segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Um segundo turno esperado

Cesar Maia
1. Como este Ex-Blog vinha informando desde o início de setembro, o segundo turno eram favas contadas.  A reação de parte do voto dos cristãos, especialmente dos evangélicos, saindo de Dilma para Marina, garantia isso. O paradoxal é que Marina não cresceu pelas razões "verdes", mas por seu próprio perfil pessoal, seus valores e convicções. Os escândalos divulgados serviram de lastro para uma percepção de inconfiabilidade, o que impulsionou o voto em defesa dos valores cristãos, em defesa da vida e da família.
Foto: AE

2. A popularidade de Lula - 77% de ótimo + bom - não se traduziria compulsoriamente em votos. 40% votariam em qualquer candidato que ele apoiasse, 40% diziam depender do candidato e 20% votariam contra. Uma conta simples mostra que Dilma praticamente não conseguiu atrair os votos dos que a avaliariam em campanha. Ou seja: sua performance, para o eleitor, ficou aquém do esperado e, com isso, um novo fator poderia descolar com facilidade seus votos não compulsórios.
3. No final, calculando sobre o número total de comparecimento às urnas e, portanto, incluindo os votos brancos e nulos, Dilma teve os mesmíssimos 42% de Lula em 2006, aliás, algo esperado, antes da campanha. Serra teve 31% e Marina 18%.

OS VOTOS DE MARINA E O SEGUNDO TURNO!
1. A votação de Marina, que alcançou 18% incluindo na base os votos brancos e nulos, pode ser dividida em duas partes. 50% ou 9%, que vinham de pré-campanha e do início da campanha, se referem ao voto direcionado à agenda constituinte de sua campanha: sustentabilidade, meio ambiente, século 21... Os outros 50%, ou 9%, são votos conservadores agregados em função dos valores cristãos e que saíram de Dilma pela incerteza quanto ao tratamento que daria, caso eleita, em relação à vida e a família.
2. Em relação à primeira metade, as pesquisas anteriores informavam que se dividiria em partes quase iguais entre Dilma e Serra no caso de um segundo turno. Sendo assim, os 42% de Dilma cresceriam para 46,5% e os 31% de Serra passariam para 35,5%. Os demais 9% de Marina não retornarão para Dilma por terem base religiosa. Marina pode conduzir esses votos a Serra.
3. Se isso for feito, partiríamos de um quase empate com Dilma com 46,5% e Serra com 44,5%, ou seja, uma eleição a ser disputada palmo a palmo, com a busca de votos na pequena faixa dos respectivos adversários, que ainda não votam com convicção, e que afirmavam em pesquisa que ainda poderiam mudar o voto. São 10% dos votos em cada caso.
4. A favor de Serra correm alguns fatores: a) Dilma perdeu votos nos últimos 15 dias e esse é sempre um fator de desestímulo de seus apoiadores e eleitores; b) Dilma vem fragilizada pelos escândalos, o que a colocará numa posição defensiva; c) Dilma pareceu cansada nos últimos 15 dias, inclusive descansando quase uma semana no período de nascimento de seu neto.             
5. A campanha de Serra no segundo turno tem a seu favor seus próprios erros no primeiro, o que permite -tendo consciência deles - corrigi-los. E  também a seu favor a maior confiança que transmite quando entrevistado ou em debates. A campanha de Dilma terá que voltar a lançar seu coringa: Lula. Mas terá também que ter extremo cuidado para que isso não fragilize sua imagem de dependência em relação ao presidente em exercício, que já não será mais ele, a partir de 1º de janeiro de 2011.
Cesar Maia, 04-10-2010

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