Pedro Frederico Caldas
80 a 90% dos que pegarem o coronavírus
terão um resfriadinho.
Dr. Drauzio Varella, médico
85% dos que pegarem o vírus terão uma
gripe.
Dr. Rui Costa, médico e governador petista da Bahia
É a economia, estúpido.
James Carville
A bem da verdade, que sempre procuro não esconder, o Dr. Drauzio Varella,
preocupado, emitiu novo vídeo, dando o dito pelo não dito. Esse trepidante
recuo para mim nada muda porque isso é praticamente um consenso nos meios
médicos, comprovado pela que vem acontecendo ao redor do mundo nos últimos
meses. Todavia, não vou me ater a esses aspectos da pandemia porque médico não
sou e minhas preocupações são outras.
Estando naquela faixa de risco de 10 a 15% da população, enclausurei-me.
Tinha passagem paga, hotel reservado, para ir ao Brasil no dia 19 deste
mês. Cancelei porque assim o bom senso mandava e para atender ao apelo dos
filhos que abdicavam, em nome da nossa segurança, da ânsia de reencontrar os
pais. Há mais de duas semanas minha filha e meus netos não têm vindo aqui, para
nos preservar de qualquer contágio. Para congraçar com os amigos e parentes
usamos smartphones e computadores. Temos feito com filha, filhos, noras, genro
e netos reuniões cibernéticas, chamadas pomposamente de “conference calls”.
Assim como para a maioria dos americanos em nossa faixa etária, nosso
enclausuramento (quem vive confinado é gado, não eu) não é penoso,
particularmente para mim que adoro ficar em casa fazendo o que gosto. Faz-me
falta ir a um restaurante, à casa dos amigos ou aqui os receber. O resto não
passa de pequenos incômodos.
Na faixa dos 65 anos ou mais, quase todos já estão aposentados e tem
condições mínimas, por isso mesmo, de sobreviver sem o trabalho. Há os que,
embora aposentados, precisam complementar a receita trabalhando fora.
Entretanto, para os que estão na faixa de risco, o importante é sobreviver.
Contas que não podem ser atendidas com a aposentadoria ficam para depois porque
não estamos vivendo tempos normais e credores sabem das dificuldades à frente
e, querendo ou não, vão ter que ser pacientes com os seus devedores. Tudo
depois se resolverá.
Dito isso, vamos ao que interessa. É sensato emparedar, desligar, fazer o
lockdown de toda atividade econômica por tempo superior a duas ou três semanas?
Ontem assisti a entrevista de dois ícones da gastronomia americana, os
chefes Wolfgang Puck e Keller. Wolfgang Puck chamou atenção para o fato de o
setor ser o maior empregador privado dos Estados Unidos com o número de 15
milhões e 600 mil pessoas. Esse setor agrega bem mais de um trilhão de dólares
à economia americana. Está quase que completamente paralisado. Os inúmeros
outros setores estão na mesma situação.
No meio de mais de uma centena de milhões, fiquemos num simples caso, que
também se conta pelos milhões. Um garçom, pelo fechamento do restaurante, foi
para casa com o pagamento da semana trabalhada no bolso. De ordinário o que um
trabalhador desse ganha vai, como se diz no interior da Bahia, da mão para a
boca sem passar sequer pelo bolso.
De que vai viver esse cidadão?
Um desavisado, ignorante das coisas e das leis da Economia, há de dizer
que o governo proverá. Ledo engano, amigo, nenhum governo tem recursos para
gastar com as emergências de uma epidemia e sustentar todas ou quase todas
pessoas que estão paradas. Por sinal, breve os cofres públicos estarão vazios
pelo fato de não haver impostos a pagar, como consequência da paralização das
atividades econômicas, ou porque, quem tiver imposto a pagar, vai reter no todo
ou em parte o valor pelo natural instinto de primeiro atender às necessidades
da própria sobrevivência. Abril vem aí, o imposto de renda será declarado e
quase ninguém terá condições de recolher o valor devido aos cofres públicos. O
Estado ficará de chapéu nas mãos.
Isso é uma verdade tão cediça que não demanda maiores exemplos ou
explicações. Se alguém acha que não será assim, traga seus argumentos que terei
o maior prazer em analisá-los.
Alguém, já a esta altura, há de me indagar qual é a solução.
Não sei e ninguém sabe, mas uma coisa é certa: como está é insustentável
e só fará dramatizar uma situação que se apresenta como um caso médico, mas com
explosivo potencial de se transformar, pela paralização das atividades, numa
hecatombe econômica.
Parece-me sensato que os esforços não só do governo, mas também da
sociedade como um todo se devem dirigir aos verdadeiramente vulneráveis, ou
seja, aos idosos e aos de saúde debilitada. Isso fará com que as medidas
econômicas saiam do círculo do 100% da população para os limites dos 10 a 15%
dos vulneráveis.
Há sempre o mau caráter que brandirá a chantagem moral (moral blackmail)
com o argumento falacioso de que salvar um velhinho sequer já vale o desastre
que se desenha.
Esse tipo de gente, ordinariamente movida por impulsos e interesses que
não cabe ora aqui discutir, não merece a menor atenção num momento tão grave
como este.
Bem sei que será praticamente impossível isolar todos os 10 a 15%
vulneráveis, entretanto, isso será possível fazer com a grande maioria
permanecendo em casa. Os leitos hospitalares, na medida do possível, atenderão
àqueles, dessa faixa, atingidos pelos vírus.
Também bem sei que muitos vão morrer. Sei e todo mundo intelectualmente
honesto sabe que sempre haverá, em qualquer hipótese que se apresente, numa
tragédia como essa, um preço a pagar.
Poderia, sabendo que as pessoas de ordinário têm bom senso, parar por
aqui. Todavia, se parasse, ficaria no ar o que Bolsonaro e Trump têm a ver com
tudo isso.
Outros, desatentos das sutilezas dos significados alegóricos da
linguagem, diriam que Bolsonaro e Trump se emparedaram para afastar o risco de
serem contagiados.
Não. Não se trata disso. Tanto Trump como Bolsonaro, a exemplo de muitos
outros chefes de Estado, estão bravamente na linha de frente, expondo a própria
saúde, eis que estão na faixa etária de alto risco, principalmente o mais velho
Trump, para lutar bravamente contra essa adversidade.
A tentativa de emparederar Trump, vem de seus adversários políticos
empedernidos, principalmente da manjadíssima turma da esquerda, usando
argumentos falaciosos, completamente divorciados da realidade dos fatos, às vezes
tolos, aproveitando-se de uma tragédia nacional, para obter, como sempre,
dividendos políticos. Isso, sem tirar nem pôr, se repete no Brasil contra
Bolsonaro.
A economia dos Estados Unidos que ia bem, dando quase que por garantida a
reeleição de Trump, assim como a economia brasileira que já começava a se mover
para cima, entrarão, por força da paralização econômica, por um tempo difícil
de se prever, em recessão, ou, até, se as atividades não forem logo retomadas,
em depressão, gerando uma coorte de miséria que a todos atingirá.
Trump, ontem, sempre atento ao conjunto dos problemas, que não é só
epidemiológico, já sinalizou que as atividades deverão ser plenamente
reativadas até o dia 12 de abril.
O Brasil, por ser, em todos aspectos, mais vulnerável que os Estados
Unidos, acho que deveria voltar a trabalhar um pouco antes.
Considero que Bolsonaro está certo. Sua visão de chefe de Estado deve
focar além do espaço focado por uma restrita visão médica.
Em qualquer das hipóteses ele deverá perder politicamente. Se determinar
a volta ao trabalho, os mortos serão levados à sua conta; se perseverar na
paralização das atividades, o desastre econômico lhe será debitado.
Para finalizar, quero realçar que eminentes especialistas, das mais
diversas escolas médicas, têm endossado o que acima foi dito pelos dois médicos
citados, tanto o médico repórter da Rede Globo, como o médico petista que, por
descuido político ou pela responsabilidade de governador, tirou o chapéu de
político e colocou o chapéu de profissional da medicina.
Por aqui me precavendo, desejo a todos muita precaução, muita sorte, um
bom dia, e saúde.
Título e Texto: Pedro
Frederico Caldas, 25-3-2020
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