Diogo Prates
Um povo que em nada beneficia com as constantes greves dos serviços públicos de transportes começa a perceber o logro do discurso do PCP. É o povo que também sabe comparar a Transtejo com a Fertagus
Dia 9 de junho de 2016: “PS, BE, PCP PEV e PAN votam no
parlamento a revogação dos diplomas do anterior governo que previam a fusão e
reestruturação dos transportes coletivos de Lisboa. Segundo este diploma, fica
estabelecida a autonomia jurídica do Metropolitano de Lisboa, da Companhia de
Carris de Ferro de Lisboa, da Transtejo e da Soflusa, cuja reestruturação tinha
sido aprovada pelo governo de Pedro Passos Coelho”
Dia 29 de junho 2018: ”A CP é líder das queixas nos
transportes registadas durante o ano passado. Só no livro de reclamações, a CP
registou 3800 queixas, um “acréscimo acentuado no segundo semestre” face ao
primeiro com mais 572 queixas, segundo a AMT”.
Dia 11 de dezembro de 2018: “A circulação de barcos entre
Lisboa e o Seixal esteve suspensa devido a episódio de “rebelião” no terminal
do Seixal. Um passageiro contou que chegou à estação fluvial do Seixal antes da
7h45, que o barco das 8h10 foi suprimido e quando chegou a embarcação das 8h30
já estavam pessoas de dois barcos no seu interior”.
É inegável, as reversões nos
transportes públicos efetuadas por este governo, nunca é demais referi-lo,
suportado no parlamento pelo PS, PCP, BE, PAN e Verdes, não contribuíram para
melhorar o serviço prestado aos seus utentes, antes pelo contrário. As queixas
com os serviços da CP, Metro, Soflusa e Transtejo aumentaram consideravelmente
na mesma proporção da degradação do serviço.
Quem ganhou então com esta
reversão? Os utentes não foram com certeza. A ironia é que esta era uma das
condições da esquerda, sobretudo do PCP para assinar o acordo que permitiu a
formação deste governo. No entanto, o presidente da Câmara do Seixal, comunista
por sinal, é um dos principais críticos do governo nesta matéria:
“Esta é uma situação insustentável e que apesar das sucessivas promessas por
parte do governo, pouco ou nada mudou no transporte fluvial. As pessoas que
utilizam os barcos da Transtejo não podem continuar a ser prejudicadas desta
forma”, referiu o presidente da Câmara Municipal do Seixal, Joaquim Santos.”
Pois bem, temos então o
presidente da Câmara Municipal do Seixal, eleito pelo PCP, a criticar o
governo, apoiado pelo PCP, acusando-o de faltar às promessas, pelo que talvez o
senhor presidente pudesse dar uma palavrinha ao secretário-geral do seu
partido.
Quem mora no distrito de
Setúbal, trabalha em Lisboa e não se atreve a levar o carro para o emprego sabe
que uma das melhores opções é a Fertagus, apesar da sobrelotação nas horas de
ponta, pois os comboios são confortáveis e razoavelmente pontuais. Mas agora
vejamos qual a ideia do PCP relativamente a esta empresa: “reversão da
Parceria Público-Privada do serviço de passageiros concessionada à FERTAGUS com
a integração da operação hoje a cargo desta empresa na CP, bem como dos
respectivos trabalhadores, material circulante (que é público) e instalações”.
Ou seja, o PCP pretende acabar com um serviço que funciona para o transferir
para uma empresa campeã de reclamações, o que é brilhante: talvez passássemos a
ter apenas um comboio por hora a fazer a travessia do Tejo como temos nas
ligações de barco do Seixal.
Mas nem só no que aos
transportes diz respeito os habitantes do Seixal têm razões de queixa do atual
governo. Na saúde o prometido em campanha eleitoral Hospital do Seixal não
passa de uma miragem, o que canaliza os utentes para as urgências do já de si
sobrelotado Hospital Garcia de Orta em Almada. Por outro lado, a instabilidade
que se vive no Porto de Setúbal com a greve dos estivadores é mais uma prova da
inabilidade do governo, prejudicando uma das maiores exportadoras do país, a
Autoeuropa.
Nas últimas eleições
autárquicas, o PCP perdeu três das suas câmaras históricas neste distrito,
Almada, Barreiro e Alcochete, o que significa que aparentemente há algo de novo
a sul do Tejo: um povo que não beneficia em nada com as constantes greves dos
serviços públicos de transportes que transformam a sua vida num pesadelo e que
começa a perceber o logro do discurso do PCP.
Um povo que sabe comparar a
Transtejo com a Fertagus.
Título e Texto: Diogo Prates,
Licenciado em Medicina, Observador,
30-12-2018
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