Marco Antonio Villa
Daqui a duas semanas teremos
um novo Presidente da República. O país está em compasso de espera desde 28 de
outubro quando tomou conhecimento do resultado das urnas do segundo turno
eleitoral. Michel Temer desapareceu do noticiário. De seus ministros nem se
ouve falar. Agem como interinos aguardando a chegada dos titulares. A
administração pública está paralisada. Realiza apenas medidas de rotina.
Nos bastidores, a velha Brasília não quer morrer. Tenta resistir, nem que seja em cargos do segundo escalão, pois no primeiro não sobrou lugar. As conversas continuam no habitual tom antirrepublicano. Creem que ainda controlam o dia-a-dia do funcionamento da máquina pública. Que nada poderá ser feito sem eles. Imaginam que o eleitorado já se satisfez com as duas votações de outubro. E a política voltará ao segundo plano. Ledo engano. Nada indica que os brasileiros vão abandonar o interesse pela política. Basta acompanhar o movimento das redes sociais e a permanência do interesse pelos rumos do país. Mas a velha Brasília é insistente. Seus milhares de funcionários públicos acompanhados dos parasitas que rodeiam o Erário não se cansam e farão de tudo para manter seus privilégios e negociatas. São incorrigíveis. Sabotam qualquer governo que deseja implantar a República, aquela que só foi anunciada em 15 de novembro de 1889.
O novo governo conseguiu
organizar o ministério longe da velha política. Repetiu a velha máxima: não se
governa com todos que ajudaram chegar ao poder. Magno Malta é um bom exemplo.
Alguns ficaram pelo caminho. Outros foram adotados após a vitória. O desafio é
dar organicidade ao governo. Não é tarefa fácil. Basta acompanhar as
divergências do futuro chefe da Casa Civil com outros ministros. Todos desejam
ampliar suas áreas de competência. Pelo que parece, o papel do General Heleno
será determinante para o sucesso do governo. Sua transferência do Ministério da
Defesa para o Gabinete de Segurança Institucional o catapultou para o centro do
poder. Deverá ser uma espécie de primeiro-ministro. E mais: terá de exercer
também o papel de aparar as arestas entre os ministros e controlar os ímpetos
do Presidente eleito, nem sempre afeito aos rituais do cargo e às necessidades
de convivência política com os contrários, essência da democracia. Com seu
conhecimento dos problemas brasileiros deverá garantir o bom funcionamento da
máquina estatal garantindo eficiência e enfrentando os gargalos, especialmente
a corrupção, entranhada na estrutura governamental e que foi potencializada
pelos treze anos do projeto criminoso de poder petista.
O país aguarda as primeiras
medidas no campo econômico. O mercado – “ser” de difícil definição, mas que
teria vida própria – está otimista. A equipe econômica é considerada
competente. E fala uma mesma língua, o que é raro nos últimos governos. Basta
recordar, entre tantos outros exemplos, a disputa entre Pedro Malan, na
Fazenda, com José Serra, no Planejamento, quando do primeiro governo Fernando
Henrique Cardoso. A homogeneidade da equipe deve facilitar a gestão e a adoção
das tão esperadas reformas e, principalmente, da recuperação econômica. O
primeiro semestre vai ser decisivo pois espera-se que as primeiras medidas
tenham resultado imediato, o que, sabemos, é um exagero. Contudo, a criação de
uma expectativa positiva poderá possibilitar que a economia possa crescer em um
ritmo bem mais significativo que o de 2018. Também possibilitará a ampliação da
entrada de capital estrangeiro, indispensável para a retomada do crescimento
econômico.
Um sinal de alerta – no campo
político – é a articulação entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional.
Não se sabe quem, até agora, fala em nome do governo. O Partido Social Liberal
é um ajuntamento de parlamentares. Está muito distante de ser um partido
político. Falta unidade, experiência parlamentar e um pensamento
político-partidário. Até agora não passa de uma legenda à serviço da campanha
eleitoral – que já terminou, registre-se – de Jair Bolsonaro. O mais grave é
que poderá ser em fevereiro, com a reabertura do Congresso, o maior partido
político na Câmara dos Deputados, com a tradicional migração dos oportunistas
para o partido do Presidente, triste tradição brasileira. O PSL mal consegue escolher
seu líder na Câmara, quanto mais influenciar a eleição da mesa diretora da
Casa.
Outro sinal preocupante é a
destrambelhada ação dos filhos do Presidente. Só criam problemas. Falam pelos
cotovelos. Querem exercer atribuições do Executivo federal. Provavelmente, até,
desconheçam quais são as atribuições da Presidência da República –
recomenda-se, neste caso, a leitura da Constituição, especialmente a seção
referente ao Poder Executivo. Nesta fase de transição, Bolsonaro teve de
desmentir diversas declarações dos seus filhos – vide, por exemplo, a defesa da
pena de morte explanada dor Eduardo Bolsonaro e o desmentido do pai horas
depois. Em suma: o Brasil aguarda o governo Bolsonaro.
Título e Texto: Marco Antonio Villa, Blog do Villa, 23-12-2018
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