Alberto José
Depoimento do suposto comissário para Bárbara Moura
“A gente transava na
decolagem”: Ex-comissário da Varig relembra os bastidores proibidos da
aviação.
Ex-comissário de bordo da
extinta Varig relembra experiências inusitadas em voos. Você já parou
para pensar nas situações inusitadas que podem acontecer nos bastidores de um
voo - e que muitos passageiros nem imaginam!
A.H. 45 anos, ex comissário de
bordo trabalhou por dois anos na extinta companhia aérea Varig, quando tinha
apenas 20 anos. Tempo suficiente para presenciar momentos curiosos - de
cantadas até mesmo sexo entre os membros da tripulação.
A.H. sempre teve o desejo de
conhecer o mundo, e encontrou na aviação uma oportunidade de “viajar de graça”.
Na época, ele estagiava em um banco e cursava faculdade de administração.
“Meu pai tinha falido, então, eu não tinha dinheiro para viajar. Por isso,
decidi fazer o curso de comissário de bordo”, explica.
A partir daí, ele viajou por
24 estados brasileiros e por sete países: Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile,
Peru, Estados Unidos e Reino Unido.
Segredos da aviação
Na Varig, os comissários tinham direito a pedir um voo por mês, para onde quisessem - nem sempre o pedido era atendido, mas segundo ele na maioria das vezes, era. Em voos como esse, a tripulação costumava fazer a “feira” dentro do avião: pegando todos os tipos de bebida alcoólica da aeronave porque não havia controle.
“Hoje, eu sei que tem
controle, mas a gente pegava e ficava bebendo no hotel. A gente fazia
voo de amigos. Pedíamos um voo inativo, ficávamos dois dias em Manaus,
em um hotel com zoológico dentro, que, na época, era da própria companhia.
Ficávamos bebendo, rindo, fazendo encontros na piscina, curtindo mesmo. A gente
escolhia até o comandante mais legal para fazer o voo”, conta. Já em voos
comerciais, havia algumas regras, como: os comissários não podiam transar à
bordo. No entanto, os tripulantes costumavam quebrá-la.
A
gente transava. A gente fazia no pouso e na decolagem, que aí tá todo
mundo sentadinho e com o cinto de segurança. Eram coisas mais amenas, claro,
mas rolava. A adrenalina, o proibido são mais gostosos ... Era massa.
Acontecia, não com muita frequência, mas acontecia”.
Outra regra um tanto quanto
curiosa, era o fato de leitura ser proibida durante o voo, pois os comissários
deveriam estar sempre atentos. “A cada capital que chegávamos, entrava uma
pilha de jornais locais e revistas. Em voos longos, eu ficava lendo muito. Era
proibido, mas todo mundo lia. Você ia ficar fazendo o que durante 5 horas
parado?”, diz. A partir dessas leituras, ele descobriu sua nova paixão: o
jornalismo.
A.H. conciliou o trabalho com as aulas da
faculdade, e se graduou em 2006. “Foi quando vi que queria estar no lugar do
passageiro. Mas, eu aprendi muita coisa na aviação, fiz muitos treinamentos.
Era muito bom. Eu venho de uma cidade de 26 mil habitantes, e ir para o mundo,
dessa forma, foi um tesouro. Poder expandir meus horizontes, meu olhar para a
vida, ter um banho de cultura ... Foi incrível”, analisa.
Fetiche em comissário
A.H. conta que alguns
passageiros tinham um certo fetiche nos comissários. Apostando em tentativas de
flertes. “Acredito que pelo uso do uniforme, exista um fetiche. Eu recebia
muitas cantadas, de homens e de mulheres. Na época, era comum entregar cartão
de visita. Hoje. É diferente, você pode olhar o nome do comissário na roupa e
procurar pelas redes sociais”, relembra. Em um voo de São Paulo para
Salvador, um passageiro entregou um cartão de visitas e sugeriu um passeio pela
capital baiana com A.H., que logo desconversou.
Seis meses depois, na mesma
rota, o mesmo cliente entrou na aeronave. “Na hora eu reconheci, mas me fiz de
louco. Ele me entregou um cartão de visitas, de novo, mas eu não entrei em
contato. Sempre usei senhor e senhora para me referir aos passageiros, para
criar uma barreira e evitar essa aproximação”, conta.
Ele relembra que, durante os
treinamentos, a companhia não dava instruções sobre como lidar com esse tipo de
situação – e nem reforçava se era proibido se relacionar com passageiros.
“Nunca aconteceu de ser alguém que eu quisesse ficar, que eu tivesse interesse.
Se fosse o caso, talvez, eu teria agido de forma diferente”, avalia.
Celebridades a bordo
Durante seus três anos como
comissário, A.H. atendeu diversos nomes conhecidos ao longo dos voos, como
Ivete Sangalo, Carla Perez e Sérgio Reis. “A Ivete quando ia entrar a bordo era
uma loucura. Ficava todo mundo falando: Meu Deus, a Ivete vai entrar. Carla
Perez pegou voo comigo, foi super simpática”, explica.
Na sua experiência com Sérgio
Reis, foi um dos casos em que uma passageira queria tirar foto com o artista, e
pediu sua ajuda. “Ela pediu: Pelo amor de Deus, eu preciso tirar foto com
ele, sou muito fã. E ele, foi super solícito, levantou da poltrona dele e foi
lá na frente tirar foto com ela. Mas, tinha outros famosos que entravam com o
produtor e nem dirigiam a palavra aos comissários”, diz, sem citar nomes.
Título e Transcrição: Alberto
José, ex-Comissário de Voo na Varig, 9-5-2025
Matéria (e foto) originalmente publicada n’ O Globo, 7-5-2025, 8h
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