domingo, 19 de setembro de 2010

Um governo convincente em forçar a mudança da história. Ou: Uma nova língua para um novo tempo

Lula, José Dirceu e Dilma Roussef

Certos “inteliquituais” petistas e outros candidatos a entrar na fila apontam o governo Lula como uma “nova era democrática”. Algumas das características dessa “nova era” estão aí, aos olhos de todos. Contam-se em milhões, bilhões e porcentagens.
Um novo tempo, como vocês sabem, requer um vocabulário específico. A Stálin se atribui ter afirmado: “Fizemos a revolução, mas preservamos a bela língua russa”. O lulismo vai inovar: “Fizemos a revolução e deixamos a bela ainda mais inculta”. Delúbio Soares,  lembram-se?, não deu sua contribuição apenas à ética. Ele também inovou na linguagem: chamou “caixa dois” de “recursos não-contabilizados”. Nas atuais lambanças, propina ganhou um apelido haurido da linguagem dos negócios: “taxa de sucesso”.
Na semana passada, VEJA trouxe as lambanças de Israel Guerra junto à Anac para “regularizar” a situação da estranhíssima empresa MTA (leia post nesta página). Fábio Baracat contou como agia a quadrilha. Logo depois, ele próprio emitia uma nota confusa, chamada impropriamente de “desmentido”, em que confirmava a atuação de Israel, mas se dizia vítima de um jogo político e tal. Cheirava mal. Baracat tinha sido pressionado. Em nova entrevista à VEJA, igualmente gravada, confirmou suas denúncias, deixou-se fotografar e disse que pensa em sair do país por uns tempos. Teme por sua vida, afirmou.

A reportagem da VEJA de ontem sobre os horrores da Casa Civil também trazia a história do patrocínio a uma equipe de motocross de Brasília. A Eletrobras — onde Dilma e Erenice mandam soltar e prender — soltou R$ 200 mil para os motociclistas, que só ficaram com R$ 160 mil. Quarenta mil foram parar nas mãos de Israel Guerra: era a “taxa de sucesso”. Uma grande gulodice, né? À MTA, o filhote da Mamãe Gansa pediu 6%; à EDRB, 5%; aos  motoqueiros, coitados!, 20%!!! Parece que Israel trabalhava com uma tabela regressiva. Exposta no português da turma, seria assim: “Menas grana, mais porcentagem”. Luís Corsini, chefe da equipe, revelou a operação à VEJA.
A Folha ouviu duas outras pessoas envolvidas na negociação, que confirmaram tudo. Corsini, talvez submetido ao mesmo trabalho de “convencimento” de que fora vítima Baracat, tentou voltar atrás e disse ontem que não falaria mais sobre o assunto. Os entrevistados pelo jornal confirmaram o que Corsini havia contado à revista. Israel costuma se referir à mãe e a presidenciável Dilma Rousseff nestes termos: “Minha mãe resolve, minha tia resolve”. Pelo visto, sim…
Prestem agora atenção a este trecho da reportagem de hoje da Folha e vejam se isso lembra, ainda que longinquamente, uma República: Na sexta-feira, a Folha pediu à Eletrobrás para ter acesso ao processo do patrocínio. O coordenador geral da presidência da empresa, Luiz Augusto Figueira, disse que a estatal “não tem obrigação de fazer isso porque entende que não é um documento de interesse público”.
Figueira, no entanto, afirmou que “se existe pedido político [de liberação de patrocínio], não fica no processo administrativo”. Segundo ele, nos anos em que o patrocínio foi negado a escolha dos projetos que receberiam verba era feita mediante edital.
Em 2008, quanto houve a liberação, a diretoria é quem escolhia quais os projetos que seriam patrocinados pela estatal. A Federação de Motociclismo do Distrito Federal informou que só repassou os recursos do patrocínio mediante a apresentação de notas fiscais e esclareceu que a prestação de contas foi aprovada pela Eletrobrás.
Vocês entenderam agora como se vive na prática uma “nova era democrática?” Só pare encerrar: a imprensa não pode exigir os documentos da Eletrobras, mas o Ministério Público. 
Reinaldo Azevedo

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