Filósofos especulam o que é
mais logicamente racional na empreitada da vida do ser humano: se ele se
restringe a uma vida finita ou se é pertinente a que aspire à infinitude.
O filósofo Kant [quadro abaixo] dá-nos a
entender que, pela razão pura, só podemos nos mover na esfera da finitude e
nada conseguimos vislumbrar além disso. Se o homem almeja a infinitude terá de
se dedicar a uma vida de fé, mas sem garantias reais, será apenas um salto no
escuro que tanto pode estar certo quanto não.
Em sua obra, ‘A Crítica da
Razão Pura’, ele traz incontestáveis argumentos de que a razão humana fica
limitada ao mundo finito e não consegue se aventurar fora desse mundo
(aventurar-se num mundo transcendental): não tem capacidade de enxergar um
reino celestial eterno, Deus e a imortalidade da alma, que estão fora do
alcance da experiência sensível. Essas coisas só as podemos ter na mente como
ideias.
Portanto, a filosofia de Kant é uma filosofia do finito, pois à razão fica vetado o infinito... Será que ele tem razão da limitação da razão? Pelos critérios da teoria da pura razão sim. Mas, paralelo à ‘Crítica da Razão Pura’, Kant escreveu também a ‘Crítica da Razão Prática’ onde tematiza sua filosofia da ética (moral) aludindo à ideia da possibilidade da existência de Deus, o Sumo Bem, que possa servir como modelo para o correto agir do ser humano.
Seu discípulo, Fichte,
inspira-se nessa temática e apresenta outro viés para fundamentar a liberdade e
a moral. Estabelece em ‘A Doutrina da Ciência’ que o infinito existe no homem,
o infinito é o próprio homem.
Enquanto o ‘eu’ do ser humano,
como agente do conhecimento, é, para Kant, uma atividade finita, limitada às
coisas sensíveis, só conhece o que lhe aparece: o ‘fenômeno’ e não a ‘coisa em
si’ (a ‘coisa em si’ é a essência da coisa, aquilo que é inapreensível pela
inteligência, independente, sem que possa haver a concorrência de nossa
consciência e percepção sensível), para Fichte, o ‘eu’ tem a prerrogativa de
uma atividade infinita, pois é no ‘eu’ que é produzido justamente a ‘coisa em
si’.
Portanto, o ‘eu’ tem alcance
infinito, uma vez que o fenômeno não é produzido pela ‘coisa em si’, mas pelo
‘eu’ como atividade criadora infinita. O ‘eu’ de Fichte engloba tanto o objeto
exterior (o ‘não-eu’) como o sujeito pensante.
O ‘eu’ de Fichte fundamenta-se
numa intuição intelectual (intuição intelectual é o conhecimento imediato sem a
concorrência dos sentidos, (Kant nega essa possibilidade)) e se vê no Eu Absoluto,
ou Ser Absoluto (Deus), em sua infinitude e liberdade.
Assim, o mundo exterior, sendo
o ‘não-eu’, está, no entanto, contido no ‘eu’. Dessa maneira o ‘eu’, para agir
moralmente tem de encarar o mundo (o ‘não-eu’) o que constitui a ação moral.
Não podemos ficar apenas
encapsulados no ‘eu’, temos que encarar o mundo externo onde também existem os
outros ‘eus’ e donde resultam nossas ações de moralidade.
(Apenas um pequeno esboço. O
assunto é bem mais complexo).
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 5-12-2018
Colunas anteriores:
Caro Habitz, sabes que te admiro, fico contente com tua “Coluna”, senti falta. Então, também acho que cada um tem o seu “eu”. Muito boas para refletir estas filosofias, e o seu pensar. Abs.
ResponderExcluirA manifestação objectiva e concreta da realidade, para mim, através da percepção sensorial é o objecto.
ResponderExcluirIluminismo é apenas uma época de pensar sem ter noção futurística.
A única coisa que não é coisa sou eu, e você pensa o mesmo de mim.
Esse negócio de "coisa em si" proveniente do "coiso" me fez eleger Bolsonaro.
fui...