Leandro Roque
O economista americano Steve Hanke, professor de
economia aplicada da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, EUA, considerado
uma sumidade em assuntos monetários (foi ele quem acabou com todas as
hiperinflações das ex-repúblicas soviéticas no Leste Europeu, da Bósnia e da
Argentina), cunhou uma frase da qual todo cidadão comum jamais deveria se
esquecer. Hanke a rotulou de 'regra dos 95%': "noventa e cinco por
cento de tudo que é escrito sobre economia ou está errado ou é irrelevante."
Indignados em Madrid |
Tal regra é perfeitamente
aplicável para as análises feitas sobre o atual estado das economias
europeias. Segundo os especialistas, o problema está na tal
'austeridade', a qual estaria sendo imposta a todo o continente pelos malvados
alemães por motivos puramente sádicos, e estaria sacrificando os pobres gregos,
espanhóis e portugueses. Culpar a austeridade é uma postura que gera
aplauso fácil porque significa condenar cortes nos sagrados programas
assistencialistas europeus, os quais todos os economistas convencionais sonham
ver serem adotados universalmente em todos os países do Ocidente — adoção essa
que requereria a supervisão destes economistas, é claro.
Muito embora a "austeridade"
europeia esteja sendo feita não por meio exclusivo da redução de gastos, mas
sim por uma combinação entre redução de gastos e elevação de impostos — e, como mostrou Philipp
Bagus, os déficits orçamentários continuaram intocados —, ela não é a causa
precípua da prolongada recessão do continente.
Qual é então o problema?
Como tudo começou
Durante a década de 2000, os
países europeus, e mais acentuadamente Espanha, Portugal, Grécia e Irlanda,
vivenciaram tão explicitamente todas as etapas de um ciclo econômico descrito
pela Escola Austríaca, que tal exemplo deveria doravante figurar em todos os
escritos sobre o tema ciclos econômicos. O ciclo econômico vivenciado por
estes quatro países está sendo tão completo, que é difícil imaginar algum outro
exemplo prático que melhor ilustre aquilo que é descrito pela teoria austríaca.
A crise econômica e financeira
europeia começou da mesma maneira que se iniciam todos os ciclos econômicos:
por um processo de enorme expansão do crédito orquestrado pelo Banco Central
Europeu em conjunto com o sistema bancário de reservas fracionárias dos quatro
países citados. Tal processo de expansão do crédito consiste meramente em
um processo de criação de dinheiro do nada. E é assim em todo o mundo
atual.
Sempre que uma empresa ou um
indivíduo qualquer vão a um banco e pedem um empréstimo, o banco cria do nada
dinheiro eletrônico na conta-corrente deste tomador de empréstimo. O
dinheiro não foi retirado de nenhuma outra conta. Ele simplesmente foi
criado. O bancário apertou algumas teclas no computador e dígitos
eletrônicos surgiram na conta-corrente do mutuário. É assim que o
dinheiro entra na economia no sistema monetário atual e é assim que a
quantidade de dinheiro em uma economia aumenta. O sistema bancário destes
países europeus, atuando sob a proteção e estímulo do Banco Central Europeu,
literalmente criou bilhões de euros para serem emprestados para empreendedores
e consumidores.
Veja a evolução do crédito na
Espanha, de janeiro de 2002 (ano da introdução do euro) até janeiro de 2009,
ano do início da crise.
Observe que o crédito concedido mais do que triplicou em apenas 7 anos, indo de
600 bilhões de euros para mais de 1,8 trilhão de euros.
Todo este processo de
concessão de crédito gerou quase que o mesmo efeito na oferta monetária do
país, que neste mesmo período saiu de 400 bilhões para 1 trilhão.[1]
(...)
(...)
Título e Texto: Leandro Roque, quinta-feira, 31 de
janeiro de 2013, Instituto Ludwig von Mises Brasil
Indicação: Vitor Grando Pereira
É lamentável que poucos, muito poucos, lerão este excelente artigo de Leandro Roque, (e refletirão), preferirão ventriloquar as diatribes dos seus "líderes" e insultar quem tenta fazer alguma coisa...
É lamentável que poucos, muito poucos, lerão este excelente artigo de Leandro Roque, (e refletirão), preferirão ventriloquar as diatribes dos seus "líderes" e insultar quem tenta fazer alguma coisa...
Vitor Grando 31/01/2013 16:03:32
ResponderExcluirAmigos, perdoem minha ignorância, mas pelo que eu tenho entendido disso tudo a crise se dá quando a oferta de crédito diminui e os juros aumentam, correto? Por que os bancos não podem simplesmente continuar ofertando crédito?
Sei que a pergunta é tola, mas não entendo de Economia.
Tory 31/01/2013 16:25:02
"É como se você fosse a um restaurante e, em vez de pagar a conta inteira, pagasse só a metade, e prometesse pagar o resto e mais juros no dia seguinte. Porém, quando chegasse o dia seguinte, você faria um acordo com o dono do restaurante e, novamente, pagaria apenas a metade da conta daquele dia e empurraria todo o resto acumulado para o dia seguinte. E assim você iria fazendo todos os dias. Quando chegasse o fim do mês, o dono, desconfiado de que você iria dar o calote, simplesmente lhe apresentaria a conta total, com principal e juros acumulados, e exigiria o pagamento, não dando chances para mais rolamentos de dívida."
O banco é o restaurante.
Leandro 31/01/2013 16:39:53
Vitor, como explicado no artigo, a expansão do crédito gera aumento de preços. Chega-se a um ponto em que os bancos terão necessariamente de subir os juros dos seus empréstimos, pois se eles não aumentarem os juros cobrados, eles simplesmente receberão -- no momento da quitação do empréstimo -- um dinheiro com um poder de compra menor do que o que esperavam receber quando concederam o empréstimo.
Caso a expansão do crédito continuasse eternamente, haveria hiperinflação e destruição total da moeda.
Misão 31/01/2013 18:33:59
O dinheiro é jogado na economia.
O número de bens não aumenta na mesma velocidade.
Logo o dinheiro desvaloriza (existe relativamente mais dinheiro em relação aos bens disponíveis).
O dinheiro desvaloriza = preços aumentam.
Com esse aumento de preços, VULGARMENTE, conhecido como inflação, os bancos tem que aumentar os juros, do contrário ele estar perdendo dinheiro.
Ex. Empresta 100 por um ano
"inflação": 6%
Juros 7,5 %:
no final do ano, com o pagamento 107,50
Agora considere o seguinte:
empréstimo 100
"inflação": 8%
Juros: 5 %
recebe no final 105
Perdeu 3 pela inflação. Era melhor ter investido em algo que pelo menos pague a inflação.
Bem, é a maneira como vejo!
A pergunta não é tola