António Pedro Barreiro
Na guerra cultural em curso, a nova
Esquerda esqueceu o povo e assumiu a defesa da excentricidade das elites. Eu,
que não sou de Esquerda, acho que uma outra Esquerda faz falta ao sistema
político.
A Esquerda abandonou as
classes trabalhadoras. Mais ainda, a Esquerda traiu as classes trabalhadoras.
Ao abraçar a cantilena da “autodeterminação de género”, da “masculinidade
tóxica”, da “heteronormatividade” e das “micro agressões”, a Esquerda escolheu
ter como principais bandeiras políticas as preocupações mais superficiais do
diletantismo burguês. Em nome delas, policia o discurso e julga sumariamente os
adversários; confunde discordâncias com discriminação; erige muros, queima
pontes e levanta polêmicas.
Em nome do libertarianismo
social, a Esquerda alheia-se do destino dos pobres. Liberalizar e normalizar a
droga, como pretendem o Bloco e parte do PS, permite às elites urbanas
satisfazer comodamente os seus desejos de excentricidade e transgressão – e, no
dia seguinte, regressar à normalidade. Mas, para quem convive diariamente com o
mundo das drogas, a normalidade não existe. A liberalização traz consigo a
deterioração de bairros e comunidades inteiras; de estruturas familiares e de
vidas humanas. Para os mais pobres, a droga não é apenas um inebriamento
passageiro. É um flagelo que espreita em cada esquina, corroendo laços de
solidariedade, ameaçando a saúde e a ordem pública, envenenando a infância e a
juventude e trazendo consigo o vandalismo, o crime e a violência. Para as
elites, a droga legal é liberdade de escolha. Para os mais pobres, é um sem-fim
de fatalidades que passam a acontecer sob a anuência do Estado.
O mesmo se diga acerca da
legalização das barrigas de aluguer, tão almejada pelo Bloco e pelos seus
aliados socialistas, que criará condições para transformar a maternidade num
negócio e para colocar o ventre das mulheres pobres a trabalhar ao serviço da
vantagem financeira de casais ricos.
Não contentes com tamanha
barbaridade, o Bloco e a parte do PS que vive a mando do Bloco querem também
legalizar a prostituição, forçando o Estado a dar o seu aval ao aluguer de
corpos humanos. É quase confrangedor que os mesmos que insistem (e bem) na
importância de aumentar o salário mínimo ignorem a necessidade de salvaguardar
limiares mínimos de dignidade humana. O corpo de uma mulher – pobre, imigrante,
isolada, sem alternativas – não se fez para ser exposto, avaliado e transacionado
como uma carcaça de animal pendurada no gancho do talho. E um Estado de bem não
pode dar respaldo a tamanha monstruosidade.
Vale a pena pensarmos sobre
tudo isto. Sobre se esta Esquerda – envolvida numa guerra de terra queimada
contra o Homem e a sociedade; contra a linguagem, as tradições e o território;
contra a nossa História e os nossos museus – ainda conhece o povo. Há dias, era
o ministro do Ambiente, solene e prazenteiro, a anunciar que as metas de redução
do carbono seriam atingidas através de uma “redução da produção de bovinos entre 25 a 50%”.
Depois, veio o PAN, fervilhante de superioridade moral, sugerir que se
retalhassem os ditados populares para eliminar referências pouco lisonjeiras
aos animais.
Desta sucessão de dislates,
procurei refúgio nos Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes. Publicada em
1941, esta permanece uma das obras de referência do neorrealismo português. É
também uma memória de uma Esquerda que já não existe – ou existe cada vez
menos. No relato cru de Soeiro sobre a miséria, misturam-se descrições sobre os
momentos da vida comunitária: o trabalho, os divertimentos, as feiras, o circo
e a tourada. É a marca de uma gente que, mesmo pobre e descalça, pertence a uma
terra, a um local, a uma identidade. Referências que a nova Esquerda não
compreenderia, porque não tem terra, nem identidade. A sua única referência
grupal é a tribo ideológica e o seu único entretenimento é o ativismo político.
A nova Esquerda não tem lugar
para Soeiro Pereira Gomes, nem para Alves Redol, nem para a frieza iconográfica
do cinema neorrealista. Não tem lugar para os ternos cantares rurais de Zeca
Afonso, nem para as recolhas etnográficas de Giacometti e Lopes-Graça. É,
aliás, interessante notá-lo: ele, Fernando Lopes-Graça, dedicado militante
comunista, produziu inúmeros arranjos musicais com base em cantares
tradicionais portugueses. Entre eles, está um notável conjunto de Cantatas
de Natal sobre Nossa Senhora e o Menino. Na nova Esquerda, porém, não cabe um
comunista que escreve música sobre o presépio. A nova Esquerda não é de
Lopes-Graça. É de Fernanda Câncio, que desdenha a cultura portuguesa e se
incomoda com as decorações natalícias em Lisboa.
Rendida ao discurso da
diversidade e do cosmopolitismo, a nova Esquerda não conhece o povo, teme-o e
desconfia dele. Muitos têm escrito que a guerra cultural em curso é uma luta de classes em
que a nova Esquerda assumiu a defesa da excentricidade dos poderosos. Sobre
isso, pouco sei. Mas sei – eu, que não sou de Esquerda – que uma outra Esquerda
faz falta ao sistema político português.
Título e Texto: António Pedro Barreiro, Estudante
universitário, 22 anos, Observador,
15-12-2018
P.S. –
Há cerca de um mês, o Expresso publicou um artigo da deputada socialista Isabel
Moreira, sob o título “Precisamos da Direita”. Como recorrentemente me sucede,
encontrei pouco de comentável na prosa desta autora. Gostaria, por isso, de
avisar os leitores mais incautos de que este meu artigo não pretende ser uma
resposta nem, muito menos, uma tentativa de convergência. À Senhora Deputada
Isabel Moreira, desejo apenas um Santo e Feliz Natal, de preferência
acompanhado pelas Cantatas de Fernando Lopes-Graça.
PERMITA-ME...
ResponderExcluirÉ retroceder na retórica política falar de direita e esquerda, elas deixaram de existir faz tempo.
Só que alguns políticos e jornalistas esqueceram.
O mundo se divide hoje em LIBERAIS, CONSERVADORES E DITADURAS LIBERAIS ECONOMICAMENTE E DITADURAS RELIGIOSAS CONSERVADORAS.
A esquerda nova come pelas beiradas e coloca seus séquitos nos pontos chaves do poder, tornando difícil a outros partidos assumirem o governo, como aconteceu no Brasil e estão a fazer em Portugal e na EUROPA toda.
Muitos países europeus estão facilitando ditaduras religiosas e assassinas.
A TRADIÇÃO E CULTURA OCIDENTAL PERECE;
FUI...
Eu custei a entender, que por este blog ser gerado na Europa , ainda se fale em esquerda ou direita com tanta enfâse.
ResponderExcluirUma prova é que no Brasil ícones da direita (?) são contra Bolsonauro!
Ex. Reinaldo Azevedo!
Direita e esquerda são conceitos políticos retrógrados!
E nada dizem da realidade brasileira!
Paizote
PERFEITO!!!
ExcluirO que eu sempre quis dizer é que não existem indivíduos corruptos, ladrões e incompetentes de Direita ou Esquerda.
ResponderExcluirExistem apenas indivíduos com estas classificações!
. Classificação do âmbito da ética ,honestidade, portanto de formação moral!
Do contrário estaremos justificando os maus políticos , alegando os erros à sua ideologia política.
Como se este mesmo individuo, se fosse de outra corrente ,ou viesse a militar em ideologia oposta, visando seus interesses , se tornasse um cidadão exemplar, de uma hora para outra.
Quem não presta, continuará não prestando !
Diz o velho ditado “A ocasião é que faz o ladrão!” , e não a ideologia!
Pelo menos no Brasil, é assim!
As definições que tentam importar , não servem ao espirito Brasileiro!
Imaginem se fosse a visão ideológica (?) quem determinasse a conduta moral do indivíduo , jamais poderíamos condenar alguém.!
Pois este estaria cumprindo os desígnios impostos pelo partido que milita, e pela ideologia que determina seu proceder.
Teríamos que levar à justiça, os conceitos políticos e não os ladrões, pois estes estariam disciplinarmente cumprindo a opção de direita ou esquerda.
Ouve-se falar muito em “esquerdalha” ou “direitalha”, e que “ , fulano por ser da esquerda ou de direita não presta não tem moral!
SAINDO ILESO O CIDADÃO E CULPANDO A SUA PÉSSIMA ESCOLHA POLÍTICA!
Os conceitos esquerda ou direita , estão totalmente subvertidos , e só valem para análise histórico-política dos posicionamentos iniciais dos movimentos.
Na Europa observa-se ainda movimentos retrógrados que tentam ressuscitar velhas divergências baseados no reforço da ideologia, porém caem no vazio da existência de um indivíduo, que antes precisa ter caráter,e não o tendo, é indiferente se de direita ou esquerda.
A ideologia é uma escolha posterior!
Antes é preciso ter formação , após pode admitir-se uma escolha e uma militância política!
Mas esta, não modifica o indivíduo , e nem o justifica ou o isenta dos erros por seguir as cartilhas políticas.
A ficha suja ,não escolhe ideologias, nem partidos!
A história política do mundo está cheia de exemplos de indivíduos que se alegando ser de um pensamento ,agia de forma considerada por alguns como de outra “ordem’!
E ser de centro o que é?
Ser de centro é ser nada!
Pois admite-se que existam os dois lados, nenhum preenche seus anseios políticos , então busca mobilidade.
Alguns indivíduos são classificados como radicais,ou extremistas , como se isto ampliasse seus maus feitos!
Quem não tem moral , continuará não tendo!
Seja votando com os de direita, de esquerda ,extremistas ou de centro!
A política é a consequência das escolhas do indivíduo , o mal está na origem!
As classificações têm a finalidade de isentar alguns da “culpa” enquanto cria outros de moral poluta!
Sejam estes ou aqueles, depende somente de “posição” escolhida para estamos observando!
E num mergulho mais profundo , diríamos que direita ou esquerda não são nem ideologias!
E sim preconceitos mascarados do homem ,em relação ao ideário de um grupo social em relação às visões,sejam corretas ou deturpadas da política.
Sejamos de direita ou de esquerda como nos convier, mas esta escolha livre não será permitida a ética , e não justificará ninguém ,o tornando melhor ou pior , do que sua formação o fez !
Paizote
"Nem todos de direita ou de esquerda tem,necessariamente a moral deturpada que lhe imputam os adversários!" lmb
ResponderExcluirPaizote
Mais um dado da falência das visões esquerda ou direita , foi a interferên ia - comprovada - dos russos no apoio a campanha de Trump.
ResponderExcluirMandaram a ideologia para o espaço defendendo interesses espurios.
A comissão independente que emitiu relatório citou 90 milhoes de publicações dirigidas exclusivament à população negra americana ,para neutralizar um possivel "efeito Obama".
Então, definições sobre direita ou esquerda na eleição americana foram sepultadas,pelos interesses .
Trump/Putin.
Pelo jeito, somente na Europa sobrevive este "esqueleto no armario"!
Paizote
Digitando no sansung
Resumindo, HONESTIDADE DE CARÁCTER, QUALQUER REGIME É SATISFATÓRIO.
ResponderExcluirDITADURAS EXCELENTES - EMIRADOS ÁRABES UNIDOS
DITADURAS PROLETÁRIAS - RÚSSIA, CHINA, CUBA, VENEZUELA, COREIA DO NORTE ETC...
DEMOCRACIAS PROLETÁRIAS ÍNDIA, FILIPINAS, BRASIL, GRÉCIA
DEMOCRACIAS FALINDO - MAIS DA METADE DA EUROPA
LIBERAIS SOCIAIS - INGLATERRA, ISLÂNDIA, NORUEGA ETC...
CONSERVADORES - JAPÃO, COREIA DO SUL
Saibam que o IDH da China e da Índia são menores que do Brasil.
O Brasil está fora de todas as listas de ganhadores do Prêmio Nobel. Mas, a depender do critério utilizado, o país teria, sim, um vencedor da honraria: Peter Brian Medawar, Nobel de Medicina em 1960, nasceu em Petrópolis em 1915 mas seus pais o naturalizaram inglês no registro de nascimento na embaixada.
Vivemos num país desonesto e sem méritos.