Rui Albuquerque
Na terça-feira passada recebi
o telefonema de um amigo que se queria justificar por ter faltado a uma reunião
por videoconferência, que eu tinha agendado e onde ele devia ter comparecido.
Disse-me – o que me comoveu bastante – que tinha em sua casa um filho asmático,
com apenas cinco anos, com o vírus COVID-19. Mas não só: também o seu pai, com
78, a sua mãe e a irmã tinham igualmente contraído o vírus. Não tive resposta
para lhe dar. Talvez por estar com vontade de desabafar, o meu amigo contou-me
que o estado de saúde do seu pai piorara uns dias antes, tendo sido internado
no Hospital de São João, no Porto, onde entrou com os rins e o fígado já em
processo de falência. Os médicos que o receberam e acompanharam no internamento
hospitalar ter-lhe-ão dito que era grave o estado em que o seu pai se
encontrava e que, mais dois ou três dias em casa lhe teriam sido fatais. Foi
tratado no hospital, tendo-lhe sido administrada hidroxicloroquina. Nem uma
semana depois, mais precisamente seis dias, já se encontrava em casa,
obviamente ainda abalado, mas estabilizado e em franca recuperação. Ou seja,
com o seu estado clínico completamente revertido.
Achando que a recuperação do
pai de um amigo, possivelmente devido a uma substância sobre a qual existem
expectativas sérias de poder ajudar na cura deste vírus, podia ser, nos tempos
sombrios que correm, uma história inspiradora, resolvi partilhá-la no Twitter.
Limitado pelo reduzido número de caracteres que um tweet comporta,
circunscrevi-me ao essencial: que uma pessoa conhecida dera entrada no S. João,
já em fase adiantada da infecção provocada pelo COVID-19, com alguns órgãos a
entrarem em falência, e que, ao fim de alguns dias, tinha regressado a casa e
estava bem, tendo-lhe sido administrada, no tratamento hospitalar, a
hidroxicloroquina. Algumas pessoas colocaram likes, outras retuitaram e
comentaram o post, entre elas o Carlos Guimarães Pinto. Todas o fizeram
urbanamente, mesmo as que suscitaram reservas sobre a eficácia do medicamento,
o que, num momento em que ainda não existem certezas derradeiras, é uma posição
tão sensata quanto a de dizer que já houve pessoas que se curaram com ele.
Numa coisa que me parecia
pacata e sem qualquer motivo para provocar polêmica, foi com espanto que
constatei que o jornalista Paulo Baldaia [foto], em resposta direta ao
mencionado like do Carlos Guimarães Pinto colocado no meu post, entrou na
conversa, com um comentário que integralmente reproduzo:
Como é possível o @carlosgpinto pôr um Like neste tweet, dando-lhe credibilidade? Isto aconteceu e nenhum órgão de comunicação social noticia? Deve ser para não fazer brilhar o Bolsonaro que descobriu a cura. É isso, não é?— paulo baldaia (@paulo_baldaia) March 31, 2020
P.S.Há uma semana que o número de recuperados não altera
Seguiram-se algumas centenas
de comentários e posts a explicar a Paulo Baldaia que, ainda que não haja
certeza científica do potencial curativo da hidroxicloroquina em relação ao
COVID-19, os seus efeitos são inequivocamente positivos em muitas pessoas, de
tal modo que o Infarmed e a Ordem dos Médicos o recomendam no tratamento da
doença, sobretudo quando já está em estado avançado, mas não só. Disso mesmo
sou eu também testemunha direta, já que um outro amigo muito próximo – aliás,
figura pública, com internamento noticiado na comunicação social – recebeu o
mesmo tratamento e também já teve alta e se encontra bem, na sua casa. Todavia,
mesmo depois de se lhe ter explicado o óbvio, Baldaia persistiu em escrever
disparates, em vez de ter arrepiado caminho e saído discretamente de uma
contenda que, de modo grosseiro, arrogante e, no mínimo, desinformado,
provocou.
Ficamos, assim, a saber que,
para Baldaia, dizer-se que a hidroxicloroquina tem potencial curativo do
COVID-19 é ser-se adepto de Bolsonaro, e que a validação de resultados
científicos se faz pela publicação de notícias nos jornais. É esta a forma
mentis de um opinion maker que já exerceu e exerce funções de responsabilidade
em vários órgãos de comunicação social. É bom que todos tenhamos consciência
disso, de quem nos “informa” e de como somos “informados”, razão única pela qual me dei ao trabalho de
escrever este post.
Título e Texto: Rui
Albuquerque, Blasfémias,
2-4-2020
Relacionados:
Paulo Baldaia foi (ainda é?) diretor do quase falido Diário de Notícias, demitiu o agora colunista do Observador, Alberto Gonçalves.
ResponderExcluirAtualmente, para minha desagradável surpresa, anda pelo Porto Canal entrevistando socialistas ou puxa-sacos da geringonça = solução governativa que António Costa inventou.
Repare na estupidez do fulano JORNALISTA, obnubilado pelo ódio a Bolsonaro (que governa e chefia a República Federativa do Brasil, não tem nada a ver com Portugal), ele não esconde a torcida contra a cura, pois isso pode dar razão a Bolsonaro!
É foda!
Depois, ficam pelos cantos chorando a falta de leitores e pedindo ao Estado que os ajude!
Sette Piani
ResponderExcluirNo extraordinário conto Sette Piani (Sete Andares), Dino Buzzati descreve a história de um advogado – Giuseppe Corte – que, em virtude de uma doença ligeira, se hospeda num moderno hospital italiano. O hospital ocupa um edifício com sete andares e tem um curioso sistema de repartição dos pacientes pelo espaço: no último piso estão os doentes menos graves; os restantes pisos são ocupados por pacientes com maleitas de gravidade inversamente proporcional à distância ao solo; no rés-do-chão ficam os que já têm as malas aviadas para o outro mundo. O dr. Corte dá entrada no último piso, já que quase nem estava doente. No entanto, uma série de acontecimentos improváveis – todos sem qualquer relação com o agravamento da doença – fazem-no sucessivamente descer de piso, até ao infernal rés-do-chão.
O conto descreve com mestria o esvaziamento progressivo da esperança de regresso à vida normal com que o protagonista é confrontado, à medida que passa para os pisos inferiores, por razões incompreensíveis. Lembrei-me deste conto, que li há quase vinte anos no n.º 3 da Revista Ficções (revista que pode ser descarregada no site do Instituto Camões) ao ver o Decreto Presidencial n.º 17-A/2020, que renova o Estado de Emergência e agrava, sem qualquer razão aparente (nada se vislumbra no prefácio do decreto presidencial), as medidas que podem ser adoptadas pelo Governo ao abrigo de tal estado de excepção.
Tal como o protagonista do conto de Buzatti, vejo o regresso à normalidade como algo cada vez mais distante, pois é evidente que o sr. Presidente parece apreciar os poderes de excepção de que dispõe (nem me atrevo a imaginar o que estará a preparar para inevitável terceiro decreto desta série) e o Governo, embora mais moderado, também parece estar a tomar-lhe o gosto. A sensação de que recuperar o estado de normalidade constitucional pode vir a ser mais difícil do que a recuperação da economia é aterradora.
Carlos Loureiro
Atualização
ResponderExcluir3 de abril, 16h52
No mundo:
1 056 777 casos/55 781 mortes/ 221 595 recuperados.
Espanha: 117 710/10 935
Itália: 115 242 casos/ 13 915 mortes
França: 59 942/5 387
Portugal: 9 886/246
Brasil: 8 195/332
Parece que o diretor desse DN é Ferreira Fernandes, um "jornalista" cuja imparcialidade é arrepiante.
ResponderExcluirHá momentos caíu na minha caixa postal um artigo desse senhor acusando, claro!, os EUA de piratearem máscaras!
Um lead da matéria informa que o demônio do Donald Trump não querer usar máscara!! Terrível! Delenda Trump!
Mas o puxa-saco do FF não tem o mesmo colhão para cobrar dos governantes portugueses o uso da máscara!
Pobres e agradecidos: muito obrigado, dr. Costa
ResponderExcluirhttps://www.google.pt/amp/s/www.tsf.pt/portugal/sociedade/amp/a-inutilidade-da-hidroxicloroquina-na-luta-contra-a-covid-19-12197514.html
ResponderExcluirGostaria de fazer um grito cultural sobre máscaras.
ResponderExcluirCada máscara tem vida útil de 2 horas.
Poucas pessoas trocam as máscaras ou os filtros das que possuem tal, a cada duas horas.
As vagabundas custam 3 reais cada, em pacote de 3 9 reais. ou 5 quilos de arroz.
As eficientes vão de 27 reais até 65 reais cada.
Ninguém troca os filtros a cada 2 horas.
Aquelas de pintor feitas de papel compro 10 por 5 reais, e não embaçam os óculos.
Poucos compram as boas, alguns as ruins e pobres que se fodam.
quem vai deixar de comprar 5 quilos de arroz para comprar máscara com a família passando fome?
Eu boto essas de papelão de pintor vou ao super ou ao banco e jogo fora.
Não fico duas horas na rua, nem sou privilegiado.
Dar cestas básicas e não doam máscaras.
Fazem-nas de pano e as vezes na periferia não tem água para lavar.
Eu acho que alguns governadores estão fazendo hipocrisia.
O dodo de São Paulo copiou o trabalho do dudu do Rio Grande do Sul, a pandemia coloridas em 5 fases.
Rochinha,
ExcluirEu uso uma das quatro máscaras, reutilizáveis e laváveis, que comprei em estabelecimento de artigos médicos. Uso quando saio com o meu cachorro, mais por respeito ao cidadão que cruza comigo – cabeleira branca, enrugado – grupo de risco, não vá ele fazer um direto no WhatsApp denunciando esse velho sem máscara!, do que propriamente me proteger. Também a uso quando vou ao supermercado, porque sou obrigado.
Quando os supermercados passaram a vender as máscaras, ou seja, quando já havia máscaras em quantidade suficiente para todos, o seu uso passou a ser obrigatório. Onde eu moro até o “homem das castanhas” passou a vendê-las! Comprei uma por 5€ com a bandeira de Portugal, porque não tinha o escudo do Vasco da Gama, nem do FC Porto...
Usei uma vez essa máscara. Numa live com a família. 😊