sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

[Para que servem as borboletas?] Um Deus que se realiza na História...

Valdemar Habitzreuter

O que vem a ser o termo absoluto? A palavra vem do latim: ab+solutus (ab=sem, desprovido; solutus=solução; portanto, sem solução): genericamente, significa aquilo que não se deixa determinar por limites, ou definir (pôr um fim); é independente, existe por si mesmo; não é causado por outra coisa, é causa de si mesmo. Daí a noção de Deus como o Absoluto, adotado pelas religiões, do qual se diz ser infinito, independente, causa de si mesmo, etc... A filosofia também se interessa pelo Absoluto em suas especulações. As religiões, para chegar a Deus, se firmam pela fé, e a filosofia pela razão.

O filósofo idealista alemão Hegel, em sua obra “Fenomenologia do Espírito”, acha que conseguiu chegar a Deus, ou ao Absoluto, via razão. Até então, a filosofia viu-se impedido a tal façanha. O próprio Kant, em sua obra “Crítica da Razão Pura” já afirmara que a razão não é capaz de provar a existência de Deus. Quem quiser admitir sua existência deverá fazê-lo pela via da fé e não racionalmente.

No entanto, Hegel, um estudioso e crítico de Kant, toma outro viés e elucida em seu sistema filosófico que o Absoluto (Deus) é uma substância racional e, portanto, sujeito, o que os sistemas filosóficos até então não se propuseram; no Absoluto não há uma confrontação entre sujeito e objeto, há uma realidade só – uma unidade na diversidade que se expressa dialeticamente. É nesse sentido que Hegel diz que “o real é racional, e o racional é real”. Há, pois, uma identidade: sujeito e objeto se identificam. Assim, o Absoluto – a realidade total - é Razão. Ou seja, Deus é Razão.

Sendo o Absoluto de Hegel substância racional, ele é, por conseguinte, sujeito por excelência do qual pode-se predicar qualidades, mas permanece sempre o mesmo, não é determinado pelo exterior, mas auto determina-se; portanto, livre. Ele, como razão, realiza-se na história da humanidade como Espírito Absoluto.

O Deus hegeliano, pois, é o Espírito Absoluto que cavalga no lombo da História e imprime sua marca através da humanidade. Todo o cabedal de cultura (arte, religião, filosofia, instituições...) da humanidade são os resultados dessa trajetória do Espírito Absoluto.

Assim, Hegel considera a Filosofia acima da Religião, pois chegou ao entendimento que o Espírito Absoluto vive como espírito através dos homens e se realiza imanente e historicamente, sem a transcendalidade como na religião judaico-cristã, cultuada através da fé. 

A História é um processo racional do Espírito Absoluto, diz Hegel. A rigor, o Deus hegeliano não é a realidade estanque e passiva, mas realização, realizando-se na história, tendo a humanidade como pano de fundo.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 18-1-2019

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