sábado, 15 de fevereiro de 2014

Os Mirós

João Miranda

É um segredo muito bem guardado, de que ninguém fala, mas parece que um dos bancos que o Estado nacionalizou tinha uns quadros de um autor famoso. Dizem que é o Miró, mas há quem fale em Picasso, Cézanne, Renoir ou qualquer outro nome que consigam encontrar na Piquipédia. Tive acesso a alguma informação, mas não confirmo nem desminto que o quadro que ilustra este post pertença à colecção do tal banco. Pode tudo não passar de um boato. Provavelmente é um boato, caso contrário o assunto já teria gerado vasta indignação. Afinal o governo prepara-se para vender o património artístico nacional. ATENÇÃO, O GOVERNO QUER VENDER A ARTE! Continuam calmos?

Mas não era do caso concreto que eu queria falar, digo, do caso hipotético, não levem muito a sério a possibilidade de existirem Mirós escondidos nas arcas do BPP. Vamos pensar em termos abstractos: em que condições é que o Estado deve impedir a exportação de arte para o estrangeiro?

Um critério geral poderia ser algo como: qualquer obra de arte com ligação à cultura portuguesa não pode ser exportada. Este critério excluiria todas as obras de arte existentes em museus portugueses que estejam cá há centenas de anos, mas tenham sido importadas e sejam representativas de outras culturas.

Talvez um outro critério: qualquer obra de arte com um historial em território português. Inclui obras há muitos anos em território português, e até impede a venda dos Jerónimos (estou a prever que num hipotético debate, sobre venda de Mirós, se fale na venda dos Jerónimos às peças). No entanto, este critério falha quando estão envolvidos tesouros nacionais dispersos pelo mundo e que alguém consiga importar. Imaginem uma edição antiga dos Lusíadas perdida algures no mundo.

A combinação dos 2 critérios talvez seja muito melhor: qualquer obra de arte com ligação à cultura portuguesa e/ou com um historial em território português. Claro que este critério exclui os hipotéticos Mirós. Exclui qualquer obra de um autor estrangeiro, sem ligação a Portugal, importados recentemente. A questão é se deve excluir e quais seriam as consequências? Bem, a consequência mais óbvia é que a importação por privados de obras de arte seria desincentivada. Ninguém está interessado em importar obras de arte se depois não puder revender livremente. A extensão do desincentivo dependerá do tipo de compensação que o estado esteja disposto a dar aos proprietários. Mas o desincentivo existe. Se queremos que as obras de arte de autores contemporâneos venham para Portugal teremos que ter muito cuidado com as limitações às exportações que são impostas.

Pronto, é tudo. Não fiquem a pensar que existem por aí uns Mirós que o governo neoliberal do Passos Coelho quer vender. Inventei a história para dar algum picante ao post. O importante aqui era discutir os princípios base que devem reger a exportação de obras de arte.
Título, Imagem e Texto: João Miranda, Blasfémias, 15-02-2014

Um comentário:

  1. Alexandre Carvalho da Silveira15 de fevereiro de 2014 às 15:12

    A Lusa pateguice e os Mirós

    De um comentário no Blasfémias :
    Alexandre Carvalho da Silveira
    15 Fevereiro, 2014 13:24

    Antes de gastar 35 milhões num conjunto de 85 quadros que à excepção de três ou quatro tem um valor artístico menor, o estado tem onde gastar muito melhor esse dinheiro, nomeadamente no património monumental que está a cair aos bocados por esse país fora. Mas parece que os indignadinhos do costume, não estão muito preocupados com isso. Se os Mirós em causa fossem importantes, nunca teriam saído de Espanha. A lusa pateguice não tem limites numa cáfila “lesboeta” que se acha culturalmente evoluída lá porque já foi ao teatro a Paris.

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