JL Braga
A sátira sempre foi uma arma poderosa de contestação
política. A esquerda, historicamente, usou-a com entusiasmo para criticar
instituições conservadoras, figuras religiosas e políticos de direita
Caricaturas do Papa João Paulo
II com um preservativo enfiado no nariz, por exemplo, foram defendidas como
expressão legítima da liberdade de expressão — um direito sagrado, mesmo quando
ofensivo para os sentimentos religiosos de milhões.
No entanto, quando Donald Trump partilha uma imagem sua, criada por inteligência artificial, vestido de Papa, numa mistura de provocação, exagero e auto humor, os mesmos setores que antes celebravam o humor transgressor mostram-se subitamente indignados. Chamam-lhe “blasfémia”, “narcisismo”, “culto de personalidade”, ignorando que a sátira também pode ser autorreferencial e que, por vezes, o exagero faz parte do jogo político e mediático.
Há aqui uma hipocrisia evidente: a liberdade de expressão e o direito ao humor são louvados quando servem causas progressistas, mas rapidamente condenados quando vêm da boca (ou do teclado) de figuras à direita — especialmente uma tão polarizadora como Trump. O problema, afinal, não parece ser o conteúdo da sátira, mas sim quem a pratica.
Esta incoerência mina a
credibilidade do discurso da própria esquerda. Ao tentar controlar o que pode
ou não ser alvo de humor, assume o mesmo tipo de censura que tantas vezes
criticou. O humor, para ser livre, tem de valer para todos — mesmo para aqueles
de quem não se gosta.
Título e Texto: JL Braga, Facebook, 4-5-2025, 11h20
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