segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

[Daqui e Dali] Mérito ou antiguidade?


Humberto Pinho da Silva

Durante muitos anos, a antiguidade, era – como se costumava dizer, – um posto. As promoções, dependiam dos anos de serviço, da assiduidade à empresa ou firma. Nas últimas décadas, implantou-se – e bem, – o mérito.

Digo e bem, quando o mérito não depende da cor política, credo, amizade ou outra coisa mais, que, por respeito ao leitor, peço licença para não revelar.

Conheci – já lá vão muitos anos, – pobre homem, que mourejou toda a vida na mesma empresa.

Doente, com sacrifício, apresentava-se no local de trabalho, tentando, com esforço e dedicação, ser leal aos superiores hierárquicos.

Os anos correram… e muitos foram os que visaram, ao verem-no na tarefa de aumentar a receita da empresa:
“Vais receber a medalha de cortiça! Ninguém reconhece!…”
Mas o homem, na sua inocência, pensava lá consigo: “Um dia alguém há-de fazer-me justiça.”

Os colegas de trabalho, riam-se à socapa, do zelo e do propósito em tudo contribuir para o enriquecimento da firma.

Por fim, já tinha trinta anos de casa, alguém lembrou-se de o louvar. Foi motivo de orgulho. Não pelo louvor, mas pelo reconhecimento.

Andava alegre como um cuco; como sino em dia de Aleluia, quando o chamaram ao gabinete do diretor. Entrou radiante. Sabia que se preparava importante reestruturação. Reestruturação, que equivalia a aumento de salário. Semanas antes, garantiram-lhe que as alterações, em nada o iriam prejudicar.

Diante do diretor, este, após agradecer a dedicação e lealdade, disse-lhe:
“Como sabe, vai haver reestruturação de serviço, e o senhor vai ser dispensado… Por mim, ficava, mas eles não querem!…”

O pobre homem teve um desfalecimento.
”Mas, senhor doutor… – balbuciou a medo, gaguejando. - Quem são eles?!”
“Foram eles! Foram eles!” – pronunciou o diretor, em voz intimadora, e saiu, deixando o ingénuo trabalhador atónito.

Colocaram-no – como se costuma dizer – na prateleira, esperando a chegada da reforma. Pelo menos tiveram a caridade de o tratarem com respeito e dignidade.
Disseram-lhe, então, que fosse para o tribunal. Que fosse ao sindicato… Mas, no íntimo, sabia que nada adiantava.

Um dia, encontrei-o, já no final da vida, amargurado. Voltou-se para mim, deu-me um abraço servil, e declarou:
“Podia ter reforma mais confortável, mas acreditei que zelando pelos interesses da empresa, era bastante… Disseram-me para me queixar… Olhe, aguardo que tudo seja resolvido no Tribunal de Cristo… Mas ainda penso de mim para mim: que força tão poderosa era,  que conseguiu abafar a consciência de homem que parecia tão corajoso?”

A dedicação, infelizmente, não chega… é preciso alguma coisa mais… para se ser promovido e singrar na vida…

Mas isso não é para gente simples que acredita na justiça humana e na palavra dos homens.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva

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5 comentários:

  1. Muitos comentam sobre antiguidade e mérito.
    Nas forças armadas existe isso.
    Nelas encontramos primeiro a senioridade pelo mérito antes da antiguidade.
    Na aviação não adianta contratar um excepcional piloto com milhares de horas de voo, ele sempre será novato, obedecerá senioridade, mérito e antiguidade.
    A VARIG sofre esse carma. Primeiramente eram escolhidos para o colégio deliberante os mais antigos na empresa, e muitos sem capacidade para exercer tal cargo. Nunca houve mérito, a antiguidade era parâmetro avesso ao mérito. Depois formaram um grupo que elegia representantes pelo mérito de quem indicou. Assim muitos com capacidade foram dispensados.
    Deu a bancarrota feita por imbecis.
    Nas forças armada o cargo de transição do oficialato ao estado maior é o de MAJOR, os pretendentes embora antigos e com lista de senioridade só passam por mérito. Major é um cargo de referência para aposentadoria no oficialato ou o final de carreira para quem não obteve mérito para ser do estado maior.
    Assim tripulantes hábeis não trocam de empresas por esse motivo, só saem quando empresas aéreas fecham suas portas.
    Não é injustiça nenhuma não promover funcionários dedicados sem capacidade, quando não evoluíram em seus tempos ociosos.
    O colégio deliberante da VARIG conseguiu retroceder a evolução.
    Cito um exemplo maravilhoso:
    A diretoria de operações da VARIG teve Carlos Homrich que fez o voo inaugural do 707 para Tóquio em 28 de junho de 1968, alguns anos depois o Comerlatto.
    fui...

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  2. Comerlatto morreu com a frustração de não er conseguido ser presidente da RG!
    Paizote

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