OUTRO DIA ME PERGUNTARAM se eu gosto do Natal.
A minha resposta foi taxativa. Lacônica. Fria. NÃO! De fato, este dia deixou,
faz tempo, de fazer parte do meu mundo particular, da minha concepção como
pessoa, ressaltando, entretanto, nada a comemorar apesar de ser católico
fervoroso.
O “Vinte e Cinco de
Dezembro”, para mim, é um dia como outro qualquer. Nada a ver, vejam bem, nada
a ver com a data magna do Ilustre Aniversariante que, acima de qualquer coisa,
tem meu respeito e gratidão “ad aeternum”.
O Natal, em si, me
traz um rosário enorme de tristezas. Lembranças que não me fazem nem um
bocadinho alvissareiro trazer à tona. Entretanto, para não deixar o assunto no
vazio das divagações, devo dizer apenas que a noite de Natal me leva de volta à
infância. Traz à memória o tempo em que meu padrasto Jorge era vivo.
Todo ano, nesta noite,
ele fazia questão de reunir a família em volta da grande mesa montada na sala
enorme. Encabeçando, sentava numa ponta, mamãe, ao lado, eu, meus irmãos
Claudio, Rogerio, André, Dulcinha, Jorginho Júnior e Jorcimar. Cada um com suas
respectivas namoradas ou esposas e filhos. Outros familiares também marcavam
presença, como tios, tias, primos, primas, avós e amigos.
Neste tom de alegria
incontida, a noite de Natal se fazia constituída de uma mesa bonita, repleta de
guloseimas, refrigerantes, vinhos e muita comida. Sem falar na euforia reinante
da galera em polvorosa, irmanada em torno dos sorrisos que se alegravam e
expandiam pelos quatro cantos da moradia espaçosa.
Com o falecimento do
velho Jorge (O “Bodi”, como eu carinhosamente o chamava), a mesa perdeu o luxo
da fartura, a exuberância da fecundidade e o charme da energia positiva. Deixou
de ter a família à centelha peculiar do patrono que a capitaneava com a sua
magia.
Feneceu o alvor e a
celebridade que reverberavam em cada coração ali presente. Tudo virou uma
nostalgia enorme que se tornou depois, nos natais subsequentes, um pesar de
ausência insubstituível. Não só insubstituível, impiedoso, maçante.
Os natais a partir de
então, se quedaram num vazio púmbleo. Um devoluto inexpugnável, irredutível,
doente, gordo de quimeras prazerosas e de pequenos mimos a serem lembrados. A
estirpe, a casta genealógica, depois que o “Velho Bodi” bateu as botas, como
que se desagregou se dissolveu. Os vínculos biológicos se divorciaram de vez.
Esdruxulamente, escafederam.
Os irmãos foram, cada
um, para seu lado. E todos para lugar nenhum. Hoje, raro vê-los ao redor de
alguma coisa. Mesmo às mesas de suas próprias casas, quando às vezes nos
encontramos, por acaso. Assuntos corriqueiros, temas mesquinhos, repelentes.
O que ainda, até pouco
tempo nos mantinha por perto, certamente a matriarca sobrevivente, Mamãe. Mas
ela também se foi. Partiu, de repente, num abrupto inesperado, num inopinado
sem retorno.
Mamãe, verdade seja
dita, cansou de viver, de lutar, de dar murros em pontas de facas, de chorar
pelos cantos, de aturar os netos desprezados (malcriados e sem o mínimo de
compostura) pelos pais que despejaram em sua casa, sem pedir licença, como se o
seu cantinho de descanso fosse um depósito de moleques endiabrados.
Mamãe, dentro de seu
lar, vivia uma espécie de hospício entre quatro paredes infestadas de
desassossegos. Como “não há mal que sempre ature, nem bem que nunca se acabe”,
a mamata acabou. Cada um teve que assumir a sua encrenca pessoalmente, ao vivo
e a cores. Outros mandaram seus queridinhos para a escola pública do mundo.
Temo por estes meus
irmãos que agiram assim e pior, receio, igualmente, pelos que fizeram de mamãe
uma válvula de escape. Um brinquedo. Estes crápulas não foram homens de
verdade, ou machos suficientes para assumirem os problemas que criaram. Irmãos
(se é que posso chamá-los assim) não tinham, ou melhor, ainda não têm vergonha
para reconhecerem seus atos danosos.
Dona Ana que se fodesse.
Mamãe, infelizmente,
não está mais entre nós. Às vezes penso, foi bom, descansou. Virou estrela num
céu distante que ela fazia questão de olhar todas as noites da varanda de seu
apartamento (quando tinha alguma folguinha) de frente para o mar. De lá de onde
está agora, não tem mais que se preocupar com os netos chatos e birrentos que
lhe atazanavam a humildade de ficar quieta e calada.
De aguentar
inconvenientes que lhe carcomiam a pachorra da ociosidade. Não mais que se
desgastar com o André (o filho drogado) criador de mil problemas. Tampouco com o outro que, junto com a mulher,
vinham para sua casa para lhe “afanar”, verdade!, afanar pequenas coisas.
Tudo se extinguiu.
Acabou. Encerrou. Os meus natais de ontem, portanto, ficaram no passado. Nos
natais de agora, procuro passar com meus filhos, netos, ex-mulheres. Uma
relação de cumplicidade mútua que não some que não se acaba. Tampouco se
desvanece. Tento de alguma forma, me fazer presente. O mais que posso.
Procuro alimentar este
vago audacioso, pernicioso, imensurável que resguarda, que obstina, teima,
machuca e entristece. Sobretudo, que ainda faz sangrar meu íntimo, que corrói
meu ser, e que estranhamente não sara. Ferida aberta, ainda agora contunde, aniquila,
mata aos poucos, devagar, em câmera lenta.
Mas deixa pra lá.
Passado, passado. Enterrado. Bola pra frente.
Esta, Amados e Amadas, a mensagem simples que gostaria de deixar
relacionada aos meus natais de ontem. Espero, em Jesus Salvador, que os próximos
me sejam melhores.
PS: A todos os meus
leitores e amigos, um FELIZ NATAL.
SAÚDE, GRAÇA E PAZ!
Título, Vídeo e Texto: Aparecido Raimundo de Souza,
jornalista. De Vila Velha, no Espírito Santo. 21-12-2018
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Assim é a vida...
ResponderExcluirLindo texto!
Amiga de verdade foi minha mãe. Aquele doce de pessoa faleceu ao tempo de uma longa jornada neste mundo. Saudades eternas.
ResponderExcluirAmiga de verdade hoje somente a máquina de lavar e quando a amiga quebra vou na loja e compro outra.
AVISO A TODOS OS NAVEGANTES. A PARTIR DESTE TEXTO SÓ RESPONDEREI AOS LEITORES E AMIGOS QUE VIEREM IDENTIFICADOS, COM A FOTO DE ROSTO, NOME COMPLETO E E-MAIL. AINDA ASSIM, DEPOIS QUE MINHA SECRETÁRIA IDENTIFICAR A AUTENTICIDADE DO E-MAIL. QUE ME PERDOEM OS "ANÔNIMOS". NADA CONTRA. EU MESMO SOU UM "ANÔNIMO" IDENTIFICADO. (APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA, DE VILA VELHA, NO ESPÍRITO SANTO - aparecidoraimundodesouza@gmail.com. FELIZ NATAL A TODOS. SAÚDE, GRAÇA E PAZ!
ResponderExcluirMuito inteligente...mas como é bravo esse homem!
ExcluirMas então quando Vossa Senhoria escreverá um texto sobre o seu vizinho médium João de deus? Que dinheiro é aquele compadre? Se até nos meus centavos a Receita Federal passa a peneira? PQP, PQP, PQP, PQP, PQP, PQP...
ExcluirPergunta: Em Abadiânia inexistem a Vigilância Sanitária e Anvisa? A situação por aí é séria e muito perigosa!
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