José Mendonça da Cruz
1. Os factos.
O embaixador de Inglaterra nos
EUA, Kim Darroch, que se entretinha a dizer em círculos diversos de Washington
que o Brexit, a política do seu governo, era um desastre, enviou para Londres
um despacho a dizer que o Presidente americano era «inepto», «inseguro» e
«singularmente disfuncional».
Azar, o texto que deveria ser
confidencial transpirou para a imprensa. Ora, o Presidente americano não é uma
figura decorativa como outros Chefes de Estado, ele é o chefe do executivo; a
«relação especial» Reino Unido - EUA sempre foi uma pedra de toque entre os
dois países, e ela é ainda mais crucial para Londres, agora, em vésperas de
Brexit. Donde resulta que a demissão do embaixador era uma necessidade e uma
evidência de política externa.
O putativo futuro
Primeiro-Ministro inglês, Boris Johnson (antigo diretor da Spectator,
autor de uma biografia sobre Churchill, antigo presidente da Câmara de Londres,
antigo ministro dos Estrangeiros, e Membro do Parlamento), recusou-se,
portanto, a defendê-lo num debate com o outro candidato, Jeremy Hunt, que não
será Primeiro-Ministro -- decerto por coisas como esta.
2. As cabecinhas
formatadas.
Acontece que os jornalistas,
digamos assim, dos órgãos de informação, assim digamos, portugueses, têm
sobre a mesa ou gravado nos escassos neurónios um manual que diz que tudo o que
é americano é mau, que se for republicano é pior, e que Trump, sobretudo por
causa dos excelentes indicadores económicos e sociais do seu mandato,
é péssimo. E que qualquer outro governante que não seja socialista é no
mínimo «excêntrico» e normalmente «xenófobo e de extrema-direita».
3. A versão progressista.
Sendo assim, a notícia em 1.,
depois de passada pelas cabecinhas em 2., sai assim:
- que o embaixador Kim Darroch
está a ser perseguido por dizer a verdade;
- que Boris Johnson não o
defendeu e está «a ser alvo de fortes críticas».
- ponto final.
A versão é confrangedoramente
lacunar e medularmente estúpida. Mas é a que passa em jornais e telejornais
portugueses. Os quais, pressupondo a estupidez dos espectadores, vão aplicando
a vulgata e dando tiros nos pés todos os dias, enquanto todos os dias se
queixam das «redes sociais» e do que eles julgam que são fake news.
Título e Texto: José Mendonça
da Cruz, Corta-fitas,
11-7-2019
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