Vítor Rainho
Ao contrário de muito boa
gente, não penso que a sociedade portuguesa seja racista. Há, sim, palermas que
acham que a cor ou a religião determinam o grau de superioridade de umas raças
em relação às outras. Vivi em África e não foi por ter sido vítima de algumas
atitudes racistas, poucas, que fiquei a achar que o povo é todo racista

Fátima Bonifácio escreveu que a proposta do PS de elaborar quotas para negros e ciganos “não passa de uma farsa multicultural igualitarista. Não, não podemos integrar por decreto”, disse. A parte mais polémica do artigo dizia que os negros e os ciganos “não descendem dos Direitos Universais do Homem”, mas basta uma rápida leitura desses direitos para se perceber ao que a historiadora se referia.
Olhemos para o artigo 3º: “Todas as pessoas têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”; artigo 5º: “Ninguém será submetido a tortura nem a punição ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes”. Depois, a historiadora dava exemplos de crianças ciganas que não têm o direito de escolher com quem se casam, de frequentarem a escola etc. Escrevia também sobre a excisão genital feminina praticada em comunidades muçulmanas.
Parece-me que isto é líquido,
embora a formulação do texto seja um pouco incendiária.
Ao contrário de muito boa gente,
não penso que a sociedade portuguesa seja racista. Há, sim, palermas que acham
que a cor ou a religião determinam o grau de superioridade de umas raças em
relação às outras. Vivi em África e não foi por ter sido vítima de algumas
atitudes racistas, poucas, que fiquei a achar que o povo é todo racista. Não é,
e o mesmo se passa em Portugal.
Mas o mais grave desta
história toda é a defesa da censura que muitos fizeram. Fátima Bonifácio não
pode pensar como quer? Onde é que há incitação à violência no seu texto? Pode
discordar-se, e eu discordo de algumas passagens – é óbvio que se os negros
estão em guetos é porque são enviados para lá, por exemplo –, mas isso não pode
servir para usarmos o lápis azul para aquilo com que não concordamos.
Título e Texto: Vítor
Rainho, Jornal “i”, 12-7-2019
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Morei em Portugal logo após revolução dos cravos, o salazarismo era uma ditadura xenófoba.
ResponderExcluirEra difícil lidar com os portugueses assim que descobriam que você era brasileiro.
Creio que hoje em dia temos relações mais amistosas.