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Arquivo pessoal |
Nome de Guerra: Ellen
Onde e quando nasceu?
25 de fevereiro de 1961, no
Rio de Janeiro.
Onde estudou?
Colégio São Paulo;
Colégio Notre Dame;
Colégio Rio de Janeiro;
UERJ;
Universidade da Cidade -
Licenciatura Plena Inglês;
Universidade Estácio de Sá -
Design de Interiores.
Onde passou a infância e
juventude?
Eu cresci em Ipanema, bons
tempos em que brincávamos na rua, amarelinha, andava-se de bicicleta, jogava-se
vôlei, sem preocupação. Ainda não havia assaltos…
Aos 11 anos comecei o ballet
clássico, diminui a brincadeira, estudava inglês e francês além do horário da
escola, portanto, festinhas, só no fim de semana e no Piraquê e Caiçaras,
porque meus pais me controlavam demais…
Qual (ou quais)
acontecimento marcou a sua infância e juventude?
Acho que o ballet, foi muito
importante, eu realmente me dediquei.
Humm... em Ipanema? Não vai
me dizer que foi na Henrique Dumont?!
Na Montenegro, hoje Vinicius
de Moraes.
E por que seus pais “lhe
controlavam demais”? Por que eles eram disciplinadores ou por que você era
levada da breca? 😉
Filha única, eram superprotetores,
eu não era levada… tanto me apertaram, que o resultado foi contrário... na
maioridade fiquei bem revoltada... mas como entrei para a Varig no dia do meu
aniversário de 19 anos, fui devidamente doutrinada por D. Alice Klaus, minha
salvação.
Eu comecei a fazer testes para
a Varig, com 17 anos, queria ser aeromoça de qualquer jeito, meu avô era
piloto, meu padrinho também, meu pai apaixonado por aviação (o pai dele não
deixou-o terminar o curso de piloto), foi um escândalo quando declarei que ia
voar de qualquer jeito…
Por fim fui emancipada, meu
padrinho escreveu um termo de responsabilidade e meu avô (Coronel-aviador) ia
me buscar no prédio da Varig para almoçar com ele no Clube da Aeronáutica e me
apresentava, orgulhoso, “minha neta que entrou para a aviação”.
Praticou ballet até quando?
Dos 11 aos 21 anos.
Deduzo que o seu primeiro
emprego foi na Varig, certo?
Na verdade, meu primeiro
emprego foi na H. Stern, como guide tour, somente porque a Varig disse que eu voltasse
maior de idade e com alguma experiência... então em 1978 eu passei uma segunda temporada na
Europa, quatro meses na casa da minha família no sul da Itália, voltei falando
a língua, então o consegui o trabalho.
Após seis meses me candidatei
pela segunda vez, com a emancipação, a carta de responsabilidade e proficiência
em três idiomas... acabaram por me dar uma chance...
E de dedução em dedução,
deduzo que parou de praticar ballet por incompatibilidade de horários,
funções...
O ballet exige uma dedicação
total, assim como a faculdade que tentei fazer. Nessa fase, 18-19 anos, acha-se
que tudo é possível, mas acaba-se por não fazer as coisas como dever-se-ia.
Foquei no curso de formação, o
ballet deixou de ser a meta e passou a ser um exercício, a faculdade não
consegui acompanhar, fiz quatro tentativas e só consegui me formar na última,
já em 2006.
Então, ingressa na Varig em
que ano?
Fevereiro de 1980.
Lembra do seu primeiro voo?
Claro... faltaram os
instrutores, saio para quatro pernas de ponte aérea com Roberto Mirabelli e
Moema Ribeiro... não poderia ter sido melhor!!
Aí fica na PA quanto tempo?
Seis meses.
E depois é promovida para
qual equipamento?
Para o B-737, onde fiquei
outros seis meses.
Em junho de 1981 fui escalada para
ir a Toulouse buscar o A300 e comecei a voar mini RAI.
Até quando?
Até setembro 1984. Subi para
ser supervisora de cabine F/C no DC 10.
Como ocupava o tempo nos
pernoites?
Com passeios, explorando as
cidades próximas, sempre lia a bordo nos jornais locais o que havia como
exibições, feiras, museus, mostras de cinema... nas cidades de destino. A
aviação me ofereceu uma oportunidade única em termos culturais.
Não houve um único pernoite
que eu não tenha aproveitado. Sou extremamente grata por isso.
Qual (quais) o que mais gostava?
Europa! Roma, Zurique, Paris,
Londres...
Passou por alguma situação de emergência?
Sim, quatro:
1 - Despressurização da
cabine do B-737 num voo Rio/Porto Alegre, pousamos em Florianópolis, eu tinha
uns seis meses de voo...
2 - No dia do meu
aniversário, 1983, decolando à tarde de B-707, Rio/Miami, com várias escalas
pelo Brasil, (esses aviões já eram velhos na época) fogo na turbina na
decolagem, alijaram combustível e pousamos em emergência no Galeão.
3 - Na volta de Manaus,
2205, fogo na turbina do DC10 – pouso em emergência em Brasília.
4 - Retorno de Londres,
no MD-11, distávamos três horas da costa do Ceará, estava no meu descanso (era
C/E), acordei com cheiro de fumaça na cabine, estava sentada perto da porta 3R,
dei um pulo por cima do Kühn que estava sentado do meu lado, e saí farejando...
cheiro de fio queimado.
Fui até à galley traseira, o
odor estava concentrado na área da porta 3, passageiros dormiam, o que foi uma
benção...
Conversei com o Comandante,
cortamos a energia da área, o cheiro parou, no entanto, ao religarmos,
voltava...
Com isso, optamos por
prosseguir no escuro, sem serviços, e pousamos em São Paulo sem o café da
manhã.
Na aproximação para pouso em Guarulhos,
fizemos um speech informando aos passageiros que por motivos técnicos não havia
sido servida a segunda refeição prevista, não houve reclamações.
Foi tenso... no meio do oceano
a iminência de um incêndio... mas correu tudo bem, graças a Deus!
Você voou até agosto de
2006?
Até junho, entrei de licença
em julho.
Então, você não recebeu o
fatídico telegrama, né? E aí, qual é o seu atual ‘status’ trabalhista?
Recebi sim, fui sumariamente
despedida em 28 de agosto.
Tinha 45 anos, então fiquei no
grupo dos desvalidos do Aerus, que apesar de ter contribuído por vinte e cinco
anos, ter sido sócia fundadora, nunca recebi um tostão...
Trabalhei por mais dez anos na
presidência da empresa Brookfield, e me aposentei em janeiro de 2018.
Aí, parou de vez?
Difícil dizer... a necessidade
nos move... quanto mais velhos, mais difícil conseguir colocação no mercado.
Na sua avaliação, por que a
empresa aérea fechou?
Um somatório de fatores:
modelo de gestão antiquado - falta de visão da necessidade de se renovar, má
vontade de governo com dívidas perdoáveis ou renegociáveis, desvio de recursos,
recusa das ofertas de investidores externos.
Tem
saudades da RG?
Morrooooo de saudades...
Como vai o Rio de Janeiro?
Pelo que vi nos três dias que estive lá em março... mal...
Março agora, mês passado?
Sim, cheguei dia 11 à noite, no dia seguinte o Trump fechou o
espaço aéreo.
Você não mora mais em Ipanema?!
Não, moro perto de Cascais, em
Carcavelos [foto]...
Em fevereiro de 2018, casei-me
com um luso-brasileiro.
Vim porque nunca consegui
entender o Brasil, tem tudo para dar certo, mas dá tudo errado...
Está gostando?
Eu amo Portugal, país lindo
repleto de lugares a serem descobertos.
O que mais e menos aprecia
em Portugal?
O conformismo, as pessoas se
sentem vítimas do destino.
Tem visitado outas cidades,
locais, monumentos...?
Sim, desde Algarve, Alentejo, Arrábida, Coimbra, Aveiro, Porto,
Douro, Barcelos, Braga, Parque do Gerês, Ponte de Lima, até à Espanha, falta
conhecer o Ribatejo e a Costa Vicentina.
Nossa! Cansei!
O Porto, quer dizer, a
cidade do Porto, é muito feia. Ponte de Lima, com aquela pontinha romana sobre
o rio Lima, que coisa feiíssima! Não é? 😉
Portugal é lindo, cada
cantinho reserva uma surpresa, na época do voo só conheci Lisboa e Porto [foto] (um
pouquinho do entorno).
Desde que me mudei viajo
sempre que posso e volto encantada com o que vai se revelando, um país a ser
descoberto...
Concordo.
Saudades do Brasil?
Dos amigos, muita.
A derradeira mensagem:
Aproveitar a vida com foco no
momento presente, é tudo o que temos.
Obrigado, Ellen!
Conversas anteriores:
As entrevista do Jim são sempre uma delícia, mesmo para quem não é do meio, que é o meu caso.
ResponderExcluirJoel Martins
ResponderExcluirMuito legal essas entrevistas, que contam a história de vida das pessoas que fizeram parte da Varig.
Rosa Lima Pedreira
Amei sua entrevista Ellen Silva Araujo.
me fez viajar no tempo. Parabéns Jim.
Oh delícia de entrevista. Descobri muitas coisas da vida da Ellen que não sabia, kkkk.
ResponderExcluirBeijos ao Jim, saudades dos tempos VARIG e desses 2 grandes profissionais e colegas de vôo.
Cristina Maria
354 visualizações. Ótima performance!
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