Jean-Baptiste Noé
“Provocar o medo é uma arma de
desestabilização para atordoar o adversário.”
A epidemia do coronavírus não
foi atribuída ao Brexit; é uma das raras catástrofes que o populismo não parece
ser o culpado. Todavia, desde 2016, os comentaristas anunciavam que, se ele
saísse da União Europeia, as dez pragas do Egito iriam se abater sobre o Reino
Unido. O Tâmisa não se transformou em sangue e os gafanhotos não são abatidos
na Cornualha.
O Reino Unido apresenta uma
pequeníssima taxa de desemprego e continua a atrair os melhores estudantes
secundários da França, que preferem cada vez mais continuar os seus estudos nas
universidades inglesas.
A guerra civil ainda não
eclodiu na Irlanda, e a Escócia não se separou do seu vizinho inglês. Se ainda
é muito cedo para fazer um balanço do Brexit, forçosamente constatamos que
todas as previsões catastróficas não se realizaram.
Mais uma vez, muitos
comentaristas e políticos sopraram o medo anunciando o pior, mas tudo isso não
passou de vento.
O medo é uma arma política.
Ele impede qualquer reflexão, qualquer distanciamento analítico; ele suscita
paixões, radicaliza opiniões e joga o bode expiatório à condenação popular para
ser degolado. O medo aniquila a especificidade das pessoas para criar grupos de
massa em direção ao sentido imposto. Ele é o primeiro inimigo das liberdades e
das democracias.
Na China, Xi Jinping tenta se
aproveitar do medo causado pela epidemia para reforçar a centralização do poder
e o controle das populações. Em outros
locais, é o medo do inimigo externo que justifica o recrutamento das massas e a
militarização da juventude. O efeito da sideração impede toda e qualquer
reflexão e distanciamento, resultando na ditadura da maioria: este novo
despotismo já detectado com receio por Tocqueville.
A formação e a cultura são
os anteparos do medo. São eles que nos evitam de cair no emaranhado da
demagogia e da mentira, e asseguram a constituição de povos livres.
François Guizot já havia
percebido este perigo da servidão. Só pode existir democracia num povo formado
e educado; a abertura das escolas deve, portanto, preceder o início da lei do
sufrágio universal. Daí a lei escolar de 1833, que favoreceu a criação de
escolas em quase todas as vilas e aldeias de França.
Um país só é livre quando os
seus habitantes são suficientemente instruídos para perceber a complexidade do
mundo. Somos forçados a constatar que o país que se reclama de Descartes e da
razão cai frequentemente no obscurantismo científico, que deixa o vento do medo
soprar pelos espíritos.
Na agricultura, na economia,
no clima, nas relações internacionais etc., o pluralismo intelectual é
contrariado pela ausência de debate e a proibição de questionar perspectivas.
Em vez de propor à juventude de se instruir, de passar o tempo nas bibliotecas
lendo os clássicos, mergulhar nas ciências, descobrir disciplinas
desconhecidas, propõem a ela marchas e manifestações que não levam a nada. Em
vez de acender as luzes do seu espírito para iluminar os mundos que ela deverá
percorrer, lhe fazem acreditar que os monstros que ela vê desenhados nas
paredes do seu quarto de criança são reais.
Esta sociedade da mentira só
pode desaguar em dramas: drogas para uns, seitas para outros, movimentos
radicais para aqueles outros.
Se informar e saber
analisar. É claro, cada um tem seus viés cognitivo, suas preferências, seus
desatinos. Mas se informar e se abastecer em fontes não adulteradas é
fundamental. A informação é a arma vital para estados, empresas e particulares.
“Eles se instruem para vencer”, afirma a divisa de Saint-Cyr.
É imperioso ser capaz de filtrar a informação, interpretá-la e analisá-la.
Somente a instrução é capaz de
espantar os medos, e daí formar homens livres, homens aguerridos, como lembrava
Paul Claudel: “A juventude não é feita para o prazer, ela é feita para o
heroísmo.”
Título e Texto: Jean-Baptiste
Noé, Editorial da Revista Conflits,
nº 26, março/abril 2020
Tradução: JP, 27-3-2020
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