Por trás dos fenômenos Trump,
Bolsonaro e Brexit está, como um dos fatores, o enorme abismo que se abriu
entre a realidade da elite cosmopolita "liberal" e o povo lá fora.
Quem vive na bolha "progressista" perdeu qualquer contato com a
realidade do povão, e por isso foi incapaz de antecipar ou mesmo compreender as
vitórias dos três.
Diante da ameaça do
coronavírus, esse abismo se estendeu mais ainda, provavelmente de forma
intransponível. Enquanto o povo, desesperado, pensa no que vai fazer para
sobreviver, e teme pelo pior, uma turma da elite troca figurinhas nas redes
sociais sobre filmes, séries e músicas na quarentena, repetindo a hashtag
"fiquem em casa", como se todos pudessem apelar para o home office ou
tivessem reservas financeiras e empregos estáveis.
Enquanto fazem isso, os
membros da esquerda caviar se sentem as almas mais abnegadas do planeta. A
esquerda sempre viveu da estética, das aparências, da imagem de bondosa, sem se
importar muito com os resultados concretos do que prega. Luiz Felipe Pondé
alfinetou a turma:
Nunca vi tanto self-marketing se vendendo
como se fora amor à vida. E disseram que o mundo não ia voltar ao normal? Já
voltou, em parte. A vaidade, o oportunismo, o marketing de comportamento, o
mercado dos horrores afetivos, as feministas dizendo que dominarão o mundo,
tudo aí, para quem quiser ver. Alguém já provou que vírus só existe em
sociedades patriarcais e carnívoras? Logo coletivos de ciências sociais o
farão. Enfim, o ridículo voltou às ruas.
[...] A ciência primeira hoje é o marketing.
Por isso, muitas pessoas querem passar a imagem que o coração delas é lindo e
que depois da epidemia, o mundo ficará lindo como elas. A utopia fala sempre do utópico e não do mundo real. É sempre uma projeção infantil
da própria beleza narcísica de quem sonha com a utopia.
[...] Encaremos os fatos: no Brasil só classe
média alta e alta podem fazer quarentena. Só eles têm reserva financeira. A
esmagadora maioria da população vai pedir esmola, seja do Estado, seja nas
ruas. A pobreza no Brasil faz da quarenta uma tendência de comportamento dos
ricos e famosos. Perguntar por que os pobres não fazem quarentena é perguntar
por que eles não comem bolo, já que não têm pão.
Os adeptos da quarentena
gourmet já possuem uma musa agora. Não é a atriz Isis Valverde, apesar de ela
merecer algum destaque após compartilhar seu "esforço" para cozinhar,
acompanhada de uma taça de vinho e da empregada doméstica atrás.
A musa da elite cosmopolita e
esnobe que faz diário de quarentena é a multimilionária Nancy Pelosi, líder
democrata na Câmara, que mostrou os sorvetes que vai degustar durante seu
isolamento. O vídeo gerou revolta e uma enxurrada de críticas, por motivos
óbvios (ao menos para quem vive fora da bolha):
As "veretes" vão ao
delírio com esses "liberais humanistas", com os "cidadãos do
mundo" como Obama e companhia. Quantas palavras belas eles repetem! Que
retórica rebuscada, voltada para os pobres e oprimidos! Ao som de
"Imagine", essa turma se lambuza de elogios mútuos sobre como são
todos altruístas, bondosos, abnegados.
Enquanto isso, lá fora da
bolha, todos percebem a insensatez, a hipocrisia e, acima de tudo, a incrível
insensibilidade dessa patota esquerdista.
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, Gazeta do Povo, 22-4-2020, 10h25
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