(Numa terra de liberdade, nós somos reféns da tirania do
politicamente correto.
Robert Griffin
Hoje em dia o saci seria um afrodescendente portador de
necessidades especiais.
Paulo Bonfá
Não são somente os políticos que acham o povo idiota, os autores
de novelas também
Nelson Barth
Era uma vez Vitinho e Milú.
Ai... humm... Melhor fazer primeiro um cigarrinho de palha, enquanto examinamos
os antecedentes, para depois irmos aos consequentes.
Não sendo politicamente
correto, gosto de observar as coisas o mais afastado possível das manifestações
politicamente corretas. Esse negócio do politicamente correto me causa efeitos
paradoxais, me enfurece ou me faz rir.
O pior de tudo é que essa
fanfarra caiu no gosto popular.
Como se sabe, o processo
educacional e cultural se dá por duas vias: a formal, processada nas escolas de
todos os níveis, na leitura, nos cursos, nas palestras e conferências; a
informal, processada no âmbito da família, do trabalho, das amizades e dos mais
variados contatos e relacionamentos sociais.
A formação da pessoa é o
resumo do que estuda e do que vive, num processo que leva toda a vida.
Essas fronteiras foram
extremamente alargadas pelos meios de comunicação. No passado de algumas
décadas, a educação informal estava na mesa de jantar e na esquina, onde os
amigos se reuniam e intercambiavam conhecimento. Esse processo não cessou e
continua nos clubes, nas reuniões sociais, ou em qualquer outro local ou
ocasião propício à interação social.
Entretanto, há algo novo no
ar. Trata-se da força avassaladora dos meios de comunicação, seja a imprensa em
toda a sua variada extensão, seja o fenômeno, este bem mais recente, das
chamadas redes sociais. É difícil hoje em dia se encontrar alguém que não sofra
o impacto, para o bem e para o mal, dos meios de comunicação.
As pessoas, principalmente as
mais simples, tendem a prestar muita atenção aos seus artistas prediletos.
Os astros do cinema,
televisão, rádio e esportes estão muito presentes na vida e na opinião de seus
admiradores. Quem não está ligado em ciência política, economia ou história,
tende a ser um consumidor cultural passivo, dando mais crédito a quem diz do
que ao que é dito. Programas como o do Faustão, dentre muitos outros de TV, vão
incutindo no imaginário popular que qualquer pensamento contrário ao pensamento
pretensamente moderno e corrente nos meios de comunicação e no show business
não passa de mero preconceito.
Ter conceitos, ter uma ideia
abrangente e abstrata de uma realidade, configurativa de valores introjetados
pela cultura de uma vida vivida, está virando algo derrogatório, ao ponto de a
pessoa ter que estar se autopoliciando, se autocensurando a todo instante, ou
dando explicações da real abrangência daquilo que diz ou que pensa para não
cair nos reproches daqueles que generalizaram a palavra preconceito.
Todos nós preconceituamos,
temos ideias preconcebidas de coisas, situações e pessoas. Quando alguém nos
diz “Europa”, vem-nos à mente uma parte do mundo material e culturalmente rica,
lugar de antigas belezas arquitetônicas e de paladares mil colocados à mesa.
Quando alguém diz “África”, nosso conceito é outro, isso porque temos conceitos
predeterminados dos dois continentes. E isso não é ruim ou desairoso, é um
fato. Nesse passo, quanto mais cultura, informação e riqueza de vida temos, mas
somos capazes de preconceituar. Assim, a palavra preconceito que anda em voga
só pode ter o caráter negativo que se lhe quer emprestar quando acompanhada ou
representativa de discriminação negativa. Gostar de morenas, de determinado
time de futebol, ter preferências gastronômicas, reprovar pensamentos ou
partidos políticos, tudo isso é algo normal, legítimo, praticado por todos nós.
O mundo físico não é plano, o das ideias, menos ainda. Não cabe aqui a palavra
preconceito no sentido quase idiótico como é repetida ad nauseam na imprensa, nas conversas e nas redes sociais e, para
não esquecer, no programa do Faustão.
Se você só gosta de ter
relações sexuais com pessoas do mesmo sexo, você não está sendo preconceituoso
com pessoas do sexo oposto, você não faz nada mais do que exercer uma
preferência. O contrário, como diria Dilma, também resulta no mesmo.
Mas como chegamos a essa situação
de tudo não passar de mero preconceito, no sentido ruim da palavra.
O multiculturalismo, a
ideologia de gênero e o politicamente correto saíram da pena dos bem pensantes
da esquerda, galgou o mundo escolar em seu mais amplo sentido, os palcos, as
redações dos meios de comunicação, infiltrando-se nos organismos sociais, sem
que as pessoas menos avisadas percebessem a origem desse “bem pensar”.
Isso acontece e se propaga no
plano das ideias como as viroses se espraiam pelos organismos. O paciente
repete aquilo que aprendeu das mais diversas fontes e acaba incorporando aquilo
que é uma ideologia como algo comum ao pensamento e à vivência social.
Há os que sabem muito bem do
que se trata e qual o propósito. Essas três posições político-filosóficas
desfraldadas pela esquerda foram construídas nos meios acadêmicos,
transformaram-se em livros, artigos, conferências, entrevistas, palavras de
ordem de agremiações políticas, movimentos sociais, ongs de perfis
aparentemente inofensivos, além de outros meios, tudo embalado em palavras
generosas e ideias que, por si sós, jamais podem ser combatidas pelo seu
aparente propósito.
Já escrevi muito por aqui e
procurei demonstrar de forma simples e direta o real significado e os
propósitos finais dessas três bandeiras agitadas pelo pensamento acadêmico de
esquerda. Nada de fuzis, nada de subir serras para, pela força, descer,
conquistar o Estado e impingir o socialismo. Com a derrocada dos países
comunistas acantonados no entorno da ex-União Soviética, e com a adoção pela
China do sistema capitalista de mercado, seria muito difícil um país hoje em
dia adotar o regime comunista e trafegar dentre as outras nações com galhardia.
Cuba, por exemplo, sobrevive
como mito, facilitado pelo fato de ser uma ilha, caso contrário já teria fugido
quase todo mundo de lá.
Os novos pensadores de
esquerda, na esteira de pensamento iniciado lá atrás pelo teórico comunista
italiano Antonio Gramsci, procuram a tomada do estado por dentro, impondo às
sociedades uma pauta de pensamento de cujo lastro participam o
multiculturalismo, o politicamente correto e a ideologia de gênero, pensamentos
que, encapsulados em um manto de generosidade, buscam reconfigurar a sociedade
através de uma batalhada sem tanques nem fuzis, pois se trata de uma guerra
cultural.
Essa pauta cultural está-se
impondo paulatinamente, desde os Anos Sessenta, construída por filósofos e
pensadores de esquerda.
Somente agora, quando já ganha
contornos de pensamento dominante em grandes estratos sociais, começam a ser
ouvidas as vozes dos pensadores que já vêm de há muito advertindo para a forma
solerte com que tais doutrinas estão se infiltrando no tecido social.
Muitos pensadores, homens que
estão atentos aos propósitos de tais doutrinas, vêm revelando como foram
gestadas, os erros por elas incorridos, mas tudo no campo de muito poucos, pois
a batalha cultural nunca é travada por grandes exércitos ou falanges.
Há muitas obras analisando
esse avanço dos pensadores de esquerda. Obras, essas, calcadas em sólida
cultura filosófica. A título de exemplo, recomendo, para quem se interessa pelo
tema, a leitura da obra do filósofo, pensador e acadêmico inglês Roger Scruton,
cujo título em inglês é “Fools, Frauds and Firebrands – Thinkers of the New
Left”, onde analisa, com a profundidade e a mordacidade de sempre, Hobsbawm,
Dworkin, Sartre, Foucault, Habermas, Lacan, Badiou, Zizek e vários outros.
Acredito que tão importante obra já tenha sido editada no Brasil, talvez com
título adaptado, como costuma ocorrer.
Esse conjunto de pensamento
tem franjas que já atingem o nível do ridículo. Uma delas é o limite e a
configuração daquilo que se pode chamar de assédio sexual. Nos Estados Unidos
isso virou uma praga. Já não posso assistir um dos melhores quadros da TV
americana, o de maior prestígio na área política, abatido pela fama de
conquistador. Uma das acusações foi o grande crime de ter convidado uma colega
para jantar e ter reagido de forma não polida à recusa.
A coisa se avoluma de tal
forma que artistas e intelectuais francesas lançaram um manifesto condenando
essa moderna forma de caça às bruxas.
Isso não importa dizer que
devemos ser tolerantes com verdadeiros cafajestes que usam a posição de mando
para submeter pessoas aos seus apetites sexuais, impondo, pela força do mando,
a pauta de seus desejos.
Por outro lado, está ficando
difícil a abordagem que antecede o relacionamento sexual entre duas pessoas.
Nos Estados Unidos, particularmente, a coisa está ganhando contornos de
paranoia.
Um amigo, de um grupo liberal
baiano, pessoa de grande erudição política e filosófica, postou, em tom de
blague, mas revelador do ridículo que vivemos, que, se esses “crimes” não
prescrevessem, a mulher dele certamente teria uma ação para metê-lo na cadeia.
Eu mesmo, por “crimes” de décadas, se não prescritos, já estou com medo de ser
algemado.
Às vezes, o que está por trás
de uma ideia e do objetivo final que ela busca é mais importante do que a
percepção mais imediata de que dela temos. Por isso, para despertar a
curiosidade daqueles que ainda não acordaram para esses temas, resolvi fazer
essa pequena digressão. Dito isso, só me resta desejar a todos...
- Eh, cara! Tolerei até aqui
essa tua conversa fiada de que alguém não pode ser macho e fêmea ao mesmo tempo
só para saber do namoro de Vitinho e Milú. Agora que te tolerei até aqui quer
sair de fininho sem contar, pô!
Okay, já que você insiste, vou
contar. Mas há três personagens na história: Vitinho, Milú e um amigo meu, cujo
nome não entregarei, jamais.
Vitinho, batizado Vitalino
Almeida Cachoeira, foi criado por uma mãe e uma tia que lhe deram banho até à
puberdade, e só pararam quando notaram, um tanto abismadas, que o apêndice do
rapaz já escapava da bacia. A mãe, modernosa, afeita a passeatas e abanadora de
bandeiras, onguista militante, colocou-o numa dessas escolas de professores
avançadinhos, propagadores da ideologia de gênero. O fato é que deram uma
boneca para ele brincar, sob o argumento que há mais de quarenta tipos de
gênero e que, um dia, ele, não a natureza ou a sociedade repressora, decidiria
o que realmente era. Vitinho cresceu acanhadíssimo, refreado pela incerteza do
que realmente era. Sentia atração pelas mulheres, mas tinha uma dificuldade
imensa de se declarar. Tinha afeição, mais que afeição, forte palpitação, por
Milú, vizinha de rua e frequentadora da mesma padaria. Toda vez que se
aproximava do objeto dos seus sonhos, gaguejava, sentia tremores e suor frio
nas mãos, por mais que as esfregasse.
Milú era uma brunette bonita,
solta e resolvida que só ela. Já assoprara vinte e uma velinhas, mas tinha
desenvoltura de uns trinta carnavais.
Um belo dia, Vitinho resolveu
pedir conselhos a um amigo meu sobre como abordar Milú para “pedir para
namorar”. Esse meu amigo (chamemo-lo de PF) teve uma trajetória de grande
conquistador. Louro, olhos azuis, três fios de cabelo desfraldados na parte
frontal da cabeça, tudo isso envolto num papo cativante. Um sedutor. Suas
conquistas, inúmeras, iam de A a Z. Já entrado em anos, resolveu escrever suas
reminiscências de verdadeiro Casanova sob o título “Como Seduzir e Escravizar
Corações”. Os originais já ocupavam 107 folhas de um caderno quando a mulher, o
seu “Beinnho, descobriu e fulminou sua carreira de escritor.
O fato é que Vitinho procurou
esse meu amigo para saber como deveria abordar Milú. Então, meu amigo Casanova,
o PF, olhou para Vitinho com a superioridade e a segurança de um entendido em
mulheres, um arrasador de corações e aconselhou: vá até Milú, cumprimente-a, em
seguida inicie uma conversa de interesse geral, faça-a inserir-se no assunto e,
quando estiver envolta em seu papo, diga que quer namorar. Não esqueça, comece
com um assunto de interesse geral para lhe despertar a atenção!
Determinado e vencendo
acanhamentos mil, Vitinho, mãos e voz trêmulas, acercou-se da esfuziante,
experimentada e determinada Milú. Daqui para a frente, passemos a palavra a
eles:
- B..., bo..., bom dia, Milú.
- Bom dia, Vitinho. Qual é o
problema?
- Vendi meu fusca...
- E daí?
- Me fudi.
Um bom domingo para todos.
Título e Texto: Pedro Frederico Caldas, Aventura, EUA,
1-2-2018
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