Carina Bratt
Hoje falarei das filhas “patricinhas” que não gostam de ajudar as suas respectivas mães em casa. Nem por reza braba ou que chova canivetes. As minhas amigas da redação (na hora do café quentinho, servido no refeitório), reclamam e com toda razão. Diria razão de sobra, para merecerem um “sabãozinho” de leve em suas queridas princesinhas. Vamos lá, sem magoar quem quer que seja!
Os relatos:
“Minha filhota tem vinte e um
– diz Mariana do café. – Fica o dia inteiro ‘enquartada’, a luz acesa, o
ventilador de teto ligado a toda velocidade, ouvindo música. Faça-me o favor.
Cada tipo de música que se pudesse sairia correndo e não voltaria nunca mais”.
Pausa:
Antes de prosseguirmos, uma
explicação necessária. Entendam aqui o termo ‘enquartada’ como metida ou entocada,
‘dentro de um quarto’.
Seguindo com as reclamações:
“A minha Lisandra” – entra na
conversa a Mary da portaria e desabafa quase aos prantos – “só sai da toca para
as necessidades fisiológicas ou para comer. Celular é o dia inteiro. Não sei
que tanto assunto tem para ficar com as amigas de manhã à noite”.
“Recentemente saída de um
estágio de quase dois anos que fazia numa grande empresa de celulose – segreda
a Benedita da redação, a minha moça, agora, só quer saber de dormir. Se deixar
dorme o dia inteiro e se duvidar, emenda com a noite. Come um monte de
besteiras e quando resolve dar as caras, sequer arruma a cama. E tem a
cachimônia de me chamar de rainha”.
Outra amiga, a Eloísa, da
segurança, cria coragem e manda bala: “A minha menina, a Bárbara, tem dezesseis
anos. Pra namorar é uma beleza. Vocês precisam ver. Uma beijação, uma
agarração. O rapaz, por sua vez, da mesma idade que ela, não faz nada e quando
não está lá em casa, jogando vídeo game no quarto dela, passa as tardes na rua
soltando pipa ou andando pra lá e pra cá com uma gaiola na palma da mão. Às
vezes me dá vontade de esmagar o passarinho com gaiola e tudo”.
A Cíntia, da limpeza, não
deixa por menos. Abre o jogo. “Bebel não lava um copo. Dou um duro aqui nas
dependências da revista, um duro dos diabos, vocês sabem disso. À noite,
enfrento dois trens lotados. Chego em casa cansada, exausta, aos peidos.
Procuro manter as contas em dia, o marido se escafedeu com outra e me deu um
belo de um pé na bunda. A filha das unhas não lava a calcinha que acabou de
trocar. Deixa no chão do banheiro, jogada. Se eu não catar, fica a semana
inteira, chega a dar bicho. Não adianta bater boca. Cansei. Meus conselhos
devem entrar por um buraco do ouvido e saírem pelo olho do cu". Cíntia
pede desculpas pelos palavrões e todas nós aceitamos numa boa.
Uma solução:
Acho que todos estes relatos
são também o de outras mamães que me leem e vivem cotidianamente os mesmos
desafios e problemas. Isto virou febre em famílias mundo afora. Entendo que estes
relatos têm algo em comum. De certa forma, se interligam se entrelaçam e se coadunam.
É tudo muito simples. Questão de costume. De ensinamento. Tiro por mim. Não sou
mãe, não sou casada, nem tenho filhos. Entretanto, gostaria de deixar um
bocadinho da doutrina, da lição e da disciplina que me foram passadas pela
minha progenitora.
Aos cinco anos mamãe me
colocava numa cadeira, ao lado da pia, para ajudá-la com as louças do café.
Repetia a dose com as pratarias do almoço e do jantar. Na hora dos banhos, não
só me dava umas chuveiradas em regra, como me ensinava a lavar as peças íntimas
e não abandoná-las no chão do box. Cresci, pois, nesta linhagem de ajudar a pôr
em ordem pequenas coisas, ínfimos afazeres que, segundo ela, seriam a base do
essencial para a construção da minha vida inteira. A vida futura. De fato.
Hoje, mulher feita, “não deixo para daqui a pouco o que posso fazer ontem”. Não
me permito acumular calcinhas no tanque. Bato na máquina de lavar as demais
peças que necessitarei usar não sei quando. A maioria, em face de meu serviço
(sou secretária executiva e viajo Brasil inteiro com meu patrão). Faço questão
de meter na água com amaciante logo que entro em meu apê.
Em seguida, varal. Estas
pecinhas como calcinhas e sutiãs, toalhinhas para suores e lenços, podem ser
(dependendo de onde se esteja) podem e devem ser lavadas durante o banho. Mamãe
me criou assim. Desde tenra idade. Segui meu caminho com estas
responsabilidades gravadas dentro da cachola.
Irrisórios encargos caseiros fazem parte do meu dia a dia. Não importa,
repetindo, não importa onde se esteja.
Meu patrão, Aparecido, carrega
na nossa bolsa de viagens uma corda de nylon e pregadores. O cara lava, no
quarto, à noite, suas meias, cuecas e às vezes até as camisas e a calça jeans
que usou durante o dia e as pendura esticando a tal linha, seja presa na
maçaneta da porta ou no aparelho de TV. Só usa as comodidades do hotel, ou
seja, os serviços da lavanderia, para passar tudo no ferro (medo de queimar os
tecidos), o que reduz, bastante, a conta das despesas a serem enviadas para a
Empresa.
Decidi seguir a maneira prática
de meu patrão e desde então deixei de “amontoar”, num saco plástico, as peças
sujas para higienização a depois. De certa feita, em Porto Alegre, precisei
sair e comprar (ao olho da cara) calcinhas, meias e vestidos numa loja do
aeroporto Salgado Filho, porque guardava tudo embolado num canto da bolsa. Sem
necessidade. Sem falar, evidentemente, no cheiro estranho que impregnava o
nariz. Ora, se posso fazer entre uma folga e outra, por que empilhar para
cuidados posteriores?
Isto vale para todas as jovenzinhas
de 5 a 200 anos (kikikikikiki...) ou mais. Ajudem as suas queridas mamães com
as tarefas. Um ou dois pratos a serem lavados, um copo, ou uma dúzia de xícaras
de café, uma vassourada nos cômodos, uma passada de pano no chão da cozinha.
Suas mãos não se quebrarão. Vocês não passarão nenhum tipo de vergonha, porque
lavaram as calcinhas usadas ou outras peças de uso contínuo. Mesmo tapa com luvas de pelica, vocês todas
não deixarão de ser as ‘dondocas’, as ‘melindradas’, as ‘intocáveis’ de unhas
feitas, os cabelos escovados e penteados. As eternas ‘filhinhas de mamãe’.
Por outra ótica, vocês não
serão diminuídas na moral, tampouco descerão do ‘pedestal das donzelas’ ao se
levantarem de suas camas arrumarem o quarto ou dar uma mãozinha extra às senhoras
que lhes deram a vida, e não só isto, amigas, lhes sustentaram sem cobrar nada
em troca até a culminação da vida adulta. Pensem nisto e mudem. A emenda, a
mutação, a transformação deve partir de dentro de cada uma em particular. Ou
para pior, ou para melhor. Espero, sinceramente, que a metamorfose de vocês,
seja benigna. Sempre para a estima elevada que existe e aflora de dentro de
seus corações. Dito de outra forma: dentro de cada uma de nós.
P.S.: FELIZ NATAL E PRÓSPERO
ANO NOVO ÀS MINHAS LEITORAS E AMIGAS. E ESPECIALMENTE BOAS FESTAS À FAMÍLIA DA
REVISTA “CÃO QUE FUMA”.
Título e Texto: Carina Bratt, do Sítio Shangri-Lá. Um
lugar perdido no meio do nada. MG. 30-12-2018
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ResponderExcluirEla chegou, dizendo-me que vinha
para ficar e eu tive pena dela.
Era como eu, tão triste e só. Nem tinha,
como não tenho, aqui ninguém por ela.
Talvez devesse ter-lhe dito, aquela
hora: “Bem sei que és triste e vens sozinha,
mas eu não posso, embora sejas bela,
hoje ser teu nem podes tu ser minha”.
Nada lhe disse e ela ficou, com grande
satisfação. Perdi, eu penso, a fala
e só por isso não lhe disse nada.
E temos, hoje, um “modus operandi”:
Eu, muito velho, vivo para amá-la,
ela, tão nova, para ser amada.
Aparecido Raimundo de Souza, de Shangri-Lá, um lugar perdido no meio do nada.
Prezada senhorinha Carina:
ResponderExcluirDuas o observações;nos votos vc ignora seus leitores masculinos.
E no relato da Cintia,a da limpeza, vá lá que seja pessoa humilde, mas poderia usar linguajar mais adequado e feminino.Por favor de um puxão de orelhas nela por mim.
Feliz Ano novo! NOVO???
Paizote