domingo, 8 de outubro de 2017

Cheira a enxofre

Vitor Cunha

Os últimos dias têm sido um fartote de artigos sobre o que o PSD precisa. Fosse eu um extraterrestre a observar isto de um sítio seguro — mais ou menos como a esquerda tresloucada vê o suicídio assistido dos espanhóis com azar de viverem na Catalunha — também acharia divertido ver qual dos jarretas (e alguns têm menos de 30 anos) proporia mais socialismo chamando-lhe “o futuro da Direita”.


Uns falam do Sá Carneiro, outros da doutrina social da Igreja, outros da esperança que Assunção Cristas representa para a tal de Direita (em particular a Direita avessa a ar condicionado) e, assim, nessa variedade poética da filosofia de autocarro, fico indeciso sobre qual me parece o menos maluquinho. Não é que Passos Coelho fosse a grande esperança da Direita: a grande virtude do homem era, no meio deste lamaçal, parecer um tipo normal, sem pretensão a napoleónicos anúncios de candidaturas e pífias “vitórias” eleitorais de 20% em autárquicas para a capital transformadas em “agora é que é”.

Consigo até compreender que haja gente a vaticinar que o PSD só volta ao poder sendo igual ao PS, mas, como a vasta maioria dos portugueses, sou pessoa para preferir originais às fotocópias (na acepção tradicional da palavra, não na acepção introduzida por José Sócrates, “o líder que a Direita gostaria de ter”, a julgar pela catrafilada de artigos pachecopereiristas e similares, mesmo que em sentido diametralmente oposto, que enchem os jornais).

Ao contrário de muitos dos meus amigos, estou bastante otimista: o meu estado natural é o de não votar em partidos, pelo que, reconheço, o ter feito uma cruz nas duas últimas legislativas é que constituiu desvio à norma. Só posso agradecer a todos os políticos e colunistas (com parcas excepções) o valente esforço para me devolver à normalidade da abstenção ou voto em branco (resisto estoicamente à tentação do nulo).

Pôncio Pilatos foi um grande democrata: nem precisou escrever artigos sobre o futuro da Direita para dar ao povo o Barrabás escolhido.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 8-10-2017

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