quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Explicando a recessão europeia

Leandro Roque
Indignados em Madrid
O economista americano Steve Hanke, professor de economia aplicada da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, EUA, considerado uma sumidade em assuntos monetários (foi ele quem acabou com todas as hiperinflações das ex-repúblicas soviéticas no Leste Europeu, da Bósnia e da Argentina), cunhou uma frase da qual todo cidadão comum jamais deveria se esquecer.  Hanke a rotulou de 'regra dos 95%': "noventa e cinco por cento de tudo que é escrito sobre economia ou está errado ou é irrelevante."
Tal regra é perfeitamente aplicável para as análises feitas sobre o atual estado das economias europeias.  Segundo os especialistas, o problema está na tal 'austeridade', a qual estaria sendo imposta a todo o continente pelos malvados alemães por motivos puramente sádicos, e estaria sacrificando os pobres gregos, espanhóis e portugueses.  Culpar a austeridade é uma postura que gera aplauso fácil porque significa condenar cortes nos sagrados programas assistencialistas europeus, os quais todos os economistas convencionais sonham ver serem adotados universalmente em todos os países do Ocidente — adoção essa que requereria a supervisão destes economistas, é claro.
Muito embora a "austeridade" europeia esteja sendo feita não por meio exclusivo da redução de gastos, mas sim por uma combinação entre redução de gastos e elevação de impostos — e, como mostrou Philipp Bagus, os déficits orçamentários continuaram intocados —, ela não é a causa precípua da prolongada recessão do continente.
Qual é então o problema? 
Como tudo começou
Durante a década de 2000, os países europeus, e mais acentuadamente Espanha, Portugal, Grécia e Irlanda, vivenciaram tão explicitamente todas as etapas de um ciclo econômico descrito pela Escola Austríaca, que tal exemplo deveria doravante figurar em todos os escritos sobre o tema ciclos econômicos.  O ciclo econômico vivenciado por estes quatro países está sendo tão completo, que é difícil imaginar algum outro exemplo prático que melhor ilustre aquilo que é descrito pela teoria austríaca.
A crise econômica e financeira europeia começou da mesma maneira que se iniciam todos os ciclos econômicos: por um processo de enorme expansão do crédito orquestrado pelo Banco Central Europeu em conjunto com o sistema bancário de reservas fracionárias dos quatro países citados.  Tal processo de expansão do crédito consiste meramente em um processo de criação de dinheiro do nada.  E é assim em todo o mundo atual. 
Sempre que uma empresa ou um indivíduo qualquer vão a um banco e pedem um empréstimo, o banco cria do nada dinheiro eletrônico na conta-corrente deste tomador de empréstimo.  O dinheiro não foi retirado de nenhuma outra conta.  Ele simplesmente foi criado.  O bancário apertou algumas teclas no computador e dígitos eletrônicos surgiram na conta-corrente do mutuário.  É assim que o dinheiro entra na economia no sistema monetário atual e é assim que a quantidade de dinheiro em uma economia aumenta.  O sistema bancário destes países europeus, atuando sob a proteção e estímulo do Banco Central Europeu, literalmente criou bilhões de euros para serem emprestados para empreendedores e consumidores.
Veja a evolução do crédito na Espanha, de janeiro de 2002 (ano da introdução do euro) até janeiro de 2009, ano do início da crise.

Observe que o crédito concedido mais do que triplicou em apenas 7 anos, indo de 600 bilhões de euros para mais de 1,8 trilhão de euros.
Todo este processo de concessão de crédito gerou quase que o mesmo efeito na oferta monetária do país, que neste mesmo período saiu de 400 bilhões para 1 trilhão.[1]
(...)
Título e Texto: Leandro Roque, quinta-feira, 31 de janeiro de 2013, Instituto Ludwig von Mises Brasil
Indicação: Vitor Grando Pereira

É lamentável que poucos, muito poucos, lerão este excelente artigo de Leandro Roque, (e refletirão), preferirão ventriloquar as diatribes dos seus "líderes" e insultar quem tenta fazer alguma coisa...

Um comentário:

  1. Vitor Grando 31/01/2013 16:03:32
    Amigos, perdoem minha ignorância, mas pelo que eu tenho entendido disso tudo a crise se dá quando a oferta de crédito diminui e os juros aumentam, correto? Por que os bancos não podem simplesmente continuar ofertando crédito?

    Sei que a pergunta é tola, mas não entendo de Economia.

    Tory 31/01/2013 16:25:02
    "É como se você fosse a um restaurante e, em vez de pagar a conta inteira, pagasse só a metade, e prometesse pagar o resto e mais juros no dia seguinte. Porém, quando chegasse o dia seguinte, você faria um acordo com o dono do restaurante e, novamente, pagaria apenas a metade da conta daquele dia e empurraria todo o resto acumulado para o dia seguinte. E assim você iria fazendo todos os dias. Quando chegasse o fim do mês, o dono, desconfiado de que você iria dar o calote, simplesmente lhe apresentaria a conta total, com principal e juros acumulados, e exigiria o pagamento, não dando chances para mais rolamentos de dívida."

    O banco é o restaurante.

    Leandro 31/01/2013 16:39:53
    Vitor, como explicado no artigo, a expansão do crédito gera aumento de preços. Chega-se a um ponto em que os bancos terão necessariamente de subir os juros dos seus empréstimos, pois se eles não aumentarem os juros cobrados, eles simplesmente receberão -- no momento da quitação do empréstimo -- um dinheiro com um poder de compra menor do que o que esperavam receber quando concederam o empréstimo.

    Caso a expansão do crédito continuasse eternamente, haveria hiperinflação e destruição total da moeda.
    Misão 31/01/2013 18:33:59
    O dinheiro é jogado na economia.
    O número de bens não aumenta na mesma velocidade.
    Logo o dinheiro desvaloriza (existe relativamente mais dinheiro em relação aos bens disponíveis).
    O dinheiro desvaloriza = preços aumentam.
    Com esse aumento de preços, VULGARMENTE, conhecido como inflação, os bancos tem que aumentar os juros, do contrário ele estar perdendo dinheiro.
    Ex. Empresta 100 por um ano
    "inflação": 6%
    Juros 7,5 %:
    no final do ano, com o pagamento 107,50

    Agora considere o seguinte:
    empréstimo 100
    "inflação": 8%
    Juros: 5 %
    recebe no final 105
    Perdeu 3 pela inflação. Era melhor ter investido em algo que pelo menos pague a inflação.

    Bem, é a maneira como vejo!

    A pergunta não é tola

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