quinta-feira, 7 de maio de 2015

Homenagem à inveja

José Manuel Moreira
A fortuna dos Bill Gates e os descontos dos Belmiros irritam os muitos idiotas úteis que se dão ao luxo de tanto apoiar políticas de fabricação de pobres como de denunciar as desigualdades indevidas.

A vinda à Gulbenkian de T. Piketty, autor de "O Capital no Século XXI", foi um ponto alto na onda de indignação contra a concentração da riqueza. Onda que, com este académico-estrela pop, deu em calhamaço de 700 páginas. A culpa é do capitalismo e dos mecanismos de mercado, daí a exigência de aumento de impostos sobre os ricaços para a devida redistribuição.

Os dados são discutíveis, mas a argumentação encantou os ressentidos que desejam desalojar quem está sentado em cima de tanto dinheiro e propriedades para dar lugar aos que se querem sentar em cima do Estado. Um ódio aos herdeiros que justifica a crença no "novo Marx": que presume saber quando a desigualdade é excessiva e como "regular" o capitalismo. Estendendo a passadeira vermelha aos homens do sistema - "o Demónio não soube o que fez quando criou o homem político: enganou-se, por isso, a si próprio" (Shakespeare). Com aval a um Estado perverso que, depois de endividar os filhos e os obrigar a emigrar, sorteia carros e premeia cobradores. Sem que o escol progressista que desconfia dos políticos, mas ama este Estado, se ocupe da relação entre a concentração da riqueza e o excesso de intervencionismo. Ou se preocupe com o enriquecimento dos políticos e ditadores do planeta.

Estranha-se que nas 700 páginas Böhm-Bawerk não apareça, apesar das 70 referências a Marx que, diz-se, deixou "O Capital" reduzido ao 1º volume depois de ter lido o "austríaco". Escola que o levaria a não deixar tão de fora o capital humano e a perceber como a tecnologia e a globalização obrigam os mais ricos a dar lugar a outros. Descobrindo que o termómetro para medir a riqueza (ou a pobreza) é a quantidade de bens e serviços que a maioria da população pode adquirir, não a concentração da propriedade. Assim sendo, como explicar tanta popularidade deste rock-star da economia?

O psiquiatra T. Dalrymple em "Jardim da Inveja de Piketty" (Mises Brasil) toma o sucesso do livro como homenagem ao nível de inveja - palavra final de "Os Lusíadas" - que impera entre nós. Daí que a fortuna dos Bill Gates e os descontos dos Belmiros irritem tantos idiotas úteis: que se dão ao luxo de tanto apoiar políticas de fabricação de pobres como de denunciar as desigualdades indevidas. Os mesmos que aplaudem o tratado sobre economia política do ressentimento numa Fundação que não existiria se na altura o tal imposto sobre o capital de Piketty já tivesse vingado. Um imposto global que para evitar fugas terá de ser garantido por uma autoridade mundial com poder para o estabelecer, arrecadar e impingir.

Uma espécie de União Europeia gigante, que, por certo, não descuidará a necessidade da nomenklatura desse governo supremo mundial dispor de um paraíso fiscal para lá colocar o seu próprio dinheiro. Note-se que Cuba nem aparece na nova Bíblia e o diabo do Hollande, que avançou e recuou no tal imposto, tem sido exorcizado pela fé progressista que entre nós já tem 12 apóstolos e romagens a Évora:
Quiçá para pagamento adiantado do imposto sucessório? 
Título e Texto: José Manuel Moreira, Diário Económico, 7-5-2015

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