Cristina Miranda
Desde que me conheço que luto
arduamente para ter alguma coisa na vida. E quando digo arduamente é mesmo
isso. Nada me foi facilitado. Se quis “independência” cedo, tive de me agarrar
ainda com 16 anos a um trabalho nas férias da escola numa fábrica. Se quis
seguir estudos, tive de concluir o secundário à noite enquanto de dia “comia
pó” a carregar camiões. Se quis depois entrar para o superior tive de estudar
como o caraças para ter boa média. Se quis depois concluir o curso, tive de
trabalhar até às 17h/18h e seguir direto de Ponte de Lima até ao Porto para
assistir às aulas que podia, ficar muitos fins de semana fechada em casa a
“marrar” para as frequências e mesmo assim aguentar com as frustrações de
não passar a inglês (apesar do meu 16 no secundário) só porque era uma cadeira
que não podia frequentar por chegar sempre tarde. Mesmo assim, não desisti e
com mais um ano em cima pelas dificuldades criadas por certos professores,
lá concluí o curso.
Mas a saga não acabou aqui. Se
quis dar aulas tive de ter boa média para ficar bem colocada. Se quis mudar
para gestão de empresas tive de sobreviver a um mundo maioritariamente de
homens que por ser novinha (com 25 anos) e mulher, punham em causa as minhas capacidades dificultando
todos os meus passos, obrigando a uma maior afirmação que qualquer outro mortal
para conseguir objetivos. Se quis depois empreender tive de ir buscar coragem
ao diabo para fazer frente a todos os lobbys que se atravessaram no meu caminho
para me atirar borda fora daquele ramo de atividade. Se quis recomeçar tudo de
novo e renascer das cinzas, depois de uma luta desigual contra interesses
instalados, tive de vestir uma bata para limpar casas, passar a ferro para
fora, guardar crianças e idosos porque aos 40 somos velhos demais para trabalhar
e ninguém nos quer.
Porque ser branco,
mulher/homem, de meia idade, de estrato social baixo, sem grandes apelidos, sem
conhecidos em lugares importantes, heterossexual, com carro de baixa cilindrada
com cerca de 20 anos, não dá quotas de borla e impede que consigamos
sequer um lugar na política – onde prospera gente sem competências nem
conhecimentos do país real apenas dotados de currículos académicos
extensos e pomposos – cujo o status quo é mais importante do que qualquer
experiência profissional comprovada no terreno.
Se é para estabelecer quotas
raciais por que motivo nós os remediados deste país que contam tostões ao fim
do mês por não ter “amigos” influentes, sem cor na pele nem tendências sexuais
da moda, não podemos também ter o privilégio de deixar de ter de lutar como
mouros por aquilo que desejamos?
Diz o artigo 13 da nossa
Constituição:
Artigo 13.º – (Princípio da
igualdade)
1. Todos os cidadãos têm a
mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação econômica ou condição social.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação econômica ou condição social.
Como podem estes pseudopolíticos
atropelar os direitos previstos na nossa Constituição sobre igualdade? Quando
impomos quotas estamos claramente a colocar grupos em situação privilegiada em
detrimento de outros sem qualquer respeito pelo mérito. E isto é racismo.
Não há lei nenhuma neste país
que impeça que qualquer indivíduo alcance o que quer que seja pela sua
condição. Por isso cabe a cada um lutar por conseguir o que deseja na
vida. Se não for bem sucedido não é por causa cor da pele porque
se assim fosse, António Costa não era ministro de Portugal; Van Dunem não era
ministra da Justiça; Mamadou Ba não se sentava no Parlamento a viver do erário
público; Narana Coissoró não tinha sido deputado; a candidata negra do LIVRE
não se tinha formado na universidade; não haveria pessoas de todas raças e
etnias a estudar no superior; Hirondina Costa, uma habitante do
Jamaica que tenho a honra de conhecer, não seria uma profissional de sucesso
completamente integrada na sociedade com dois estabelecimentos comerciais. Algum
destes precisou de quotas para chegar mais longe do que muitos de nós? Não.
O que impede realmente alguém de subir na vida é sua determinação, sua vontade
e para voos mais altos, seu estrato social (infelizmente). Mais nada.
Anda-se a inventar um país
racista que nunca o foi só para legitimar a ação de associações pouco
transparentes e com legalidade dúbia, agremiações de antifas (antifascistas)
perigosos debaixo de uma capa partidária que faz perseguição criminosa por
divergência de opinião. Eles alimentam-se destas agendas e não perdem uma
oportunidade para as intensificar. Porque é disso que vivem. (Veja aqui neste vídeo o próprio Mamadou a afirmá-lo.)
Foi o caso do artigo de
opinião Fátima Bonifácio. Por que razão a primeira não pode ter liberdade de
expressão e tem de ser crucificada na praça e em relação à instigação ao
ódio e violência – clara e inequívoca – de Mamadou e as Mortáguas
contra os bófias, os tugas, os nazis imaginários e pedido de morte ao
Bolsonaro, já pode ao abrigo da liberdade de… expressão? Mas voltamos ao
fascismo, é isso?
Sobre liberdade de expressão
diz nossa Constituição:
Artigo 37.º – (Liberdade de
expressão e informação)
1. Todos têm o direito de
exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou
por qualquer outro meio, bem como o direito de se informar, sem impedimentos
nem discriminações.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.
3. As infracções cometidas no exercício destes direitos ficarão submetidas ao regime de punição da lei geral, sendo a sua apreciação da competência dos tribunais judiciais.
4. A todas as pessoas, singulares ou coletivas, é assegurado, em condições de igualdade e eficácia, o direito de resposta.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.
3. As infracções cometidas no exercício destes direitos ficarão submetidas ao regime de punição da lei geral, sendo a sua apreciação da competência dos tribunais judiciais.
4. A todas as pessoas, singulares ou coletivas, é assegurado, em condições de igualdade e eficácia, o direito de resposta.
Quando tentamos silenciar
opositores e não olhamos a meios para o conseguir, não restam quaisquer dúvidas
que não se trata de um Estado de Direito, mas sim o princípio claro de instauração
de uma ditadura. Com as quotas raciais o princípio é exatamente o mesmo.
Título e Texto: Cristina
Miranda, Blasfémias,
12-07-2019
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