O coronavírus é muito contagioso, certo.
Mas o impacto econômico das medidas desproporcionais através do mundo fará mais
vítimas
Catherine Nay
O vírus, sempre o vírus...
ainda o vírus! O governo está em pé de guerra, as medidas restritivas se
multiplicam, os canais informativos contam em direto, minuto a minuto, a
evolução da epidemia, antes da passagem inexorável da fase 2 à fase 3. Na
corrida pelo fim do mundo, o Covid-19 emparelha com o aquecimento global. Vamos
nos acalmar?
No momento em que escrevo
estas linhas, 110 000 pessoas em 92 países foram afetadas. A China, onde o
vírus foi detectado, conta com 1 bilhão e 400 mil habitantes. Registrou 80 000
afetados e 3 000 mortos. Um traço minúsculo nas suas estatísticas necrológicas.
O epicentro da epidemia, a província de Hubei, seus sessenta milhões de
habitantes estão confinados sem qualquer discussão há mais de um mês. Eles não
aguentam mais.
As contaminações estão
diminuindo, mas o país está parado. Ora, quando a China não trabalha, empresas
no mundo inteiro não são mais abastecidas. Em muitos países, por falta de
peças, a indústria está em pane. E pior: 80% das matérias ativas que permitem fabricar
medicamentos são produzidas na China, deste total 90% de penicilina, 60% de
paracetamol, 50% de ibuprofeno. Aliás, chegou o tempo de nos questionarmos
sobre esta dependência.
Na França, país de 67 milhões
de habitantes, o vírus afeta 1 100 pessoas e já fez 20 vítimas. Os médicos
podem dizer que para 90% das pessoas afetadas o vírus não tem consequências,
mas que pode ser muito perigoso para idosos ou para aqueles com o organismo
debilitado, e repetir que em cada ano, aqui na França, a gripe atinge entre 2 e
6 milhões de pessoas com 8 000 a 10 000 mortos, não adianta.
Um sentimento de pânico, uma
espécie de psicose invade o país. É que o vírus tem uma particularidade: ele é
muito contagioso. As pessoas se sentem vulneráveis. Estão muito assustadas. Então
se contraem no que lhes tranquiliza: encher as despensas. Os supermercados
estão esvaziados, não se via isso desde a Guerra do Golfo em 1991. Os grandes
beneficiários desta crise chamam-se Barilla e Lustucru.
Vimos pessoas brigando na
Alemanha e na Austrália por papel higiênico. As bolsas desapertam. Os
investidores só olham para um só algarismo: o número de contaminações. Riad até
suspendeu a peregrinação a Meca, porque esses milhões de peregrinos podiam
constituir o maior incubador de doenças. Os preços do petróleo despencaram mais
de 30%.
Inspirados pela China, os
dirigentes italianos primeiramente colocaram em quarentena as províncias de
Lombardia e Veneza, os dois pulmões econômicos. Um pânico mesmo racional (a
Itália é o país da Europa mais afetado pelo vírus) e perigoso porque a economia
e o pânico raramente fazem um bom par.
Emmanuel Macron, que mudou a
sua agenda, se coloca como protetor dos franceses. Ele afirma: “As medidas demasiado
restritivas não são sustentáveis com o tempo.” (!!!).
Portanto, ele apela ao bom senso, respeitar estas regras fáceis para
fazer barreira ao vírus: lavar as mãos várias vezes ao dia, evitar os contatos.
Sexta-feira, ele visitou um lar de idosos em Paris, onde almoçou com os internados.
Foi de lá que ele convidou os franceses a restringir as visitas aos idosos
porque eles são os mais vulneráveis. Ou seja, mais claramente, ele pediu que
não fizessem como ele.
Permanece a grande incógnita:
quanto tempo vai durar a epidemia? Ao receio de ser contaminado soma-se o
receio maior ainda de uma grande crise econômica. Depois dos coletes amarelos,
as greves, setores inteiros da nossa economia sofrem sérios impactos: hotelaria,
restauração, turismo, espetáculos, esportes; 900 empresas que empregam mais de
15 000 assalariados pediram para ser colocadas em regime de desemprego parcial.
Daí a questão: a que nível
deve-se colocar o cursor do princípio da precaução? O impacto do coronavírus
será muito severo na economia francesa., preveniu Bruno Le Maire, (Ministro da
Economia e Finanças da França, NdT).
Título e Texto: Catherine
Nay, Valeurs Actuelles, nº
4346, du 12 au 18 mars 2020
Tradução: JP, 21-3-2020
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