Meu caro Jim,
Segue, anexo, artigo atualíssimo sobre a Amazônia e seus
mitos. Bem que o rei da Noruega, que deu um esporro em Temer (acho que todos já se esqueceram desse episódio), poderia ser substituído pelo Macron, que, pela
diferença de idade, parece ter se casado com a mãe (complexo de Édipo?).
Um abraço
Pedro Frederico Caldas
Somos sempre aptos à gentileza para com as pessoas que não nos
interessam.
Oscar Wilde
Tudo que ilude, encanta.
Platão
Ponham, por especial obséquio,
um mapa da América do Sul em cima da mesa. Dentro do conjunto da América do
Sul, contemplem com atenção o mapa do Brasil. Olharam com atenção? Se não, deem
outra olhada. Bem, vamos chegar a uma conclusão juntos.
O Brasil tem a forma
geométrica de um maciço retangular que corre de Noroeste para Sudeste. Um dos
países do mundo que tem a forma mais regular. O que destoa dessa forma é aquela
perninha pendurada a Sudeste, do Rio de Janeiro para baixo. Se fizermos a poda
dessa perninha, fica só o grande retângulo maciço. Vocês, com a afoiteza de
sempre, hão de perguntar e daí, cara, vai começar a conversinha fiada?
Hum... às vezes sim, às vezes
não. É justamente esse pedacinho insignificante que produz oitenta por cento da
riqueza nacional. Tem mais. Como o resto não produz o suficiente para sequer
existir, recursos são drenados às mãos cheias daquela perninha para sustentar o
resto do País. O restão fica como aquele filho que nunca toma tenência. Não
estuda, não trabalha, e tenta passar o resto da vida explorando os coitados dos
pais. Ensaiei esse tema em texto de 21 de abril, que pode ser lido dentre os já
publicados, intitulado “OS ORIXÁS, MÃE MENININHA DO GANTOIS E SÃO PAULO PROVEDOR”. Poderíamos
acrescentar parte do Espírito Santo e o sul de Minas à tal perninha e aduzir
que o Centro Oeste é grande produtor agropecuário. O problema é até quando essa
situação pode ser tolerada pela parte produtiva do país?
Esse quadro pode ficar pior. A
coisa fica péssima mesmo quando se chega àquele Norte imenso que se chama
Amazônia, mais de um terço da área do Brasil.* Vai se construir uma grande
estrada por lá (tudo lá tem que ser grande), drena-se mais recursos da perninha
pequena para ligar nada a coisa nenhuma, com quase nula repercussão econômica.
Pegam-se recursos escassos para malbaratar em áreas que não vale a pena. E as
indústrias de Manaus? Não são indústrias, são sorvedouros de subsídios para
concorrer com as indústrias que pagam... os subsídios.
Você é do Norte, mora na
região amazônica? Se avexe, não; você não tem culpa, você também é vítima.
Tivesse sorte, poderia ter nascido e vivido no Sul, no meio de algo que se pode
chamar de civilizado. Nem precisa dizer, pois sei que aqui e ali, fora do Sul
do Brasil, há ilhas de civilização, como alguns bairros de algumas capitais, ou
lugares muito bonitinhos e muito aprazíveis do interior, principalmente no
litoral. Sei que você está indignado. Ninguém quer fazer parte do problema,
todos querem ser a solução. Mas não adianta ameaçar vir remando sua piroga até
aqui para me dar umas porradas. É melhor conversarmos. Dizer que felicidade
cabe em qualquer cantinho não adianta, não estamos falando de realizações
individuais, estamos tratando de todo um país.
Ditos todos esses desaforos,
que a verdade às vezes assume esses aspectos, pois há coisas sabidas que não
devem ser ditas, faço um intervalo para me banhar nesse grande rio da cultura e
da ignorância chamado de redes sociais. Você poderá, por exemplo, banhar-se nas
águas do Google, essa desgraça formidável criada pelos desgraçados capitalistas
americanos. Mãeeee(!), quando se usou a pólvora em batalha pela primeira vez?
Deixa de ser tolo, menino, procura no Google! E a raiz quadrada de 937? Procura
nessa peste de Google, menino, não enche o saco, ora bolas!
O que eu quero dizer é que a
internet e as brilhantes ideias materializadas em torno dela geraram uma rede
de informação e comunicação formidável. Fenômeno novo. Há pouco mais de uma
geração, aí pelos Anos Setenta, sequer se suspeitava pudesse um dia vir a
existir. E a pensar que tudo só está exatamente no começo. Mas também nela há
uma espécie de sambódromo eletrônico. Ai você lê que “a Amazônia é o pulmão do
mundo”; que “o Brasil é muito rico porque a Amazônia tem vinte por cento da água
doce do mundo”; que “a biodiversidade da Amazônia fará do Brasil a maior
potência econômica mundial”; que... vá acrescentando o que sua imaginação
puder.
O pior nem é isso. De peito
inchado de ufanismo proclamamos que devemos preservar a floresta para o futuro
da humanidade. Ficamos também orgulhosos porque Temer tomou um esporro de um
mentolado rei da Noruega. Quanto orgulho! Nosso presidente tomou um justo e
merecido esporro de sua majestade, o rei de araque! Onde já se viu uma coisa
dessa, o rei querendo salvar a Amazônia e o Brasil querendo desmatar.
Para que este texto não fique
por demais extenso, tenho que queimar etapas. Mas voltarei ao tema, quantas
vezes necessário seja.
Sempre me considerei um
ambientalista, mas nunca cai no paganismo de substituir Deus pela Mãe Terra
(Pachamama). Filósofos e pensadores modernos muito atilados começam a chamar
atenção para esse fenômeno. Um grande número de pessoas, ainda que sedizentes
crentes, não têm mais convicção religiosa. Como é muito difícil viver sem
religião, caíram numa espécie de paganismo, passaram a adorar a natureza. Os
comunistas colocaram o Estado no lugar de Deus. Derreado o comunismo, os povos
antes dominados por essa estranha doutrina voltaram a entulhar as igrejas, a fé
renasceu. Já essa nova espécie de paganismo é encontradiça entre os jovens, mas
eles, lógico, nem de longe percebem tal fenômeno. Ainda está pouco estudado,
embora já bastante observado.
Nos anos oitenta, começou um
ciclo muito prolongado de seca na região cacaueira. Como sempre gostei muito de
estudar geografia e clima, meu interesse foi-se aguçando. Nesse período,
assisti uma palestra maravilhosa proferida pelo professor Paulo de Tarso Alvim,
membro da Academia Brasileira de Ciências, cientista da área de fisiologia vegetal,
mas de amplos conhecimentos em outras áreas, inclusive em clima. O título da
palestra foi Meio Ambiente. Homem muito arguto, começou dizendo que meio
ambiente era um pleonasmo, pois meio era ambiente e ambiente era meio. Falou
sobre o ciclo de seca que então vivíamos, a influência do El Niño, da La Niña,
enfim, falou sobre clima e sobre a Amazônia. Didaticamente explicou que a chuva
nunca cai onde se forma. Disse que o clima não muda. Transcorrem milhares e
milhares ou milhões de anos para haver uma mudança de clima. Deu toda uma
explicação científica sobre o porquê. Depois falou sobre a lenda de que a
Amazônia era o “Pulmão do Mundo”. Disse
que leu um artigo de um colega fazendo essa afirmação. Mais que depressa
escreveu ao colega perguntando qual tinha sido a fonte para tal afirmativa. O
colega respondeu que lera num artigo de um cientista alemão de cujo nome não se
recordava. Com sua verve, disse que, nos meios científicos, quando se queria
dar ares de coisa séria a uma bobagem sempre se atribui a um cientista alemão.
Creio que os amigos Carlinhos Macedo e Lício Fontes estavam presentes. A
palestra foi feita no âmbito do Rotary Clube de Itabuna.
Anos depois, fui ao Chile. Ao
retornar, comprei no aeroporto um livro escrito por um cientista peruano sobre
a Amazônia. Não conseguia parar de ler. Quando cheguei ao Brasil, o livro já
estava lido. Tudo o que Paulo Alvim dissera na palestra – e muito mais -,
estava lá escrito, principalmente sobre a região Amazônica, sob o crivo de
farta documentação. Daí em diante não parei mais de ler sobre clima. Sobre
aquecimento global (global warming), afora muitos artigos, já li vários livros
escritos por cientista de primeira, dos quais destaco Climate Change – The
Facts, The Climate Wars e Human Causes Global Warming, além de ser leitor
assíduo de alguns blogs científicos, principalmente do respeitadíssimo Roy
Spencer. Assim, estou relativamente bem informado. Em função disso, sinto
alguma diversão quando leio as bobagens propagadas pela imprensa brasileira,
principalmente pela Globo, embora essa rede já esteja mudando o tom da
conversa. Al Gore, por exemplo, tão em voga entre os ecoalarmistas brasileiros,
disse, bem lá atrás, que em 2014 a Florida estaria embaixo d´água. Fico aqui
pensando que eu deveria estar saindo de barco do décimo segundo andar para
fazer compra em algum supermercado flutuante. Já pensaram que maravilha seria
pescar um mahi-mahi de minha varanda! Grande Al Gore!
Mas, vamos ao que interessa. A
Amazônia não é nem nunca foi o “pulmão do mundo”. Essa região, como dizem os
cientistas, não passa de ambiente em “clímax ecológico”, vale dizer, consome
todo ou quase todo oxigênio por ela mesma produzido. É como uma pessoa de
parcos recursos, consome o que produz, nada ou quase nada restando para
investir. Produz oxigênio e sequestra gás carbônico, para, ao depois, emanar o
gás carbônico e sequestrar o oxigênio, numa troca de soma zero. Trata-se de uma
floresta velha, em clímax ecológico. Os reflorestamentos, tão criticados por
ecologistas equivocados, esses, sim, produzem mais oxigênio do que consomem,
por formarem florestas novas. Representam um balanço positivo para a natureza.
E o desmatamento da Amazônia?
O que fazer? Imaginem se aquela perninha do Sul fosse uma floresta como a
Amazônica; imaginem o Sul de Minas para baixo todo coberto por florestas, até
os pampas gaúchos. Que seria do Brasil? Imaginem os Estados Unidos e toda a
Europa florestados. Nunca se esqueçam que já foram assim, iguaizinhos à
Amazônia. O que seria do mundo?
Meus amigos, devemos lutar por
água limpa, ar limpo, rios e mares não poluídos, que isso sim é importante.
Vejam quão maravilhosas foram as transformações que o homem fez no mundo. Deus
e o mundo viaja a Paris, Nova York, Rio de Janeiro, Londres, São Petersburgo.
As pessoas pegam um jato, jantam no avião, dormem e acordam para tomar café em
Miami ou New York! Que Maravilha! Cortam os Estados Unidos de carro, por
autoestradas maravilhosas, por linhas férreas intermináveis, canais lindos. De
avião veem, lá embaixo, plantios modernos parecendo tabuleiro de xadrez.
Reportam em fotos, publicações no Instagram, Facebook, e e-mail as maravilhas
do mundo. Tudo acrescido à natureza por esse animal maravilhoso chamado homem.
É verdade que muitas
atividades conseguem degradar a natureza. Mas nada que não possa ser reparado.
Aí estão, já revitalizados, o Tâmisa, o Sena e outros rios que cortam grandes
centros urbanos. Centenas de canais cortando Fort Lauderdale e o Sul da Flórida,
percorridos por centenas de milhares de barcos (na Flórida há 600 mil!) e,
ainda assim, as águas permanecem puras e cristalinas. Na verdade, a degradação
do ambiente está em países pobres, sem consciência ambiental e sem dinheiro
para melhorar o ambiente.
É trágico e paradoxal ver
jovens que moram em lugares onde os esgotos não são tratados, onde a água não é
tratada, onde o lixo se acumula nas ruas, tudo pela ação humana, bradando nas
redes sociais contra o “Aquecimento Global”.
Bom, e os tais vinte por cento
da água doce do mundo proporcionado pelo Amazonas e seus afluentes, não é uma
riqueza? Não, não é. Toda essa água é despejada praticamente sem nenhum
proveito no Oceano Atlântico. O maior desperdício de água doce do mundo. Se
nossa orografia se assemelhasse à americana, isso não aconteceria. Sabe as
montanhas que começam no Sul da Bahia e correm até o Rio Grande do Sul, perto
do Uruguai? Se esse conjunto de serras e montanhas tivesse direção inversa, direção
Norte, como acontece com os Appalachian/Allegheny Mountains, na costa Leste dos
Estados Unidos, a Bacia Amazônica encontraria esse obstáculo no Leste, ás águas
correriam pelo centro do Brasil e iriam desaguar pelas bandas do Rio Grande do
Sul, junto com o São Francisco e todos os rios do trajeto. Ai, sim, esse rio
teria a importância do rio Mississippi, o Brasil teria uma vastidão navegável e
nossa riqueza seria muito maior.
Mas não podemos mudar essa
orografia adversa. Então, o que fazer em termos práticos. Muito simples,
podemos derrubar a mata amazônica, de forma planejada, onde os solos fossem
propícios à agricultura e à pecuária. Façamos que a Amazônia seja o mais
produtiva possível. Conservemos, todavia, a floresta nos solos arenosos.
Mas isso não faria parar de
chover na região? Bom, melhor estudar princípios básicos sobre clima para não
repetir coisas que cientificamente não fazem sentido. Nunca se esqueça: uma
região é deserta porque não chove, assim como uma região tem floresta porque chove.
Tirada a mata do Sul, continuou a chover normalmente no Sul. A chuva não é
causada pela mata, a mata é que é causada pela chuva. Se fosse possível plantar
e irrigar todo o deserto de Atacama, no Chile, e manter as árvores por
irrigação, tudo ficaria um verde lindo, mas lá continuaria sem chover. As áreas
desérticas plantadas em Israel, graças à irrigação, continuam desérticas.
Já escrevi muito. Prometo que
se houver comentários e eu sentir que algo mais precisa ser explicado ou mais
bem esclarecido, como diria Temer, fá-lo-ei.
- Calma lá, my friend, não
atiça fogo e sai de fininho, não, tá pensando o quê? E o rei da Noruega, o tal rei de araque, com
fica nisso?
- Okay, procurem na Amazônia o
cacho mais viçoso que houver; retirem desse cacho a maior e mais viçosa de
todas e mandem para ele, com os nossos cumprimentos.
Um bom fim de semana para
todos.
*Não confundir a Amazônia
legal, criada com o fito de ampliar benefícios e renúncias fiscais, com a
Amazônia verdadeira.
Título e Texto: Pedro Frederico
Caldas, 6-7-2017
Colunas anteriores:
“A Petrobrás é do povo brasileiro” e outras bobagens
José Manuel
ResponderExcluir@JosManu25681760
Excelente, claro e atualíssimo texto sobre a Amazônia.
Parabéns ao escritor e revista Cão que fuma.
Sei não... (ou sei?) Tenho a impressão que Jair Bolsonaro "aumentou" a sua popularidade.
ResponderExcluirMais de 90% do oxigênio da terra é produzido pelos oceanos.
ResponderExcluirOs plânctons produzem o tal oxigênio que nos ajuda a sobreviver e ao mesmo tempo oxida nossas células fazendo-nos envelhecer.
O maior devorador de fitoplânctons são as baleias e o tubarão martelo, nem por isso sugiro suas mortes.
@DineshDSouza
ResponderExcluirNothing unusual is happening with the Amazon. So if you want to stop eating meat or driving your SUV or using air conditioning, go right ahead. Just realize you are not helping the planet or anyone else. You are just doing it to feel good about yourself for no valid reason
Meu Caro Jim Pereira,
ResponderExcluirO "Fale Conosco" não está permitindo acessos.
Como faço para submeter um artigo que estou escrevendo sobre as queimadas na Amazônia, para a sua apreciação e publicação? Neste artigo, ofereço uma perspectiva que ainda não vi na imprensa ou na internet.
Um abraço forte,
Marcus Kerr (ex-comissário da Pioneira)
caoquefuma@gmail.com
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