Carina Bratt
Dias após dias, noites após
noites, acabei por me acostumar a vê-lo por aqui, todos os instantes. Virou
rotina. A protelação habitual dos mesmos hábitos. Mas meu Deus, aqui aonde?!
Nas redes sociais. Quando abria o WhatsApp lá estava ele. O moço do sorriso
bonito, do rostinho de príncipe e do olhar penetrante.
Não importava o instante em
que eu chegasse. Tanto podia ser às vinte e duas horas, como às duas da manhã.
Às cinco da tarde, ou às oito, bem ainda na consumação do almoço ou do lanche
da tarde. Ele sempre estava lá,
“Online”. Como eu sabia? Simples! Não há nenhum segredo, hoje em dia, por
detrás de uma situação ainda que ela seja considerada corriqueira. A tecnologia
não deixa.
Sabia que ele estava, porque
ao cumprimentá-lo com um “Oi, lindo”, ele imediatamente me respondia, com
ênfase: “Oi, fofinha!”. A mesma coisa acontecia nos e-mails.
Havia comumente uma mensagem
nova, uma palavra de incentivo, uma música pinçada do YouTube que marcava pela
profundidade do tema.
O último que abri, com um “Oi
moço”, a resposta recebida tanto mexeu comigo, uau!, lembro que repassei para
quase toda a galera dos meus contatos. Acreditem. Minha lista de amizades não é
pequena...
Também no Facebook trocávamos
impressões, discorríamos sobre os temas mais atuais. Quando não, a comunicação
se completava pelo Instagram ou pelo LinkedIn. Havia, inevitavelmente, o
contato e as respostas imediatas às minhas chamadas.
Acostumei a dizer “Bom dia”,
ou “Boa tarde”. Se fosse a noite, adicionava ao jargão, uma “Boa noite, durma
com os anjos”. E ele, carinhoso e amável, se abria em festa: “Você também,
minha princesa”.
Brincava: “Não vá cair nos
braços de Morfeu e perder, amanhã, a hora de ir para o trabalho”, seguido de um
“Que Deus te proteja e guarde com seu manto sagrado”.
De repente, num sopro, não o
vi mais. Em lugar da foto de perfil, o branco vazio de aparência fria do
WhatsApp. A ausência dele se fez tão grande, que o “Zap”, o Face, o Instagram,
perderam o brilho, a graça, o sabor, o objetivo.
O seu não estar ali, nem em
canto algum onde nos falávamos, no “online”, em hora nenhuma, se fundiu numa
espécie de saudade pesada, densa, dolorida, destituída do carinho que emanava
da alegria que fluía dele e contagiava meus olhos e mais que isto, alegrava a
minha alma por inteira.
Tudo o que ele falava ou
escrevia em respostas às perguntas que eu fazia, tinha um quê de especial.
Havia uma harmonia que se entrelaçava, num ritmo único, e deixava, no ar,
espalhada, uma espécie de paz tranquilizadora e inverossímil.
Com o vazio da sua presença,
porém, o conjunto das emoções se cobriu com uma espécie de túnica inconsútil.
Em razão disto quando acesso
meu E-mail, Zap, Facebook ou qualquer outro site de relacionamento social,
sinto crestar os passos do vazio na solidão que teima em gritar mais alta e se
fazer ouvir, seja a que custo for dentro da minha cabeça em frangalhos.
Perdida esta conexão, sem
motivos aparentes, com o meu amigo (amigo? Eu já o amava como se fizesse parte
de mim) de todas as horas, me peguei, e, desde então, me vejo vazia, me sinto
oca por dentro.
Me pego obstinada, cheia de
elipses mentais, perplexa, atônita, sem chão, como se tivesse morrido e deixado
à alma errante a caminho de algum lugar escondido no horizonte.
A inquietação do meu espírito
se agiganta. Evolui, e não só evolui, cria barreiras intransponíveis. São estas
situações estranhas que me tiram do sério e me deixam embaraçada, sem saber
para onde ir ou como agir.
Seria maravilhoso, se nestas
horas de pura angústia, quando a dor inquietante da saudade se faz presente e
pujante, a gente pudesse se desligar da tomada, se desplugar do mundo, entrar
em “off” e apagar, por dentro, os filamentos...
Simplesmente assim, e claro, o
mais importante: não mais existir.
Título e Texto: Carina Bratt, dos funerais de Domingos
de Oliveira, no Rio de Janeiro. 23-3-2019
Anteriores:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-