A justiça de um campeão

Tirar mérito à liderança do FC Porto é o mesmo que dizer que o Benfica foi campeão por causa do túnel da Luz. Um erro. Crasso.

Emblema do Futebol Clube do Porto

Bernardo Ribeiro

André Villas-Boas, treinador do FC Porto.
Foto: Paulo Novais/Lusa

Com Jorge Jesus a perder gás na guerra verbal com Villas-Boas, ontem foi a vez de Rui Gomes da Silva sair em defesa das posições políticas da comunicação encarnada. Não se lembrou de nenhuma frase mais interessante do que são "levados ao colo" e de repetir o que tem vindo a ser dito à exaustão. Percebo o matraquear constante que vai enganando os mais incautos, discurso cada vez mais necessário com o aproximar do final da época, quando os dragões mantêm 11 pontos de avanço e são cada vez menos as jornadas para recuperar. No entanto, é muito perigoso insistir constantemente na falta de justiça do cada vez mais provável título azul. Seria o mesmo que dizer que na temporada passada o Benfica só ganhou porque o túnel da Luz teve efeitos catastróficos na equipa portista ou porque no ano de Trapattoni o Estoril vendeu um jogo no Algarve. Mais do que injusto, um erro crasso, pois se as pessoas não acreditarem no futebol, mais depressa se voltarão para os espetáculos do Real Madrid, Barcelona ou Manchester United. As gerações mais novas já o fizeram. A minha ainda vai a tempo.

É verdade que esta Liga tem assistido a erros de arbitragem gravíssimos. Mas não explicam o facto de o FC Porto ter o melhor ataque, a melhor defesa, ser a única equipa sem derrotas no campeonato, ter em Hulk o melhor marcador e rei das assistências, fazer 30 jornadas sem perder caso não caia em Olhão. É um campeonato sem perder! Não reconhecer isto, mais do que injusto, torna-se caricato. E Villas-Boas aproveita. Argumentos há muitos, ideias também, mas enquanto o treinador portista tiver a força dos números do seu lado vai ser difícil calá-lo.

Bernardo Ribeiro, jornal Record, 15-02-2011