É um segredo muito bem
guardado, de que ninguém fala, mas parece que um dos bancos que o Estado
nacionalizou tinha uns quadros de um autor famoso. Dizem que é o Miró, mas há
quem fale em Picasso, Cézanne, Renoir ou qualquer outro nome que consigam
encontrar na Piquipédia. Tive acesso a alguma informação, mas não confirmo nem
desminto que o quadro que ilustra este post pertença à colecção do tal banco.
Pode tudo não passar de um boato. Provavelmente é um boato, caso contrário o
assunto já teria gerado vasta indignação. Afinal o governo prepara-se para
vender o património artístico nacional. ATENÇÃO, O GOVERNO QUER VENDER A ARTE!
Continuam calmos?
Mas não era do caso concreto
que eu queria falar, digo, do caso hipotético, não levem muito a sério a
possibilidade de existirem Mirós escondidos nas arcas do BPP. Vamos pensar em
termos abstractos: em que condições é que o Estado deve impedir a exportação de
arte para o estrangeiro?
Um critério geral poderia ser
algo como: qualquer obra de arte com ligação à cultura portuguesa não pode ser
exportada. Este critério excluiria todas as obras de arte existentes em museus
portugueses que estejam cá há centenas de anos, mas tenham sido importadas e
sejam representativas de outras culturas.
Talvez um outro critério:
qualquer obra de arte com um historial em território português. Inclui obras há
muitos anos em território português, e até impede a venda dos Jerónimos (estou
a prever que num hipotético debate, sobre venda de Mirós, se fale na venda dos
Jerónimos às peças). No entanto, este critério falha quando estão envolvidos
tesouros nacionais dispersos pelo mundo e que alguém consiga importar. Imaginem
uma edição antiga dos Lusíadas perdida algures no mundo.
A combinação dos 2 critérios
talvez seja muito melhor: qualquer obra de arte com ligação à cultura portuguesa
e/ou com um historial em território português. Claro que este critério exclui
os hipotéticos Mirós. Exclui qualquer obra de um autor estrangeiro, sem ligação
a Portugal, importados recentemente. A questão é se deve excluir e quais seriam
as consequências? Bem, a consequência mais óbvia é que a importação por
privados de obras de arte seria desincentivada. Ninguém está interessado em
importar obras de arte se depois não puder revender livremente. A extensão do
desincentivo dependerá do tipo de compensação que o estado esteja disposto a
dar aos proprietários. Mas o desincentivo existe. Se queremos que as obras de
arte de autores contemporâneos venham para Portugal teremos que ter muito
cuidado com as limitações às exportações que são impostas.
Pronto, é tudo. Não fiquem a
pensar que existem por aí uns Mirós que o governo neoliberal do Passos Coelho
quer vender. Inventei a história para dar algum picante ao post. O importante
aqui era discutir os princípios base que devem reger a exportação de obras de
arte.
Título, Imagem e Texto: João Miranda, Blasfémias, 15-02-2014
A Lusa pateguice e os Mirós
ResponderExcluirDe um comentário no Blasfémias :
Alexandre Carvalho da Silveira
15 Fevereiro, 2014 13:24
Antes de gastar 35 milhões num conjunto de 85 quadros que à excepção de três ou quatro tem um valor artístico menor, o estado tem onde gastar muito melhor esse dinheiro, nomeadamente no património monumental que está a cair aos bocados por esse país fora. Mas parece que os indignadinhos do costume, não estão muito preocupados com isso. Se os Mirós em causa fossem importantes, nunca teriam saído de Espanha. A lusa pateguice não tem limites numa cáfila “lesboeta” que se acha culturalmente evoluída lá porque já foi ao teatro a Paris.