quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

[Para que servem as borboletas?] O ser humano sempre questionando...

Valdemar Habitzreuter

Filósofos especulam o que é mais logicamente racional na empreitada da vida do ser humano: se ele se restringe a uma vida finita ou se é pertinente a que aspire à infinitude.

O filósofo Kant [quadro abaixo] dá-nos a entender que, pela razão pura, só podemos nos mover na esfera da finitude e nada conseguimos vislumbrar além disso. Se o homem almeja a infinitude terá de se dedicar a uma vida de fé, mas sem garantias reais, será apenas um salto no escuro que tanto pode estar certo quanto não.

Em sua obra, ‘A Crítica da Razão Pura’, ele traz incontestáveis argumentos de que a razão humana fica limitada ao mundo finito e não consegue se aventurar fora desse mundo (aventurar-se num mundo transcendental): não tem capacidade de enxergar um reino celestial eterno, Deus e a imortalidade da alma, que estão fora do alcance da experiência sensível. Essas coisas só as podemos ter na mente como ideias.


Portanto, a filosofia de Kant é uma filosofia do finito, pois à razão fica vetado o infinito... Será que ele tem razão da limitação da razão? Pelos critérios da teoria da pura razão sim. Mas, paralelo à ‘Crítica da Razão Pura’, Kant escreveu também a ‘Crítica da Razão Prática’ onde tematiza sua filosofia da ética (moral) aludindo à ideia da possibilidade da existência de Deus, o Sumo Bem, que possa servir como modelo para o correto agir do ser humano.

Seu discípulo, Fichte, inspira-se nessa temática e apresenta outro viés para fundamentar a liberdade e a moral. Estabelece em ‘A Doutrina da Ciência’ que o infinito existe no homem, o infinito é o próprio homem.

Enquanto o ‘eu’ do ser humano, como agente do conhecimento, é, para Kant, uma atividade finita, limitada às coisas sensíveis, só conhece o que lhe aparece: o ‘fenômeno’ e não a ‘coisa em si’ (a ‘coisa em si’ é a essência da coisa, aquilo que é inapreensível pela inteligência, independente, sem que possa haver a concorrência de nossa consciência e percepção sensível), para Fichte, o ‘eu’ tem a prerrogativa de uma atividade infinita, pois é no ‘eu’ que é produzido justamente a ‘coisa em si’.

Portanto, o ‘eu’ tem alcance infinito, uma vez que o fenômeno não é produzido pela ‘coisa em si’, mas pelo ‘eu’ como atividade criadora infinita. O ‘eu’ de Fichte engloba tanto o objeto exterior (o ‘não-eu’) como o sujeito pensante.

O ‘eu’ de Fichte fundamenta-se numa intuição intelectual (intuição intelectual é o conhecimento imediato sem a concorrência dos sentidos, (Kant nega essa possibilidade)) e se vê no Eu Absoluto, ou Ser Absoluto (Deus), em sua infinitude e liberdade.

Assim, o mundo exterior, sendo o ‘não-eu’, está, no entanto, contido no ‘eu’. Dessa maneira o ‘eu’, para agir moralmente tem de encarar o mundo (o ‘não-eu’) o que constitui a ação moral.

Não podemos ficar apenas encapsulados no ‘eu’, temos que encarar o mundo externo onde também existem os outros ‘eus’ e donde resultam nossas ações de moralidade.
(Apenas um pequeno esboço. O assunto é bem mais complexo).
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 5-12-2018

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2 comentários:

  1. Caro Habitz, sabes que te admiro, fico contente com tua “Coluna”, senti falta. Então, também acho que cada um tem o seu “eu”. Muito boas para refletir estas filosofias, e o seu pensar. Abs.

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  2. A manifestação objectiva e concreta da realidade, para mim, através da percepção sensorial é o objecto.
    Iluminismo é apenas uma época de pensar sem ter noção futurística.
    A única coisa que não é coisa sou eu, e você pensa o mesmo de mim.
    Esse negócio de "coisa em si" proveniente do "coiso" me fez eleger Bolsonaro.
    fui...

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