Cristina Miranda
Hoje chamam-lhe “Fake News”
porque dá estilo falar americanizado. Dantes eram designados apenas por boatos,
a arte de descredibilizar e atacar o adversário, mais antiga do mundo.
Lembrou Carlos Abreu Amorim no facebook, e muito bem, que “a melhor
e mais proveitosa “fake news” aconteceu em 1383, quando “O Mestre de Avis
e amigos foram ao Paço matar o Conde de Andeiro e puseram os pajens e o
cúmplice Álvaro Pais a gritar pelas ruas de Lisboa:
“Todos ao Paço que matam o Mestre! Venham que matam o Mestre que é filho de El-Rei D. Pedro!” Ou seja, o futuro D. João I e os seus, foram matar um inimigo político e, à cautela, puseram o povo em armas em frente ao Paço, já quase a arrombar as portas, porque espalharam a “fake news” de que eram eles que estavam prestes a ser assassinados”. Onde está a novidade que tanto agita hoje governo e comunicação social? Simples: é que hoje as falsas notícias já não são controladas por eles.
“Todos ao Paço que matam o Mestre! Venham que matam o Mestre que é filho de El-Rei D. Pedro!” Ou seja, o futuro D. João I e os seus, foram matar um inimigo político e, à cautela, puseram o povo em armas em frente ao Paço, já quase a arrombar as portas, porque espalharam a “fake news” de que eram eles que estavam prestes a ser assassinados”. Onde está a novidade que tanto agita hoje governo e comunicação social? Simples: é que hoje as falsas notícias já não são controladas por eles.
A arte de manipular é antiga.
Mas foi com a imprensa que ela se tornou mais eficaz. Se um boato lançado boca
a boca já corre várias cidades, um boato escrito na imprensa, faz uma volta ao
mundo. Por isso Gramsci, depois de ver fracassado o marxismo da luta de classes
pelo proletariado, virou-se brilhantemente para a “revolução” através das
letras tendo dito: “Não tomem os quartéis, tomem as escolas e universidades;
não ataquem blindados, ataquem ideias”. E ainda: “Os jornais são aparelhos
ideológicos cuja função é transformar uma verdade de classe num senso comum,
assimilado pelas demais classes como verdade coletiva – isto é, exerce o papel
cultural de propagador de ideologia. Ela embute uma ética, mas também a ética
não é inocente: ela é uma ética de classe”. Foi o marxismo cultural que
ideologicamente deu o mote para transformar nossa sociedade numa incubadora de
falsas verdades para desconstruir valores, conceitos e culturas. Criar um
pensamento único em que a verdade é somente aquela que eles defendem e mais
nenhuma.
Com este princípio posto em ação,
silenciosamente, durante décadas, as sociedades sem se darem conta, foram sendo
doutrinadas por um batalhão de gente que controla os meios de difusão das
letras sob o batuque dos políticos que assim que se apoderam do poder, tudo
fazem para controlar a notícia e a História a seu favor. Uns de forma sutil
outros completamente à descarada como foi o caso em Portugal de Sócrates que
queria comprar a TVI para a silenciar e manipular a informação.
Por isso, muito antes das
redes socais sequer serem sonhadas por “Zuckerbergs”, já se ensinava falsamente
nas escolas e universidades, entre tantas outras coisas: que o 25 Abril
foi uma luta pela liberdade quando na realidade aconteceu – dito pelo próprio
Otelo Saraiva de Carvalho – pelo cansaço pela guerra colonial e por razões
corporativistas quando os militares de carreira se viram ultrapassados nas
promoções por antigos milicianos;
que Che Guevara foi um herói
da democracia e liberdade quando na verdade foi um assassino em massa, racista
e homofóbico que queria impor uma ditadura;
que o socialismo não é
marxismo quando este deriva dessa ideologia;
que o fascismo é de direita
quando este é uma ideologia revisionista do marxismo;
que a ideologia de esquerda é
quem se preocupa com os pobres quando na verdade é a que mais pobres e
dependentes cria;
que os países
comunistas/socialistas não fracassaram apenas não aplicaram o verdadeiro
socialismo.
A chegada das redes socais
não veio piorar esta situação já existente. Na verdade, veio trazer mais
transparência e escrutínio às falsas notícias e à doutrinação. Porque
ao retirar o poder de controlo aos média e políticos, estes deixaram de ter
influência absoluta sobre o que se escreve.
O pensamento passou a ser mais
livre, mais exposto, aberto a todo o cidadão, ligado mundialmente, que
analisa por si, questiona, interroga e faz contraditório. Nas redes, uma
mentira não atravessa décadas como no passado. Bastam dias para que uma falsa
notícia seja desmascarada por milhões de pessoas nas redes, desacreditando o
órgão ou pessoa que a lançou. E é aqui que reside o medo dos governos, dos
partidos e da comunicação social que vive acoplada a eles. Porque hoje,
são as redes o crivo e não os jornalistas. São elas que detectam a falsidade e
arrasam quem as cria.
O Governo fingindo-se AGORA preocupado com esta problemática, ironicamente criada também por ele – são os maiores difusores de “fake news” na rede – diz querer legislar. Mas na verdade quer limitar a liberdade de
expressão. Quer ter de novo o poder absoluto sobre tudo o que é
divulgado. Porque sabe que sem isso: não pode dizer que o país está
melhor que nunca sem ser desmentido com números reais na rede; que o
OE2019 é um bom orçamento sem ser acusado de embuste; que o rendimento das
famílias aumentou sem ser desacreditado por cidadãos atentos que provam que com
os aumentos escandalosos dos impostos indiretos, perderam mais que
ganharam. O governo quer o monopólio das “fake news”. Quer mentir à
vontade sem contraditório. Essa é que é a verdade.
A melhor forma de nos defender
das notícias encomendadas, é ter a verdade sempre do nosso
lado. Só assim não nos contradizemos, não nos engasgamos com argumentos
esfarrapados. A rede pela sua imensidão, regula-se a ela própria, denunciando
em poucas horas, a mentira. A verdadeira democracia é assim.
Legislar é só uma forma
encapuzada de ditadura ao pensamento livre. Um “lápis azul” mais azul que no
passado, sob a falsa pretensão de defesa por uma sociedade mais livre e democrática. Já
conhecemos esse filme ainda em exibição perto de nós, e chama-se
Venezuela.
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias,
12-11-2018
Durante séculos, os jornais escreviam o que bem lhes apetecia. Ao leitor, se e quando indignado, sobrava escrever uma carta (depois e-mail), que o jornal publicava ou não. E quando publicava, por razões de espaço, alegavam, dificilmente era a carta inteira, na íntegra. Cartas de sete parágrafos reduziam-se a três parágrafos.
ResponderExcluirE assim foi durante séculos, repito.
Aí, surgiu mais uma opção, graças à criatividade e empreendedorismo do maldito capitalismo: as chamadas redes sociais. Aí, a indignação passou a ser imediata! E lida por milhares de pessoas.
Daí, os "Bobos" (criação francesa que significa a mixagem entre burgueses e boêmios – no Rio de Janeiro, qualquer pessoa sabe onde encontrá-los), ficaram putinhos e, desde então, só fazem se queixar de quem lhes roubou, com mérito e razão, o microfone da opinião!
Estes, estão fazendo uma tormenta de tri das escolas e universidades. Nossos filhos (maioria) depois de alguns semestres estão irreconhecíveis, com ideias e discursos que não aprenderam em casa.
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