A Venezuela perde espaço no
mercado petroleiro dos EUA e a SUA economia está em queda livre
Francisco Vianna
Quando o tiranete venezuelano
– hoje moribundo ou, segundo uns, já morto –, Hugo Chávez, passou a usar sua
retórica incendiária antiamericana, chegou a ameaçar em mais de uma ocasião em
suspender o fornecimento de petróleo às empresas estadunidenses, sob o olhar
paciente de Washington. Os americanos, por sua vez, sabiam perfeitamente que o cumprimento
dessas ameaças era impraticável, uma vez que a estatal PDVSA não conseguiria no
mercado petroleiro outro comprador ou conjunto de compradores que substituíssem
as empresas americanas, mostrando também um profundo desconhecimento da
realidade desse mercado.
Um operário da estatal PDVSA checa um painel de controle num complexo petroleiro em Anzoategui, Venezuela, em 2004. Foto: Juan Carlos Hernandez/Bloomberg |
Mas os EUA acabaram tendo que
comprar menos petróleo cru venezuelano há cerca de alguns anos, não
necessariamente como punição ou sanções impostas ao governo socialista
‘bolivariano’, mas por mudanças drásticas no mercado e as dívidas gigantescas
contraídas pelo regime de Chávez com os governos chinês e russo.
Assim, a participação da Venezuela
no mercado americano está sendo ameaçada e poderá ser reduzida a níveis
irrelevantes no médio prazo, em função do aumento significativo da oferta de
petróleo doméstico – com a produção de novas e extraordinárias jazidas
continentais estadunidenses – e do Canadá, como afirmam os especialistas.
Tal situação, aliada à
gradativa diminuição da produção venezuelana, traz sérias implicações para o
futuro da economia desse país, cuja dependência da renda do petróleo tem
aumentado muito nas últimas décadas, o que poderá acabar empurrando a nação sul-americana
para os braços da China. De certa forma, é tudo o resultado da falta de visão
de quem tem manipulado a arrecadação venezuelana ao longo dos últimos anos,
achando que o manancial petroleiro do país era inesgotável, e acabando por
fazer a Venezuela perder o bonde da história, por um lado ao fazerem pouco caso
de seu principal cliente, os Estados Unidos, e por outro ao se descuidarem da
saúde de sua outrora florescente indústria petrolífera, explicaram os
analistas.
Um ex-gerente da PDVS comentou
que “na Venezuela, todas as oportunidades foram desperdiçadas e suas rendas
malversadas”. “O país poderia estar hoje produzindo, pelo menos, 4,8 milhões de
barris dia, sem que o aumento da produção tivesse afetado os preços de mercado
da mercadoria, porque a única coisa que tínhamos que ter feito era pedir à OPEP
que permitisse que o país assumisse a participação para cobrir o vazio deixado
pelos outros países que não podiam produzir naquela ocasião. Atualmente, a
Venezuela só produz 2,5 milhões de barris/dia e seu parque industrial está
caindo aos pedaços por má manutenção”, explicou.
Foto de uma plataforma petrolífera pertencente à estatal PDVSA no Lago Maracaibo. Foto: Ana Maria Otero/AP |
Um aumento da produção dessa
ordem teria que ser seguido por uma sólida política de investimento com base
apenas técnica para que a estatal petroleira venezuelana pudesse consolidar a
infraestrutura comercial e industrial necessária para garantir que o petróleo
cru adicional venezuelano pudesse ser colocado com sucesso no mercado
estadunidense uma vez que, apesar da hostilidade do chavezismo em relação a
Washington, os EUA continuam sendo o cliente que melhor o paga.
Mas agora que a produção de
petróleo está aumentando consideravelmente na América do Norte, os analistas
acreditam que uma possível, embora improvável, aumento da oferta por parte da
Venezuela acabe sendo desprezada. “A autossuficiência dos Estados Unidos não
vai acontecer da noite para o dia, mas, pelo que se pode ver, é que a América
do Norte, com o esperado aumento sustentado e prolongado da sua produção no
Canadá, nos Estados Unidos e inclusive no México, possa, sim, levar a região à
não precisar mais importar o petróleo que consome por um período muito
duradouro embora ainda não calculado”, comentou Juan Fernández, um ex-diretor
executivo de planejamento da PDVSA.
Segundo os cálculos da Agência
Internacional de Energia, os Estados Unidos estão em vias de se converter no
primeiro produtor mundial exportador de petróleo dentro de cinco anos. O país
hoje ainda importa em torno de 39% do petróleo cru que consome, mas alguns
analistas dizem que, inclusive, poderá não precisar importar mais a mercadoria
ainda este ano.
A razão desse esperado aumento
sustentado se deve em grande parte aos desdobramentos tecnológicos da produção
de hidrocarbonetos não convencionais, de gás natural e de petróleo de xisto
betuminoso, assim como nas imensas jazidas de “tight oil” (petróleo de
formações minerais compactas), cuja extração durante muito tempo era difícil y
considerada muito dispendiosa.
A evolução tecnológica está
criando um ‘boom’ petroleiro no estados de Norte Dakota, Montana, Texas e
Louisiana. Para este ano, a produção de petróleo nos Estados Unidos está
prevista aumentar em 490 mil barris/dia, para alcançar uma média de 10,4
milhões de barris/dia, de acordo com um relatório da OPEP. Tal incremento na
produção levou os EUA a reduzir a importação de petróleo de 60 por cento do
petróleo cru que consumia em 2006 a apenas 33 por cento, estimado para 2014,
sem levar em conta as imensas reservas estratégicas que têm acumulado em seu
território.
Mas o maior risco para o
petróleo venezuelano neste momento provém do Canadá, país que tem estado a
aumentar de modo acelerado a produção de petróleos pesados de características
similares à do país sulamericano. A construção proposta do Oleoduto
Transcanadense, que ainda aguarda aprovação, poderá levar para os Estados
Unidos a exportação de 1,5 milhões de barris/dia de petróleo extrapesado azedo
— similar ao venezuelano — já em 2015, a um custo significativamente menor, o
que deixaria o petróleo venezuelano em situação muito ruim para competir.
A perda do mercado
estadunidense forçaria a Venezuela a depender cada vez mais da China, país que
já exerce uma grande ingerência econômica na nação sulamericana. Os atuais
dirigentes venezuelanos, alimentados pela incongruente ideologia chavezista de
buscar a independência econômica dos Estados Unidos, já começam a ver a
profunda estupidez que constitui a possível perda dos grandes recursos financeiros
para os cofres de Caracas, uma vez que os altos custos de transporte de envios
para a Ásia significa que o petróleo deverá ser entregue com um elevado
desconto, sem falar na pechincha que os chineses farão por causa da falta de
opções de mercado da PDVSA, conforme o analista Antonio De La Cruz.
Ainda assim, a Venezuela
parece determinada em criar as condições que fatalmente a levarão a perder sua
posição no mercado estadunidense. “A Venezuela está focada na China e anunciou
há uns dias que vai começar a dar a esse país um milhão de barris/dia, no que
será um aumento de 600.000 barris/dia, que o país estará deixando de enviar aos
Estados Unidos”, comentou De La Cruz.
A exportação de petróleo para
os EUA cairia dos atuais 800.000 barris/dia a apenas 200.000 barris/dia e essa
queda teria um sério impacto negativo nas finanças públicas de Caracas porque
não apenas receberiam menos – pelos descontos e os custos muito maiores de
transporte – como também uma parte significativa desses envios será para começar
a pagar dívidas já feitas com Pequim. Ou seja, a Venezuela não obterá rendas
numa porção significativa dessas remessas porque o país asiático já pagou por
eles.
Caracas já sente grandes
pressões fiscais, enfrenta grandes problemas de liquidez, e quer capital
fresco, porque os empréstimos já foram consumidos em forma de alimento e de
armamento e o único dinheiro que está entrando na Venezuela atualmente é o que
lhe paga os americanos “imperialistas”, comentou De La Cruz. “E agora o governo
terá que reduzir as remessas aos Estados Unidos em algo em torno de 75 por
cento, gerando uma situação muito difícil para o atual governo, que não terá
recursos sequer para pagar o que deve e vai ter que tomar medidas drásticas
para tentar evitar um colapso econômico”.
Se considerarmos as
dificuldades pelas quais o povo venezuelano está passando, graças ao desastrado
“socialismo do século XXI”, que causou um enorme êxodo de capitais e de
cérebros, não é difícil admitir que a Venezuela esteja fadada a se transformar
em pouco tempo numa espécie de Coreia do Norte sul-americana.
Título, Imagens e Texto: Francisco Vianna (da mídia
internacional), 30-01-2013
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