Cláudio Magnavita
Passado o período eleitoral a
praxe é torcer pelo sucesso do eleito. No caso do Wilson Witzel, isso ocorreu.
Eleito, passou a ser o governador de todos, e o sucesso dele é o sucesso do
Rio. A torcida pelo acerto é importante para um estado combalido, castigado e
esfacelado.
O ocorrido neste final de
setembro, antes mesmos de completar o primeiro ano da administração é
preocupante.
O governador com a mesma
convicção com que enfrentou a incredulidade da campanha anterior aposta que vai
ser o próximo presidente da República. Parece obstinado em cumprir a sua sina
presidencial.
Mas novos ingredientes nos
obrigam a uma reflexão. Ele deixou de ser estilingue e virou vidraça. Aliás uma
vidraça enorme.
Ao criar uma ruptura
simultânea com os dois níveis de poder que o cercam, o executivo federal e o
executivo municipal, ele se isola. Briga com os Bolsonaros e com o Crivella ao
mesmo tempo.
Uma velha máxima já dizia que
inimigo de inimigo meu, amigo é! Se Crivella e Bolsonaro já tinham um elo
comum, o ódio às organizações Globo, agora possuem um antagonista comum: o
próprio Witzel.
A aproximação com viés
conservador dos dois os deixarão cada vez mais próximo e o governador cada vez
mais isolado.
O que ganha o candidato com
isso? É uma lógica que só o milagreiro das urnas Witzel pode decifrar.
É mais fácil, porém, prever o
que o Rio perde com isso. Perde e muito. Primeiro é jogado para o abismo do
descumprimento do acordo de recuperação fiscal. O ex-juiz Witzel já fala em
ajuizar no STF o questionamento dos empréstimos contraídos por Cabral e que
agora vencem.
Procura se blindar na Justiça
com a retaliação de ser carimbado como descumpridor do acordo da recuperação. O maior perigo é o governador se embriagar com a fantasia de uma eleição por méritos próprios.
A deselegância dele com o
senador Flávio Bolsonaro não tem apenas um forte viés de ingratidão, como
também é de uma profunda e obtusa sandice política.
É só olhar os números: no
primeiro turno, quando foi eleito o legislativo, Flávio teve 4,3 milhões de
votos contra 3,1 milhões do Witzel. No segundo turno, Witzel teve 4,6 milhões
votos, enquanto Bolsonaro pai teve 5,1 milhões de votos no Rio.
A agenda de Flávio era
monitorada pela campanha do PSC, que colocava o ex-juiz para andar ao lado do
futuro senador, e não o contrário.
Já no segundo turno, como
senador eleito trabalhou pelo pai candidato a presidente e novamente o
sobrenome Bolsonaro que turbinava Witzel era o do Flávio, que chegou a assinar
um termo autorizando o uso da sua imagem, quando ela foi barrada pela justiça
eleitoral. A onda Bolsonaro foi nacional e candidatos anônimos surfaram nela e
aqui não foi diferente.
No caso do Crivella, o termo
chulo usado (“Lambança”) não condiz com o vocabulário de um ex-magistrado. Foi
novamente ingrato, ao criar um constrangimento ao alcaide, em um tema no qual o
prefeito estendeu a mão à família Witzel, empregando o primogênito do
governador, exatamente no segmento que agora é motivo de crítica em mais uma
tentativa pública de reconciliar com a sua história familiar.
A melhor posição neste cenário
é a do pastor Everaldo Pereira, presidente do PSC Nacional, que, ao impor uma
chapa puro sangue, tem o seu fiel pupilo partidário Claudio Castro como
vice-governador.
Se Wilson for candidato a
presidente, assume o vice. Se ele sofre impeachment por conta do colapso do
estado pela quebra do acordo de recuperação fiscal, assume o vice. É um cenário
no qual o poder do Everaldo aumenta e muito.
Apesar de ter o filho Felipe
Pereira porta a porta com o gabinete do governador, ainda há um certo e
aparente constrangimento no trato das agendas de negócios que sempre acompanham
o currículo do bom pastor. Sem amarras e com o vice assumindo, vai ser uma
festa.
O mais triste desta história é
que a chegada do atual governador ao poder parece ser muito mais “meio” do que
“fim”. Antes da posse já falava no Planalto.
O Rio perde e muito ao
assistirmos uma longínqua candidatura de 2022 ser colocada como prioridade.
Agora, quem acredita que o Sambódromo vai ser passado ao Estado?
Os investimentos que estão
sendo visíveis na área de segurança são decorrentes da intervenção militar na
área de segurança e de R$ 1,3 bilhão liberado pelo governo federal, licitados
em 2018 e no início de 2019 e que agora estão sendo entregues. E quando acabar
isso e o estado precisar recorrer de novo a Brasília?
Finalmente, o Witzel quer
entrar na polarização que hoje ocorre entre Dória e Bolsonaro. Não quer ser
esquecido como candidato, mesmo que para isso surja como um candidato
esquisito.
Enquanto o Dória se cercou de
ex-ministro e montou um gabinete que funciona, em um estado financeiramente
mais robusto do que o Rio, assistimos aqui a recriação de secretarias, algumas
esdrúxulas, a Assembleia ser presidida por um petista, um governador que
desdenha os seus principais eleitores em 2018, briga com um prefeito que é
sobrinho de um líder religioso que colocou o presidente de joelhos e o fez
chorar e agora promete desfilar de braços dados na eleição de 2020 com o
candidato de oposição que ele demonizou em cada minuto do horário gratuito eleitoral.
O ideal é que o governador
descesse do palanque de 2022, lembrando que já virou vitrine há muito tempo, e
que enfrentasse os problemas do Rio com apoio de todos os setores e de todas as
esferas públicas - e que só depois, legitimado pelos resultados da sua
administração, resolvesse disputar a eleição presidencial. Da forma que está, o
único vencedor desta equação, difícil de entender, continuará sendo o pastor
Everaldo Pereira na tentativa de colocar no poder e até reeleger, depois, o seu
vice de estimação.
O sucesso do governo Witzel é
o sucesso do Rio e, para isso, ele precisa efetivamente começar.
Título, Imagem e Texto: Cláudio
Magnavita, Correio da Manhã, 13 a 19 de setembro de 2019
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