Reinaldo Azevedo
Pois é… Se o debate político —
e, com frequência, a cobertura jornalística — em terras nativas lembra, às
vezes, os hospícios, no cenário externo, a coisa não chega a ser o elogio da
razão, especialmente nestes tempos em que o mundo está sob a égide de Barack
Obama, o Demiurgo das Esferas, aquele que veio para mudar o mundo para muito
melhor, ainda que as coisas, por enquanto (claro!), possam ter piorado
bastante.
As agências internacionais
informam que o general Carl Ham, chefe das forças americanas na África, disse que o Pentágono falhou ao
treinar as tropas do Mali no combate aos terroristas islâmicos. Grupos ligados
a direitos humanos — QUAIS GRUPOS??? — denunciam o uso desmedido da violência.
“Nós estávamos focando o treinamento exclusivamente em questões técnicas ou
táticas. Nós não usamos o tempo necessário para focar em valores, ética e
caráter militar”, afirmou Ham. Nos tempos de Santo Obama, é preciso exercitar
permanentemente a culpa para demonstrar que o “imperialismo tem coração”…
Tropas francesas chegam à cidade de Diabaly, palco de conflitos com rebeldes islâmicos no Mali. Foto: Issouf Sanogo/AFP |
Num evento aparentemente sem
importância, a síntese de grandes erros. Vamos ver.
Não descarto, por óbvio, que
os dois lados pratiquem atrocidades, e acho que nem é preciso dizer por quê.
Conflitos que juntam ódio étnico e ódio religioso não reconhecem ética de
guerra. O ponto que me interessa é outro. Que “grupos” de direitos humanos são
estes?
O lobby mais organizado e mais
eficiente que conheço, em escala planetária, é o do extremismo islâmico.
Ninguém é tão competente em pautar a imprensa ocidental quanto essa turma.
Como, em regra, os jornalistas do Ocidente estão sempre se perguntando “onde
foi que erramos com essa pobre gente?”, então “essa pobre gente” dita o lead e
o espírito da cobertura. Pensemos um pouco.
Alguém ouviu falar em
transgressão aos direitos humanos praticadas pelas forças que se opunham a
Muamar Kadafi? Não! Eram os “libertadores de Benghazi”, embora as evidências de
massacres, praticados com o auxílio da Otan, fossem escandalosas. A violência,
diga-se, das forças que estariam promovendo a “Primavera Árabe” é ignorada pela
imprensa. Parece que só os governos sob ataque praticam atrocidades.
Eu quero que os ditadores
carniceiros da África ou do Oriente Médio se danem. Mas quero saber quem se
apresenta para substituí-los e com que propósito. Ninguém precisava ser
adivinho para saber o que se seguiria à queda de Muamar Kadafi na Líbia.
Tenta-se agora, a todo custo, torcer os fatos para livrar a cara dos que
fizeram a pior escolha: as armas que circulam livremente entre os terroristas
seriam de forças que atuaram em favor de kadafi, dizem… Uma ova! Ainda que isso
exista também, os jihadistas encontraram na Otan a aliada ideal. Obama, Sarkozy
e Cameron limparam a área para que eles se instalassem, ATENÇÃO!,
definitivamente no Norte da África. De
agora em diante, o ponto é o seguinte: ou o Ocidente mantém soldados permanentemente
no Mali e na própria Líbia — só para começo de conversa —, ou toda aquela
região vira um novo ninhal do terrorismo.
Sabem por quê? Porque um
tirano como Kadafi não tinha apenas o domínio sobre Trípoli. A sua rede de
influência e de troca de favores se estendia por todas aquelas vastas solidões.
O Ocidente depôs ditadores — sim, sim, eles eram asquerosos! — com os quais
mantinha diálogo e entronizou forças hostis ao… Ocidente! “Ah, mas, ao menos,
cessou a rotina da carnificina!” Trata-se, como se sabe, de uma mentira
espetacular. E o próximo país a cair nas garras do terror é a Síria. Se o
açougueiro Bashar Al Assad não presta, esperem para ver o que vem depois.
É impressionante que os mesmos
críticos das intervenções americanas no Afeganistão e no Iraque acreditem que
Obama está desempenhando um grande papel no Oriente Médio e na África. Adoraria
ler um texto demonstrando que, com ele, o mundo ficou mais seguro e humano…
Mas volto
Mas avancei um tanto nas
digressões. Volto ao ponto. A notícia do mea-culpa do general Carl Ham é a cara
destes tempos. Os extremistas islâmicos, mais uma vez, colocam seus opositores
na defensiva e reivindicam o lugar das vítimas.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 25-01-2013
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