quarta-feira, 22 de abril de 2020

Uma tremenda ironia

José Miguel Roque Martins

Sou um liberal num país com um centro de gravidade à esquerda. É por isso natural que sempre tenha achado que a mídia, em geral, reproduz uma agenda esquerdista


Sempre ouvi três teorias da conspiração que tentavam explicar esse fenômeno. Uma, que caiu tragicamente com o muro de Berlim, apontava para o papel dos serviços secretos soviéticos, que garantiam a troco de dinheiro ou de formas ainda mais tenebrosas, uma narrativa conveniente aos seus propósitos. A outra, que a classe jornalística era dominada por intelectuais de esquerda barbudos que impediam, os liberais, moderados ou conservadores de aceder à ribalta informativa. Finalmente, o pagamento de favores ao partido no poder, por benesses e avenças concedidas, sempre foi outra tese muito popular.

A verdade quanto a mim é outra e é ditada pela economia de mercado. São os Portugueses que são de Esquerda. E por isso preferem jornalistas e notícias que alimentem as suas convicções, confirmem os seus preconceitos e preferências. É o mercado, o meu querido mercado, quem mais ordena, não é nenhuma conspiração. Um qualquer órgão de informação que contrarie o que a maioria das pessoas pensa e quer ver consagrado pelas notícias, está condenado ao fracasso. Como candeia que vai à frente alumia duas vezes, a mensagem que consagra inspira novas gerações, que em harmonia com o que ouvem em casa, mantêm a percepção instituída.

Por tudo isto, as leis do mercado são parcialmente responsáveis pelo ciclo vicioso da pobreza, políticas de esquerda, mais pobreza, que se eternizam em Portugal. Uma tremenda ironia.

PS: Esta nova crise veio antecipar novo movimento de consolidação da imprensa, ou seja, o desaparecimento de alguns meios. Simplesmente o dinheiro disponível para notícias já não chega para pagar as contas de todos os jornais e revistas. Só espero que o Observador não desapareça.
Título e Texto: José Miguel Roque Martins, Convidado Especial, Corta-fitas, 22-4-2020

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