terça-feira, 15 de maio de 2018

Em defesa do javardo

Vitor Cunha

Às vezes, torna-se necessário falar a sério. Regra geral, tal não é necessário, mas, em certos assuntos, exige-se uma seriedade que ajude a balancear tópicos importantes. Sim, vou falar do Eurofestival da Canção.

Foto: João Porfírio/Observador
Circulam aí críticas ao teor político/ativista/pró-LGBTiPad2xxxOXOX (é assim, acho) da canção vencedora, a israelita. Meus amigos, nas artes e no entretenimento, uma pessoa deve dizer o que quiser. Deve enaltecer drogas, deve propor a extinção dos coelhos, deve explicar que fought the law and the law won, deve ver a Lucy no céu com diamantes e deve bombardear Londres à vontade. Também deve ter sexo com bitches, com o automóvel e com o patinho. Pode colocar crucifixos em urina, preservativos no nariz do Papa, representar o Maomé com bombas na cabeça, enfiar chicotes por orifícios e walk on the wild side sem medos.

A diluição entre entretenimento e política é que vos deveria preocupar. Já sei que uma canção é uma arma, que esta guitarra mata fascistas e que *uma gaivota voava, voava*: mas isso é o que acontece numa sociedade livre – dizem-se e escrevem-se coisas. Numa sociedade pouco livre, não se distingue o cantor do político, o escritor do deputado. Por isso, vendo as vossas críticas ao teor da canção israelita, o que concluo é que o problema não são as canções e sim a política tornada em espetáculo dos que artisticamente enchem a boca contra o populismo.

Se queremos seriedade, comecemos por enaltecer o javardo no local que lhe é destinado: no entretenimento e na arte.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 15-5-2018

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