O Soldado da PM acordou cedo.
Sua mulher havia feito o café, o pão do dia anterior foi aquecido no fogão e
ele, após colocar sua farda e equipamentos, se dirigiu ao Passat que ainda
estava pagando e seguiu para o seu Batalhão. Cumprimentou os colegas ao chegar
e após a formatura todos foram informados de uma rebelião num presídio.
O coração dispara, ele pensa
no tamanho daquele específico sistema prisional e na quantidade de marginais
que abriga, cada um mais perigoso e frio do que o outro. Mas é seu dever, sua
profissão de fé, seu sustento material. Ele acompanha impávidos seus colegas,
sempre seguindo ordens superiores, e adentra o presídio.
Em meio aos tiros, homens
enfurecidos, fumaça, ele tenta se defender, e nem sabe se algum tiro seu
atingiu alguém. Mas prossegue como lhe ensinaram no quartel, arma em punho,
disparando sempre que vislumbra uma ameaça, uma arma, vindos em sua direção. O
que mais pode fazer? Morrer?
Por um breve momento, pensa na
noite anterior, quando brincava no chão da sala, no tapete, com o filho amado.
Pensa na noite cheia de amor que sua esposa lhe dedicou. Tudo parece um sonho
distante.
Agora tudo acabou. Para o júri
sedento de sangue e certamente sob forte pressão, ele faz parte de um grupo de
justiceiros, matou os inocentes, que cumpriam pena somente por serem assassinos,
estupradores, pedófilos, traficantes, sequestradores, tarados, todos inocentes,
que não fariam nenhum mal aos soldados que ali entravam, se conseguissem
alcançar alguns deles.
Bom, agora tudo acabou, o
filho, a esposa, uma vida que se foi enquanto esse Soldado tentava cumprir seu
dever. Ficarão a saudade e as quatro paredes onde será encerrado até que
Falta cultura e discernimento
a este país.
Vilaça, 03-8-2013
Via Marco Antonio Hurtado
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