segunda-feira, 23 de março de 2020

Quando o pânico toma conta

O coronavírus é muito contagioso, certo. Mas o impacto econômico das medidas desproporcionais através do mundo fará mais vítimas

Catherine Nay

O vírus, sempre o vírus... ainda o vírus! O governo está em pé de guerra, as medidas restritivas se multiplicam, os canais informativos contam em direto, minuto a minuto, a evolução da epidemia, antes da passagem inexorável da fase 2 à fase 3. Na corrida pelo fim do mundo, o Covid-19 emparelha com o aquecimento global. Vamos nos acalmar?

No momento em que escrevo estas linhas, 110 000 pessoas em 92 países foram afetadas. A China, onde o vírus foi detectado, conta com 1 bilhão e 400 mil habitantes. Registrou 80 000 afetados e 3 000 mortos. Um traço minúsculo nas suas estatísticas necrológicas. O epicentro da epidemia, a província de Hubei, seus sessenta milhões de habitantes estão confinados sem qualquer discussão há mais de um mês. Eles não aguentam mais.

As contaminações estão diminuindo, mas o país está parado. Ora, quando a China não trabalha, empresas no mundo inteiro não são mais abastecidas. Em muitos países, por falta de peças, a indústria está em pane. E pior: 80% das matérias ativas que permitem fabricar medicamentos são produzidas na China, deste total 90% de penicilina, 60% de paracetamol, 50% de ibuprofeno. Aliás, chegou o tempo de nos questionarmos sobre esta dependência.

Na França, país de 67 milhões de habitantes, o vírus afeta 1 100 pessoas e já fez 20 vítimas. Os médicos podem dizer que para 90% das pessoas afetadas o vírus não tem consequências, mas que pode ser muito perigoso para idosos ou para aqueles com o organismo debilitado, e repetir que em cada ano, aqui na França, a gripe atinge entre 2 e 6 milhões de pessoas com 8 000 a 10 000 mortos, não adianta.

Um sentimento de pânico, uma espécie de psicose invade o país. É que o vírus tem uma particularidade: ele é muito contagioso. As pessoas se sentem vulneráveis. Estão muito assustadas. Então se contraem no que lhes tranquiliza: encher as despensas. Os supermercados estão esvaziados, não se via isso desde a Guerra do Golfo em 1991. Os grandes beneficiários desta crise chamam-se Barilla e Lustucru.


Vimos pessoas brigando na Alemanha e na Austrália por papel higiênico. As bolsas desapertam. Os investidores só olham para um só algarismo: o número de contaminações. Riad até suspendeu a peregrinação a Meca, porque esses milhões de peregrinos podiam constituir o maior incubador de doenças. Os preços do petróleo despencaram mais de 30%.


Inspirados pela China, os dirigentes italianos primeiramente colocaram em quarentena as províncias de Lombardia e Veneza, os dois pulmões econômicos. Um pânico mesmo racional (a Itália é o país da Europa mais afetado pelo vírus) e perigoso porque a economia e o pânico raramente fazem um bom par.

Emmanuel Macron, que mudou a sua agenda, se coloca como protetor dos franceses. Ele afirma: “As medidas demasiado restritivas não são sustentáveis com o tempo.” (!!!). Portanto, ele apela ao bom senso, respeitar estas regras fáceis para fazer barreira ao vírus: lavar as mãos várias vezes ao dia, evitar os contatos. Sexta-feira, ele visitou um lar de idosos em Paris, onde almoçou com os internados. Foi de lá que ele convidou os franceses a restringir as visitas aos idosos porque eles são os mais vulneráveis. Ou seja, mais claramente, ele pediu que não fizessem como ele.

Permanece a grande incógnita: quanto tempo vai durar a epidemia? Ao receio de ser contaminado soma-se o receio maior ainda de uma grande crise econômica. Depois dos coletes amarelos, as greves, setores inteiros da nossa economia sofrem sérios impactos: hotelaria, restauração, turismo, espetáculos, esportes; 900 empresas que empregam mais de 15 000 assalariados pediram para ser colocadas em regime de desemprego parcial.

Daí a questão: a que nível deve-se colocar o cursor do princípio da precaução? O impacto do coronavírus será muito severo na economia francesa., preveniu Bruno Le Maire, (Ministro da Economia e Finanças da França, NdT).
Título e Texto: Catherine Nay, Valeurs Actuelles, nº 4346, du 12 au 18 mars 2020
Tradução: JP, 21-3-2020

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