Com as praias proibidas, empresa fundada em
1953 perde sua maior fonte de renda e para de funcionar por tempo indeterminado
Cleo Guimarães
A fila de ambulantes que
costuma se formar a partir das 5h em frente a um predinho na Rua do Senado, no
Centro, agora faz parte do passado – pelo menos por enquanto. Com as medidas de
isolamento social adotadas por causa da pandemia do coronavírus, a fábrica
de biscoitos Globo vive a maior crise de seus 67 anos de existência e fechou
as portas por tempo indeterminado.
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Foto: Alexandre Rebelo/Reprodução
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“Nosso carro-chefe é o
biscoito vendido nas embalagens de papel, revendido nas ruas e nas praias. Como
ninguém sai de casa e a praia está proibida, não temos para onde correr”, diz
Marcelo Ponce, um dos donos do negócio.
Ele conta que costuma vender
entre 5000 e 7000 saquinhos por dia nesta época do ano, chegando a dobrar a
quantidade no verão. “Essa crise acabou com a gente”, diz. Atualmente não há
disponível, em lugar algum da cidade, sacos de biscoito em papel, a versão mais
tradicional. A embalagem plástica, feita para ser revendida em escolas,
supermercados e casas comerciais, ainda é encontrada nos grandes revendedores.
Marcelo conta que tem atendido a alguns pedidos sob demanda, das poucas
empresas que ainda funcionam, como os mercados. “Coloco duas ou três pessoas
para produzir, mas somente alguns pedidos específicos, que valham a pena. É
muito triste isso”. Mais de 40 mil saquinhos de papel serão reciclados porque
já tinham a data de validade impressa.
Um episódio recente dá a
medida da relevância do Biscoito Globo, símbolo de um Rio ensolarado e praiano,
para os cariocas. Uma reportagem publicada em 2017 pelo “New York Times”
detonou o petisco, que foi considerado “sem gosto” pelo jornalista David
Segal – “Coloque um em sua boca e será como se seus dentes estivessem em uma
festa para a qual sua língua não foi convidada”, escreveu o repórter do jornal
americano, para ira de cariocas – e brasileiros em geral.
A chef Roberta Sudbrack,
gaúcha radicada no Rio, foi uma das primeiras a reagir. “Não se mexe com
ícones culturais de um povo! Ainda mais os gastronômicos! Tudo é subjetivo!
Mas, de Biscoito Globo o nosso afetivo entende! Biscoito Globo We Love It!”,
postou ela, à época.
Já o escritor Marcelo Rubens
Paiva afirmou em suas redes que dizer que ele é sem graça seria “como chamar
Gisele Bündchen de baranga”.
Em defesas apaixonadas,
internautas disseram, entre outras declarações de amor, que vir ao Rio e falar
mal do Biscoito Globo “é como ir à sua casa e falar mal da comida da sua avó”.
Título e Texto: Cleo
Guimarães, VejaRio, 30-4-2020, 15h54
Triste!
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