antes das eleições e sem as fiscalizações rígidas, hoje
se tornam armadilhas letais contra a população que transita e habita dentro
destas áreas.
Dentro deste rastro
seguem-se as pequenas empresas que são abertas antes das demoradas autorizações
e acabam funcionando de forma inadequada, sem segurança para seus funcionários,
clientes e vizinhos em volta. Sabem que a fiscalização é falha e a Lei (?) é
frouxa. Em caso de um evento sinistro, fecham a dita cuja, criam uma nova razão
social e abrem um negócio similar em outro bairro ou Estado.
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Foto: Mister Shadow/ASI/Estadão Conteúdo |
Podemos recordar fatos
trágicos sem ordem cronológica que ceifaram dezenas de vidas pelo descaso dos responsáveis, pela falta de
fiscalização adequada e pela ausência de penalidades exemplares.
Rompimento da represa de
Mariana (MG). Queda das vigas do Rodoanel (SP). Explosão de uma “fábrica” de
fogos de artifícios em bairro residencial de Santo André (SP) com 3 vítimas
fatais, dezenas de outros feridos e várias residências abaladas pela onda de
choque. Desabamento da represa do Algodão (PI), queda do teto da igreja
Renascer (SP), obras do metrô com 8 mortes (SP), queda da arquibancada do
Estádio da Fonte Nova (BA), queda do viaduto Paulo de Frontin (RJ), explosão em
Santo Antonio de Jesus (BA *) queda do Palace II (RJ), incêndio do Joelma (SP)
e do Serrador (RJ), afundamento do Bateau Mouche (RJ), queda da Gameleira (MG),
plataforma P36 da Petrobras (RJ), rompimento do emissário de Ipanema (RJ), das
barragens de lama (MG), de pontes, estradas, escolas e hospitais públicos,
encostas de morros acumulando favelas (BR) e aviões que poderiam ter sido
evitadas (BR). Fora outras dezenas de tragédias espalhadas pelo país e nem
sempre destacadas na imprensa controlada.
(*) O responsável por esta
tragédia em 1998 está solto e abriu novo negócio de manuseio de explosivos na
mesma localidade. Eita terra boa!
O viaduto (dois andares) que
vai do Joá até o túnel Zuzu Angel no RJ, exibe dezenas de pontos com ferrugens
em suas estruturas. Uma Engenheira denunciou isto na imprensa, mas as
providências cabíveis (manutenção) não foram tomadas de forma adequada. É um
grande candidato a desabar nos próximos 10 anos.
Todos estes fatos
acontecem por duas razões básicas:
1 - a corrupção que começa
no topo e já contaminou o nível mais baixo de qualquer construção ou prestação
de serviço;
2 – a impunidade que não
castiga os mentores e executores destas picaretagens.
A fórmula de manipulação
das verbas públicas basicamente é esta:
Preço real de uma
obra/serviço: R$ Y milhões (ou bilhões).
Preço a ser faturado (sai
de nossos impostos) em nota “suplementar”: R$ 5Y MI.
Distribuição do excedente (R$
4Y MI):
R$ 2Y MI para os que
assinam o contrato. Com direito a coquetel e aparição na imprensa, anunciando o
“novo marco da cidade”.
R$ Y/5 MI para entidades
“esquecerem” pendências e fiscais fecharem os olhos em relação às
anormalidades, principalmente as relativas à segurança dos operários e futuros
usuários.
R$ Y/5 MI para que membros
do judiciário sabotem possíveis processos indenizatórios mais lentos do que a
média atual que é de 15 anos.
R$ Y/5 MI para “acalmar” donos
de jornais não darem ênfase a algum fato negativo descoberto oriundo das
mutretas montadas.
R$ Y/5 MI para os
responsáveis diretos (engenheiros, por exemplo) não fazerem alarde pelo uso de
material de 3ª. categoria no lugar do previsto em contrato nem da redução do
tempo de secagem do concreto.
Para a obra sobrou o valor
inicial: R$ Y MI.
Como não foi prevista uma
“cota” para a turma dos explorados lá de baixo (capatazes, motoristas,
operários, cozinheiros, grupo da limpeza), eles são contaminados pelos exemplos
passados pelos escalões acima. Criam seus mecanismos
de desvios e substituição furtiva de material. Isto acaba consumindo R$ Y/4 do
valor que seria usado para o projeto. Caso ele não desabe antes da entrega,
será condenado pela Natureza dentro de algum tempo pela baixa qualidade do
material, falta de manutenção adequada e pela ação das intempéries.
Resta esclarecer se somos
cúmplices passivos (somos sim) por ficarmos assistindo a estas barbaridades sem
que nossa indignação seja despertada para mudar de forma contundente este
cenário que nos denigre perante nossos herdeiros! Quando falta energia
elétrica, protestamos com veemência. Não pelos alimentos estragados na
geladeira, mas pela perda do capítulo da novela que prometeu mostrar dois atores
(até do mesmo sexo) rolando na cama. Mas isto é facilmente contornado pela tv
que “gentilmente” repete o capítulo perdido.
Quantos estádios,
viadutos, escolas e hospitais terão de desabar matando gente para que a
população esqueça a anestesia oriunda de processos “Bordel-Big-Besta-Brasil” e
tenha consciência de que precisa aprender a cobrar seus direitos de sobreviver
com um mínimo de qualidade? Quantas “fábricas” terão de explodir e barcos
saturados terão de afundar?
Nota complementar - lá acima,
onde você leu “Y” milhões, parta da seguinte teoria:
“Y” nunca é menor que 100.
Se a empreitada se referir
a algo do porte de uma represa ou dragagem de um rio, no lugar de milhões, leia
BILHÕES. Aí eles fazem uma verdadeira dragagem nas contas públicas e não há
represa que aprisione nosso dinheiro.
E mortes continuarão
ocorrendo sem prisão de culpados, devolução das verbas desviadas nem
ressarcimento adequado aos parentes das vítimas (pobres).
Ninguém será penalizado porque
tal ação educativa abriria um perigoso precedente e parlamentares que matam
dirigindo carro a mais de 150 km/h, que levantam prédios com cimento de 5ª
qualidade e torturam desafetos com serras elétricas teriam de ser encarcerados
também.
Vamos aguardar o próximo
evento macabro a ser apresentado no picadeiro do circo Brasil. Similar aos
demais circos, com uma única diferença: os palhaços (nós) observam tudo
docilmente da arquibancada enquanto as feras (abutres, raposas, lobos) nos
devoram rindo.
Dentro de um mês a
população naturalmente esquecerá este lamentável fato. Ou até mesmo em 15 dias,
desde que as mídias orquestradas preparem alguma manchete exaltando as virtudes
de um jogador que faça um gol de canela ou de uma “popozuda” com baixos neurônios
que exiba suas nádegas desnudas (mesmo com celulite) num programa de “alto”
nível da tv.
E o último ato de todas
estas peças de terror que o povo assiste anestesiado, finaliza com o velho
jargão: “A Previdência está falida por culpa dos aposentados”.
Uma nova filosofia de
governo a ser adotada a partir de 2019 será capaz de asfaltar a estrada da cidadania
(educação) para posteriormente possamos buscar a recuperação de nossa dignidade
esfolada pela podre elite do poder que enriquece com nossas tragédias?
Título, Ilustração e
Texto: Haroldo P. Barboza,
18-11-2018
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Terror movediço
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